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Por que tantas mulheres hétero assistem pornô lésbico?

Segundo especialistas, a cada três usuários de pornografia, pelo menos um é mulher.

Por Catherine Pearson (colaboradora)
Atualizado em 5 jul 2022, 21h47 - Publicado em 29 jul 2015, 09h25

Ao longo dos anos, Karen, 35, decidiu do que mais gosta quando se trata de pornografia online. Três ou quatro vezes por semana, ela procura novos vídeos de suas categorias prediletas – Seios grandes. Esguicho. Lésbicas.

Quando falou com o The Huffington Post, Karen tinha assistido recentemente um vídeo que atendia aos três critérios: duas mulheres que não tinham “peitos muito empinados, de mentira”, mas sim pareciam reais, como se pudessem ser mães. Elas estavam na cama, se beijando e se tocando.

“Foi legal”, disse Karen*. “Sensual”.

“Prefiro o que me dá tesão rápido”, continuou ela, “que é menina com menina”.

Mas Karen é hétero.

Existem poucos dados confiáveis sobre quantas mulheres que se identificam como hétero assistem pornografia lésbica, mas as informações disponíveis sugerem que Karen não está sozinha, pelo contrário. Um relatório de 2014 do site de pornô gratuito Pornhub, em colaboração com o Buzzfeed, revelou que “lésbicas” era, de longe, a categoria mais visitada pelas usuárias mulheres, assim como o termo mais usado nas buscas. Apesar de o levantamento se basear em dados demográficos analíticos do Google, e portanto não capturar a orientação sexual dos usuários, a popularidade avassaladora desses termos indica que muitas mulheres gostam de pornô homossexual. Outra evidência é o crescimento nas buscas por “lésbica seduz menina hétero”, que aumentaram 328% entre 2013 e 2014,segundo os dados internos do Pornhub.

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Reprodução Reprodução

Os especialistas em sexo concordam. “A estatística que se comenta é que um em cada três usuários de pornografia são mulheres”, diz a terapeuta sexual Kimberly Resnick Anderson. “Apesar de não termos como saber qual a porcentagem dessas mulheres são hétero, os números são altos demais para que sejam somente mulheres gays. Mulheres hétero estão consumindo pornô lésbico”.

A indústria parece estar notando. O Pornhub estima que 7% dos seus vídeos estão na categoria lésbicas, a mais popular de todas, disse por email ao HuffPost Corey Price, vice-presidente do site.

“Não queremos especular como esse interesse [das mulheres hétero] vem mudando e moldando a indústria”, escreve Price, “mas notamos que nossos parceiros de conteúdo vêm subindo cada vez mais conteúdo lésbico”.

Para muitas mulheres, o pornô homossexual oferece uma oportunidade de imaginar como seria estar com outra mulheres, mesmo que elas se considerem estritamente heterossexuais, no extremo da escala Kinsey. Para elas, a pornografia lésbica – que para o propósito deste artigo simplesmente se refere a filmes que mostram duas ou mais mulheres, não a vídeos que sejam necessariamente dirigidos a mulheres lésbicas ou bissexuais ou tenham a participação de atrizes que se identificam como gays – é puramente uma fantasia, não um desejo de torná-la realidade.

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“A internet tem esse fator desinibidor”, explica Resnick Anderson. “As pessoas se sentem livres para explorar coisas que não gostariam necessariamente de fazer na vida real, mas que podem ser atraentes e educativas”, completou.

Vickie, 46, diz que esse é o seu caso. Ela nunca se relacionou com mulheres na vida real nem pensou muito no assunto, mas considera o pornô lésbico seu tipo de vídeo favorito. Ela assiste vídeos lésbicos três ou quatro vezes por mês com o marido. Vickie procura um tipo físico específico – mulheres magras ou médias, de cabelo comprido. “Gosto de unhas”, disse ela.

Mas, na vida real, Vickie nunca encontrou uma mulher por quem tenha sentido atração sexual. “O pornô lésbico é baseado em fantasia”, disse ela.

Para outras mulheres, o apelo é um pouco mais complicado, permitindo que elas expressem uma parte da identidade sexual que poderia ficar reprimida.

Karen, por exemplo, questionou sua própria sexualidade em vários pontos de sua vida, particularmente quando tinha vinte e poucos anos. Agora ela se identifica como hétero, mas diz que estaria aberta a experimentar o sexo com uma mulher – se não fosse tímida demais. O pornô a ajuda.”Nunca experimentei, mas penso no assunto”, diz Karen. “Mas acho que sou tão nervosa e ansiosa que provavelmente nunca faria de verdade”.

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Mas Resnick Anderson diz que muito do apelo do pornô tem pouco a ver com questões potencialmente complexas de fantasia sexual e fluidez e mais com o simples fato de que muito do pornô lésbico mostra mais do ato que realmente excita as mulheres.

Em outras palavras, sexo oral.

Leia mais: 43% dos homens dizem não gostar de fazer sexo oral em mulheres

“Entre 70% a 80% das mulheres não conseguem atingir o orgasmo apenas com a penetração, portanto a estimulação oral é mais erótica para elas”, diz Resnick Anderson. “[Os vídeos lésbicos] também tendem a ter mais preliminares. No pornô hétero, em geral vai-se direto para a f**a ou para a cena da ejaculação. O pornô lésbico se concentra em estimulação dos seios. Tende a ser mais gentil e mais íntimo”.

“Gosto de algumas coisas”, disse Vickie. “Basicamente sexo oral e brinquedos”.

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Getty Images Getty Images

O pornô hétero que ela assiste tende a se concentrar na penetração e dá a ideia de que, quando os homens fazem sexo oral nas mulheres, não estão curtindo ou não têm muita habilidade.

“Para mim, as mulheres sabem o que as mulheres querem”, disse ela. Em 90% das vezes, ela se imagina recebendo o sexo oral das cenas que assiste.

Hillary, 50, ecoa o sentimento e diz que já usou pornô lésbico como uma espécie de ferramenta educativa para seu noivo.

“Acho que os caras tendem a pensar: ‘Se eu usar meu dedo ou o pênis, ela vai curtir e ter orgasmo'”, diz Hillary, rindo. “Eu consigo mostrar que ficar bombando para dentro e para fora não funciona, que tem outras partes do corpo tão excitantes quanto a vagina. Não que ele seja inepto, mas assistimos juntos, e digo para ele: ‘Tocar meus seios assim seria legal'”.

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Se o pornô hétero mostrasse mais o que as mulheres procuram – preliminares, sexo oral e mulheres que parecem estar tendo orgasmos reais, em vez de apenas gritar -, elas poderiam se interessar mais, dizem todas as entrevistadas.

“O foco principal do pornô hétero ou é o prazer do homem ou [dar] a impressão de que ele é um ‘mestre do amor'”, disse por email Sarah, 23, ao The Huffington Post. “Com as mulheres, os movimentos durante a masturbação mútua, ou o sexo oral, são muito menos velozes e furiosos”.

O pornô lésbico oferece a melhor aproximação do que ela procura na vida real: uma curtição genuína. Um parceiro habilidoso.

Em outras palavras, uma boa transa.

* Por motivos de privacidade, as mulheres dessa reportagem são identificadas apenas pelo primeiro nome.

 

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