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Pesquisa revela que mulheres já encaram melhor o envelhecimento. Será?

Enquanto o envelhecimento for algo a se combater, encarar rugas, flacidez e cabelos brancos não vai ser fácil pra ninguém

Por Tatiana Schibuola
Atualizado em 28 out 2016, 13h06 - Publicado em 11 Maio 2016, 13h49

 

Na última semana, as jornalistas de CLAUDIA (eu, inclusive) estiveram presentes em ao menos três eventos para o lançamento de produtos para a pele de efeito anti-idade. Em todos eles, nos impressionamos com a sofisticação das instalações dos institutos de pesquisas, a quantidade de profissionais envolvidos, as parcerias com as mais conceituadas universidades de todo o mundo e o enorme investimento em investigações científicas capazes de revelar conceitos e matérias-primas únicas e eficazes na prevenção do envelhecimento da pele. Entre eles, compostos botânicos presentes em raríssimas flores, extrato de pérolas de uma região específica do Oceano Pacífico ou até mesmo o pó de ouro, ingrediente que leva o preço de um creme para o rosto de uma marca suíça para além dos quatro dígitos – multiplique US$ 500 pela cotação do dia em reais.

Tamanha aplicação no desenvolvimento desse tipo de produto é absolutamente justificável. O mercado de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos está entre os mais promissores do Brasil: temos o terceiro mercado consumidor do setor de beleza do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Em 2014, auge dessa indústria, o faturamento representou R$ 101 bilhões, cerca de 1,8% do PIB nascional. Cresceu ininterruptamente de 1991 a 2014. (Em 2015, apresentou os primeiros sinais de que não passaria ileso pela crise, com retração de 6%.)   

Outro fator de peso e que diz respeito exatamente aos produtos anti-idade está no fato de que, em todo o mundo, estamos vivendo mais. Muito mais. No Brasil, onde é considerado idoso quem tem mais de 60 anos, a expectativa média de vida chega aos 74,5 anos. Nos Estados Unidos, a 79,1 anos. No Japão, atinge os 83,5 anos! Em 2050, haverá no mundo um idoso entre cada cinco habitantes. O fenômeno que, antes, dizia respeito à saída da vida produtiva pela aposentaria ganha novos contornos. O censo brasileiro de 2000 verificou que 62,4% dos idosos eram os responsáveis financeiros em suas residências. Em outras palavras: os velhos podem, sim, ser produtivos. E têm dinheiro pra gastar. 

Mas eis que o mercado não lhes reserva grande variedade de itens de consumo. Em Velho é Lindo (Editora Civilização Brasileira), o livro mais recente da antropóloga Mirian Goldenberg, que compilou pesquisas e reflexões teóricas sobre o processo de envelhecimento, o primeiro capítulo é dedicado às considerações iniciais da autora. Ali, estão reunidas citações de entrevistadas que dizem coisas como: “Não posso usar os mesmos jeans das minhas alunas. (…) As opções para mulheres da minha idade são horrorosas.” Essa moça(?) tem apenas 41 anos. Ou: “Sempre usei biquíni e minissaia. Agora não posso mais?”, questionou uma arquiteta de 56 anos. Em uma sociedade que cultua o jovem e que, com a revolução digital, cria um muro que separa ainda mais novos e velhos (se você é um heavy user do SnapChat, tenho certeza de que não passou dos 28 anos) envelhecer caminha junto com o sentimento de inadequação. Qual é a roupa certa, qual a maquiagem certa, qual é a atitude certa, perguntam-se os mais velhos, se as campanhas publicitárias, os filmes e as novelas dificilmente trazem para o núcleo principal de seus roteiros gente que passou dos 40?

Joern Pollex/ Getty Images
Joern Pollex/ Getty Images ()

Pesquisa realizada sob encomenda pela Avon, a marca que detém quase 50% da fatia de mercado dos produtos anti-idade, obteve respostas digitais de cerca de 1000 mulheres entre 45 e 65 anos. O resultado foi apresentado na ocasião do lançamento de sua mais tecnológica novidade para o combate às rugas. O levantamento sugere que, diferentemente de gerações anteriores, essas mulheres aceitam melhor a passagem do tempo:

. 95,6% garantem não mentir a idade;

. 7 entre 10 se sentem bonitas e, entre elas, 34,7% acreditam que estão mais bonitas que há 10 anos!

. Mais: 67,5% acreditam que a mulher mais velha é mais valorizada pela sociedade que há dez anos.

. Mais da metade relacionam à atitude ousada e uma certa modernidade manter os cabelos brancos.

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Contraditoriamente, no entanto, estas mesmas mulheres elegem Bruna Lombardi, 63, e Luiza Brunet, 53, como exemplos do envelhecer bem. Ou seja, figuras em que a idade parece não ter surtido efeito: o rosto praticamente não exibe rugas, os cabelos não têm sinais de brancos aparentes, o corpo exibe tantas curvas quanto o de uma garota de 20 e poucos, contrariando o script estabelecido pelas temidas mudanças hormonais. Diante desse confuso cenário –– característico de uma fase de transição entre a difusão de novos conceitos e o que representam na prática –, os ditos produtos anti-idade evidentemente continuam a fazer todo o sentido. Bem como os procedimentos estéticos como os peelings, as injeções de Botox e as cirurgias plásticas, já realizados por 27% das entrevistadas na amostra.

Veja também: “Bruna Lombardi: Eu não sou bonita. Eu estou ficando.”

Mas, talvez, um dos dados mais reveladores, citado sem alarde no início da apresentação da pesquisa, diz respeito à atividade física. 60,8% das mulheres se exercitam com alguma regularidade. Ou sempre. Dessas, 70,3% se sentem bonitas, contra 14,8% do grupo sedentário ou que pratica atividade física raramente. Lá no livro de Miriam Goldemberg, a pesquisadora Mayara Lobato assina um capítulo chamado Corpo, envelhecimento e sociabilidade no bairro de Copacabana. Ao observar o comportamento ao redor de uma rede de vôlei de praia, constatou que a idade, ali, tinha pouco significado. Já a habilidade para o jogo… “A idade faz com que a pessoa seja mais lenta nos seus movimentos. (…) É muito relativo (…). Como eu falei, aquele de cabeça branca ali [aponta um homem de 70 anos] é um terror, um terror. Joga muito”, disse um entrevistado, de 53. Mais que rugas, talvez o drama da velhice esteja mais ligado ao declínio do corpo. Talvez esteja aí o efeito potente dos exercícios sobre a autoestima: ao garantir mobilidade, vitalidade e aquela sensação de poder que vêm das descargas de endorfina, podem surtir o efeito (ao menos o placebo) de dezenas de potes de creme.

Se a indústria cosmético-farmacêutica se esforça para que os sinais da idade cheguem de forma mais suave, seguimos nos acostumando à ideia de que vamos, sim, ficar velhos. E não o seremos por pouco tempo, conforme desenham as novas pirâmides demográficas. Com sorte, aprenderemos que, ao contrário do que dizia Simone de Beauvoir, a velhice não será capaz de nos desconectar de quem somos.

Enquanto isso, continuaremos a acompanhar com interesse as pesquisas científicas em torno dos “novos velhos”. A saber: um estudo da Escola de Medicina de San Diego, da Universidade da Califórnia, publicado em 2011 no Jornal Americano de Medicina apurou que, entre 806 mulheres idosas com parceiro fixo (média de 67 anos), a metade tinha mantido relações sexuais nas últimas quatro semanas. Entre elas, quase 70% chegavam ao orgasmo na maioria das vezes. Ou sempre.

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