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Mais um filho e nova carreira: aos 54, Claudia Raia quer tudo e não tem medo de nada

Claudia Raia combate tabus e cria possibilidades para mulheres de sua geração. Destemida, ela cogita um novo capítulo na carreira e mais um filho

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
20 ago 2021, 09h00
A

brem-se as cortinas e a trama é retomada. A história foi interrompida no ápice, um divisor de águas. Mas, depois de um breve intervalo, os atores voltam à cena, cantam, dançam e se expandem em seus personagens até o fim da peça.

 

É o segundo ato e Claudia Raia simpatiza com ele. “Gosto de falar que estou no meu segundo ato, é a flor da idade. Em um musical, o segundo ato concentra os melhores números, depois vem o grand finale”, diz, usando sua paixão, o teatro, para ilustrar sua filosofia de vida.

Claudia Raia
Blusa, colete e calça, Isabel Marant; anel, Brennheisen (Pedrita Junckes/CLAUDIA)

O breve intervalo, no caso de Claudia, não foi opcional, mas forçado pela pandemia. Pela primeira vez em quase 40 anos, ela puxou o freio de mão e se viu com todos os projetos pausados. “Nunca tinha passado tanto tempo em casa ou respondido ‘Não sei’ para perguntas do trabalho. Ao mesmo tempo, olhei para mim mesma, me encantei ainda mais pelo meu marido, fiquei com a minha filha, que está indo fazer faculdade fora do país. Escrevi um livro!”, fala, citando Sempre Raia um Novo Dia (Harper Collins), livro de memórias escrito com Rosana Hermann.

“O Luiz Fernando Guimarães, meu amigo-irmão, fala: ‘50% da vida é a gente que faz, o resto ela se encarrega’. Eu estava tentando ter controle sobre os 100%, como se até minha vida pessoal tivesse roteiro”, reflete Claudia. Há 10 anos com seu companheiro (também de palco) Jarbas Homem de Mello, mãe de Enzo, 24 anos, e Sophia, 18, e com uma carreira fenomenal, Claudia divide a seguir os desejos para o grandioso segundo ato.

Claudia Raia
Kimono e saia, Neriage; brincos, Isa Bahia; pulseira, Wu Atelie (Pedrita Junckes/CLAUDIA)

Você sempre pareceu muito confortável consigo mesma e continua assim, mesmo trabalhando numa indústria que pode ser muito cruel com a imagem e compartilhando publicamente os desafios do corpo depois dos 50. É uma percepção de quem está de fora ou você realmente se sente assim?

Eu sempre fiz o que quis, acho que ter escolhido o que vivi e os passos da minha carreira me deixou confortável. Além disso, venho de uma família de mulheres feministas. Quando eu tinha 16 anos, fiz minha primeira Playboy.

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Minha mãe aceitou minha decisão e me emancipou – o Walter Clark virou meu tutor. Foi uma comoção quando a revista saiu. Minha mãe era dona de uma rede de academias de dança, tinha 10 filiais pelo interior de São Paulo.

Ela viu 90% dos alunos abandonarem as escolas. Eu fiquei culpadérrima de ter promovido aquilo. E ela me falou: “Se essa gente não entende sua arte, eu prefiro que elas não estejam aqui. Não tenho o que trocar com elas. Os 10% que ficaram me agradam mais”. Fui criada para ser destemida. Eu não tenho medo e não estou preocupada com o que os outros estão achando. Quem quiser que me dê a mão e venha junto.

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“Você já cuidou de filhos, marido, já colocou tudo na frente. Que horas é a sua vez? Se a sua vida não está boa, vá lutar por outra. Sempre acho melhor pular sem rede de proteção do que ficar parada”

 

 

Isso é muito bonito, ainda mais considerando que nós, mulheres, somos criadas com a companhia constante do medo.

Agradeço muito ter vindo do ventre da minha mãe. Ela me deu forças, me empoderou. Foi assim que reagi quando fui molestada, aos 13 anos. E quantas vezes entrei na sala de um CEO pedindo patrocínio – porque, além de ser atriz, sempre produzi meus espetáculos – e ele me cantou. Eu falei, pisei, virei as costas e bati a porta.

