SOS coração – conto de Amor e Sexo
Josiane e Guinão se conhecem num baile funk. O problema é que Guinão é traficante e comanda uma boca-de-fumo num morro carioca
Josi teve coragem e se declarou para Guinão
Foto: Getty Images
Aquele moço do filme Homens de Preto. Isso mesmo! Ele parecia o ator do filme Homens de Preto, o não-sei-o-que Smith. Ainda mais com aquele bigodinho fino. Eu estudava na 8a série e não tinha muitas experiências amorosas, mas sabia que ele poderia ser meu primeiro amor. Depois que o vi na saída da escola, numa noite de sexta-feira, com uns caras mal-encarados, me apaixonei. Desde então, o moreno estava sempre lá. Rodeado desses amigos, rindo e jogando conversa fora.
Ele não me notava. Mas com a ajuda das amigas, comecei a emitir sinais de interesse. Passei a caminhar próxima à rodinha dele até que, finalmente, o gato me viu. Não sei o que mais chamou sua atenção: se foi o batom vermelho que usei naquele dia ou a camiseta justa que tinha vestido. Ele sorriu. Vi um dente dourado brilhando bem na frente. Achei graça. O moreno comentou algo com os outros rapazes e todos se viraram para mim. Fiquei envergonhada.
“Vamos, Josiane, que o gostoso já está no papo”, disse uma amiga me apressando para ir para casa, tarefa perigosa para aquela hora no meu pedaço. Quando baixava a polícia, era tiro para todo lado. O fogo cruzado despontava das bocas de tráfico e zunia nas nossas janelas, madrugada adentro. No dia seguinte, tudo servia de cenário para reportagem desses programas de TV cheios de sangue. “A comida tá no banho-maria”, gritou minha avó, logo que me viu entrar. Como eu era órfã de mãe e desconhecia meu pai – sabe-lá- Deus-por-onde-andava -, vivia no barraco da vó Júlia.
Chegou o sábado à noite, dia de ir com as amigas para o baile funk do Fundão. Adorava dançar. Sabia quase todas as músicas de cor. O salão estava lotado e fazia um calor danado lá dentro. “É o Bonde que veio agitar, quero ver as tchutchucas dançar!”, gritava o MC no palco. Enquanto bebia um refrigerante, notei que era observada. De longe, o moreno da escola me secava da cabeça aos pés.
Minha colega Cida me cutucou. “Ele veio… ele veio!” Sorri, mas não dei bandeira. O gato estava sem camisa e com uma calça bem larga com parte da cueca branca à mostra. Bem gostosão. Aproximou-se e começou a dançar um funk comigo. “Qual é o nome da princesa?”, perguntou. “Josiane, e o seu?” “De batismo é Wagner, mas sou conhecido como Guinão”, respondeu. Dançamos juntos até que um sujeito se aproximou e cochichou algo no ouvido dele. “Gata, vou indo nessa. Vejo você na escola”, disse, me roubando um selinho.
Enquanto o via partir, um vizinho meu apareceu: “Aí, Josi, se liga que esse cara é dono de uma boca ali no morro do Vadinho. Ele vende o bagulho lá na porta da tua escola, se liga!” Fiquei pasma. “Namorar um traficante? Nem pensar! Quero um homem decente para me amar e criar meus filhos”, pensei no caminho de casa. Segunda à noite, na saída da escola, lá estava o Wagner. Ele me viu e fez um sinal para que me aproximasse. Fiquei em dúvida se o ignorava ou se ia a seu encontro. A segunda opção falou mais alto.
Logo que me aproximei, os outros rapazes se afastaram. “Tu tá muito linda, morena”, falou, com um ar sedutor. Enquanto dávamos nosso primeiro beijo de língua, minha cabeça girava. Queria achar forças para largá-lo e ir embora. Mas meu coração não deixava, e eu pronunciei baixinho um “Eu te amo”. Foi ali que tudo começou.