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Não é mimimi: a gordofobia mata e é urgente falar sobre isso

Na mesa de cirurgia, Amanda Rodrigues tentou fugir do preconceito que sofria desde a infância. Mas acabou perdendo a vida aos 19 anos.

Por Júlia Warken
Atualizado em 20 jan 2020, 21h36 - Publicado em 2 fev 2017, 13h59

Se você digitar gordofobia nos dicionários Aurélio e Michaelis será informado de que esse verbete não consta no sistema. Se você iniciar uma conversa a respeito do quanto o bullying contra gordos é nocivo, possivelmente ouvirá que “o mundo está muito chato”. Também vai ouvir que, apesar de ser apelidado de rolha de poço no colégio, o Fulaninho X é hoje um advogado de muito sucesso, casado e com dois filhos. Absorve os xingamentos quem quer, ora bolas. E outra: para emagrecer basta força de vontade.

É muito mais fácil varrer essa questão para baixo do tapete do que encarar os fatos. É muito mais fácil continuar fazendo piadinhas ~inofensivas~, pois o mundo sempre foi assim. É muito fácil criticar a miss Canadá por estar ~acima do peso~. Afinal, esse discurso vexatório serve para validar a infelicidade que muitos sentem cada vez que pisam na acadêmia e a neurose em contar as calorias de tudo o que põem na boca. No pain no gain, certo? E dá-lhe #fitness no Instagram!

Acontece que, enquanto isso, pessoas estão morrendo. A Amanda Rodrigues, de 19 anos, morreu no último sábado (28), em Campos dos Goytacazes (RJ). Devido a complicações após uma cirurgia bariátrica (a.k.a. redução de estômago), ela teve embolia pulmonar e não resistiu. 

Através de um post feito no Facebook por sua irmã, Mayara Rodrigues, o Brasil está estarrecido com a história de Amanda. Já são quase 230 mil reações à publicação e mais de 66 mil compartilhamentos. “Amanda começou a sofrer preconceito à partir dos 7 anos. As crianças da sala dela não aceitavam a minha irmã porque ela era gordinha. Amanda não podia sentar na mesma mesa das meninas na hora do lanche, não podia ser do mesmo grupo nas brincadeiras na hora do parquinho e da educação física, e muito menos conviver junto na sala de aula”, desabafa Mayara.

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“Ah, mas ela foi vítima de negligência médica! Minha sobrinha fez bariátrica e está mais saudável do que nunca”, dirão alguns. Mas aí vai um toque: NÃO IMPORTA! O médico deve ser culpabilizado? Sem dúvida. Mas isso não anula a culpa de toda uma sociedade que dilacera cruelmente o amor-próprio de quem não se encaixa em determinados padrões.

“Esse sofrimento vai acabar, irmã” .“Eu vou vestir 38”.

Segundo Mayara, essas foram frases que Amanda disse a ela antes encarar o bisturi. E alguém duvida que foram mesmo? Todos nós conhecemos alguma Amanda. Todos nós já cochichamos sobre ela no colégio, ou pior: atacamos ela em alto e bom som. Todos nós sabemos que magra e gorda não são apenas antônimos. Um é elogio, o outro é xingamento.

Em Aracaju, duas amigas estão espalhando cartazes pelos provadores de roupa com mensagens de autoestima, para que as mulheres parem de odiar o reflexo que veem no espelho. Na PUC do Rio de Janeiro, há um Núcleo de Doenças da Beleza, só para estudar o grande leque de distúrbios causados pela imposição do padrão estético. Em Campos dos Goytacazes, uma adolescente morreu pensando que o sofrimento finalmente iria acabar.

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E o sofrimento de tantas outras continua latente. Porque mesmo sem constar no dicionário, a gordofobia está em todo o lugar. Seja no bullying descarado, seja na falsidade do “Ah, mas eu só estou preocupada com a sua saúde”, seja na silenciosa embalagem de cereal que estimula a famosa operação biquíni

“Ah, mas agora a pessoa não tem mais o direito de malhar e se alimentar bem?” Tem sim, amore! Seu corpo suas regras. O problema está no discurso vexatório e no desprezo sistemático aos corpos que não se encaixam em determinado padrão.

A gordofobia deprime, destrói e mata, e é absurdamente cruel continuar fingindo que não.

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