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Às vezes, eu paro para olhar todos os padrões a que somos submetidas e penso: que loucura é ser mulher! Por isso luto tanto pelo movimento ageless. Canto, danço e atuo aos 54 anos porque me cuidei muito.

Sempre malhei – e por saúde, não magreza ou beleza. Claro que não vou ter a mesma barriga ou cara dos 20 anos. Essa expectativa será frustrante. Existe beleza na maturidade. E tem mais uma coisa: falamos com as meninas de puberdade, menstruação, de gravidez, de outras questões femininas, mas ninguém prepara você pra maturidade e para a menopausa.

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Claudia Raia
Blazer, Inès de la Fressange; macacão, Aluf; brincos, Sauer (Pedrita Junckes/CLAUDIA)

Como foi a menopausa para você?

Entrei um pouco mais tarde, aos 52. Eu tive calores e conversei com meu médico, fizemos uma pequena reposição, porque não tenho histórico de doenças na família. Aos 45, consegui congelar óvulos, um verdadeiro milagre! Ouvi, nessa época, um termo que eu odeio: falência ovariana.

Parece que você morreu, que acabou. Jogam você num limbo e você renasce aos 80 anos, como uma vovó fofa, querida. São 40 anos em que a mulher não existe para a sociedade. Ela quer terminar um casamento? Não pode, já está casada há 30 anos e os filhos estão grandes. Quer transar com alguém? Nem pensar. Quer deixar o cabelo crescer? Não. Nem pode deixar de ser dentista pra virar boleira, profissão dos sonhos dela.

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É como se estivéssemos fadadas ao fracasso. Você é velha, não ovula, perdeu a utilidade de procriar. Isso está embutido na nossa mente desde cedo. Faço lives no Instagram, chamo dermatologistas, ginecologistas pra conversar sobre essa faixa etária porque as mulheres precisam entender que elas têm espaço, poder de decisão.

Na minha vida, resolvo eu! Não sou eu quem estou falando isso: 30% do consumo mundial é definido pelas pessoas 50+, é a economia prateada. É o poder de compra e de decisão nas nossas mãos. Você já cuidou de filhos, marido, família, já colocou tudo na frente.

Que horas é a sua vez? Quando você vai cuidar de si mesma? Se a sua vida não está boa, vai lutar por outra. Não tenha medo. Ficar sozinha não é fácil, recomeçar a vida mais velha e ficar solteira nessa idade não é fácil, mas ficar infeliz é pior. É mais cômodo, mas é pior. O medo paralisa. Sempre acho melhor pular sem rede de proteção do que ficar parada.

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Claudia Raia
Blazer, Ricardo Almeida; vestido e calça, Misci; mangas, Victor Hugo Mattos; colar, Sauer; anéis, Guá (mão direita) e acervo pessoal (Pedrita Junckes/CLAUDIA)

Você congelou óvulos e fala de ter um filho com o Jarbas. Encararia desde o primeiro dia do bebê de novo?

Tudo do zero. Eu tive duas gravidezes maravilhosas. Amamentei 11 meses só no peito e 1 ano e meio no total cada filho. Doei leite ainda. Acho fascinante ser mãe, um amor inexplicável. Mas quem não quer ter filhos tem todo o direito. Querendo muito já é desafiador, querendo mais ou menos é impossível.

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Por mim, teria 10 filhos. Claro que tenho recursos financeiros e ajuda. Porque sem isso é uma barra pesadíssima. Gosto da dedicação do dia a dia, de educar, plantar a sementinha, falar, repetir, ficar de olho. Esse trabalho não termina nunca.

Eu sou absolutamente responsável pelos meus filhos, eu os trouxe ao mundo. Aprendi isso com a minha mãe. Ela morreu aos 95 anos, lúcida, incrível. Aos 85, quis se mudar da casa da minha irmã para um apartamento com a cuidadora. E eu concordei, claro.

Ela me pediu um apartamento de três quartos e eu questionei. Ela respondeu: “Pra você e pra sua irmã”. Falei: “Mamãe, eu sou casada, moro em São Paulo, não faz sentido”. “Não importa”, ela me disse. “Se acontecer alguma coisa, vocês têm pra onde ir.” É uma coisa muito louca.

Quando minha mãe morreu, eu só pensava nisso: “Eu não tenho mais pra onde ir”. É como se estivesse solta no mundo. Mãe é uma referência muito importante. Eu começaria tudo de novo gerando, na minha barriga ou em outra, adotando.

Temos muitas formas de resolver isso e sou prática. Não tenho mais 30 anos. Se rolar, ok. Se não, vemos outro jeito. Falo muito disso com o Jarbas. Existe a vontade, mas somos maduros, não há cobrança. Ele sabe que eu vou ter que abrir mão de muita coisa, então respeita meu tempo.

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“Sou uma comunicadora. Gosto de gente, falo muito bem ao vivo e quero desenvolver isso. O Faustão me fala há 30 anos: ‘Você é a nova Hebe!’. Isso fica ecoando na minha cabeça”

 

 

Claudia Raia
Blusa, colete e calça, Isabel Marant; anel, Brennheisen (Pedrita Junckes/CLAUDIA)

A Sophia, sua caçula, se mudou para os Estados Unidos. Sentiu o ninho vazio?

Não é fácil, principalmente porque construí uma relação linda com meus filhos. Eles são meus companheiros, meus maiores incentivadores. E duas pessoas lindas. A Sophia é feminista, forte, ela se envolve e se emociona. O Enzo é um anjo da guarda, vive pensando nos outros, uma alma absurda.

Mas eu não paralisei minha vida pelos meus filhos nunca. Sempre soube que eles iam tomar as rédeas da vida deles em algum momento. Claro que se eles falarem “Mãe”, eu já tô lá, eles são a prioridade. Só que não é uma relação em que eu espero em nada em troca. A maternidade não pode ser assim, se não a conta não fecha.

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Claudia Raia
Kimono e saia, Neriage; brincos, Isa Bahia; pulseira, Wu Atelie (Pedrita Junckes/CLAUDIA)

Por muito tempo, atores preferiam estar ligados a uma emissora para que suas carreiras seguissem de forma mais suave. Isso mudou hoje, especialmente com o digital, os streamings. Você também encontrou nas suas redes uma nova forma de falar com o público. Como enxerga sua carreira no futuro?

Sou muito grata à TV Globo. Trabalho ininterruptamente há 37 anos na empresa. Isso se deve à qualidade do meu trabalho, ao meu profissionalismo e à rede que criei ali dentro. Nós crescemos juntos. Tive liberdade de recusar papéis que não queria e, quando estou no elenco, me dedico 100%, trabalho 20 horas.

Meu contrato vai até 2024, não sei qual é o meu futuro. Temos uma relação de amorosidade. Entendo também a transição importante da empresa, que está acontecendo no mundo todo, especialmente na área do entretenimento. É o impacto do streaming.

Ao mesmo tempo, sou uma mulher enorme, com muitos braços e sigo construindo meus caminhos. Meu segundo ato está indo para outro canto. Eu tenho uma coisa muito forte de comunicadora. Gosto de gente, falo muito bem ao vivo, isso eu quero desenvolver. O Faustão me fala há 30 anos: “Você é a nova Hebe!”. Isso fica ecoando na minha cabeça.

Mas não vou parar de representar, porque eu amo. Gosto de fazer novela, meus musicais, talvez faça uma série um dia. A única coisa que não penso é em parar. Em setembro, se tudo der certo, eu e o Jarbas voltamos a ensaiar Concerto Para Dois, um musical que já levamos a quatro cidades no Brasil e a Portugal antes da pandemia.

Somos só nós dois fazendo doze personagens, cantando, dançando, mudando de voz, fazendo trocas de roupa em seis segundos. Durante a pandemia, gravamos o álbum do espetáculo, que nem fazem na Broadway. Vai entrar nas plataformas digitais. E, em outubro, finalmente vou voltar aos palcos.

Fotos Pedrita Junckes • Beleza Ale de Souza • Concepção visual Lorena Baroni Bósio • Styling Leo Napolitano • Produção de moda Coletivo Gaia • Tratamento de imagem DueRetouch • Assistentes de fotografia Rafa Rodrigues e Branco Madkilla • Assistente de beleza Ivan Pasceiscenai • Fotos realizadas no Palácio Tangará, em São Paulo

 

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