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Como selecionar o sócio certo e fazer o negócio funcionar

Mulheres que já têm sua alma gêmea nos negócios e experts revelam as regras para encontrar o sócio perfeito na hora de empreender - opção que atrai mais e mais profissionais do sexo feminino - e as dicas para fazer a aliança dar certo.

Por Caroline Marino (colaboradora)
Atualizado em 26 out 2016, 11h06 - Publicado em 24 fev 2015, 08h29

Empreender tem sido a opção de carreira de um número cada vez maior de mulheres. Levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostra que o número de negócios com comando feminino aumentou mais de 20% em um período de dez anos, enquanto o volume dos que têm homens à frente subiu apenas 9,8%. O mesmo estudo aponta que, hoje, de cada dez pequenos empreendimentos, três são tocados por elas. Parece ser um caminho sem volta: a cada dia, cerca de 40 novas adesões são registradas pela Rede Mulher Empreendedora, que conecta mais de 55 mil donas de negócios e interessadas em seguir esse caminho. De acordo com o Sebrae, entre as que realizaram, de fato, esse sonho, a maioria (73%) se lançou em voo-solo. No entanto, cerca de um quarto – precisamente, 27% – firmou parceria para dar o grande passo, o que significa um desafio a mais.

Quem faz tal opção, além de programar uma guinada pessoal e criar (até emocionais) condições para torná-la realidade, prospectar o mercado, tratar de se capacitar à altura e planejar detalhadamente o negócio que tem em vista, precisará encontrar o aliado perfeito. Ele pode sair da família, do círculo de amigos ou da agenda de contatos profissionais. O que importa, dizem especialistas, é escolher alguém digno de confiança, respeito e admiração. Desde que preencha tais pré-requisitos, vale até o ex-marido. É o caso da executiva Ana Rita Leme de Mello, 42 anos, sócia-proprietária da Nano Doces, em São Paulo. Na verdade, quando a sociedade começou, em 2009, ela e Luca Lattanzi, 43 anos, ainda eram casados, embora as coisas já não andassem tão bem. “Estávamos montando a Nano de um lado e, de outro, nos separando”, ela conta.

Com o fim do relacionamento, Ana não viu motivos para romper os laços profissionais. “Não terminamos brigados. Aliás, o que aconteceu é que viramos amigos”, justifica. No dia a dia, os dois garantem que se entendem e se complementam. “Nosso trabalho dá certo. Um precisa do outro para a empresa ir para a frente e sabemos disso”, afirma Ana. E tem mais: as funções estão bem definidas e os dois nunca metem o bico onde não são chamados. Enquanto Ana Rita cuida do desenvolvimento de doces com pegada gourmet e tortas artesanais, seu sócio se encarrega das questões financeiras e administrativas. “O que mantém nosso negócio de pé é a determinação em materializar desejos que nós dois sempre tivemos. No caso da Ana Rita, o de trabalhar com gastronomia; no meu, de ter uma empresa”, diz Luca Lattanzi.

As duas metades da laranja

A história do ex-casal que manteve a sociedade é um bom exemplo para ajudar a escolher a parceria certa. Especialistas consideram ideal que os sócios olhem em uma única direção e tenham objetivos comuns – se não idênticos, que possam ser alcançados em uma só jornada, aquela que pretendem cumprir juntos. “Eles precisam acreditar nos mesmos sonhos”, resume Pamella Gonçalves, diretora de pesquisa e mobilização da Endeavor Brasil, organização de apoio ao empreendedorismo, sediada em São Paulo. Outro ponto importante: os dois devem possuir perfis complementares, como as duas metades da laranja, que se encaixam com perfeição. Se uma pessoa gosta da área de atendimento e possui facilidade para se comunicar com clientes, fornecedores e funcionários, é indicado que procure quem apresenta personalidade e talento adequados para atuar nos bastidores, ocupando-se de planilhas, pagamentos, investimentos e controle de caixa. A teoria da complementaridade vale também para características pessoais. Quem tem estilo muito pragmático tende a se dar melhor com alguém imaginativo e sonhador a seu lado. E gente nervosa ou agitada demais garantirá mais equilíbrio com um aliado tranquilo, que custe a sair dos eixos.

Por tudo isso, é essencial conhecer muito bem a pessoa cogitada para o papel de par perfeito nos negócios antes mesmo de fazer o convite. Afinal, não se trata de uma simples seleção de currículos. É preciso detectar afinidades, projetos comuns, necessidades e expectativas não dissonantes logo de cara. Daí ser relativamente comum escolher um familiar bem próximo. Ok, mas aqui vale um lembrete do presidente do Sebrae, Luiz Barretto: “No ambiente de trabalho, parentes e amigos devem sempre ser tratados de forma estritamente profissional, é uma regra básica”. Não importa se estamos falando de um parente na posição de chefe, de funcionário ou de sócio. A chave para o sucesso, no caso, é saber – ou aprender – a separar muito bem as relações pessoais das empresariais.

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Não basta, contudo, achar a parceria ideal. Uma vez que a sociedade esteja sacramentada, o passo seguinte é ajustar a sintonia fina e treinar a habilidade para gerir e prevenir conflitos, como mostram os depoimentos de duplas de mulheres associadas desta reportagem. Ajuda firmar acordos consensuais e até estipular normas logo na partida. Aí é só as duas partes arregaçarem as mangas e fazerem dar certo. 

Confira o depoimento de mulheres que já encontraram suas parceiras nos negócios: 

Luiza e Mirela Perea, 32 e 30 anos, do ateliê de sapatos e bolsas artesanais Luiza Perea sócias há cinco anos.

Luiza: “Eu sempre trabalhei por conta. Atuar em uma empresa formal nunca esteve nos meus planos. Ao sair da faculdade de moda, já montei meu ateliê. Era pequeno, no fundo de uma casa, mas era o que gostava de fazer. E o ateliê foi crescendo até virar uma loja. Aí percebi que precisava de um sócio. Não tenho habilidade nem paciência para a parte comercial. Meu negócio é criar. De cara, pensei em minha irmã. Precisava de alguém de plena confiança. O começo foi difícil: além de muito trabalho, houve alguns conflitos. Irmãs próximas, tínhamos atitudes que espelhavam essa relação. Discussões desnecessárias surgiam. Mas aprendemos a colocar limites, como não levar problemas pessoais para o trabalho. Descobrimos juntas como tornar nossa convivência harmoniosa. Por sermos irmãs, acho que ficou mais fácil, pois eu já sei lidar com as nossas diferenças. Quando sinto que os humores não estão em sintonia, me afasto para evitar discussões. Se o contato é inevitável, o caminho fica aberto para conversas.”

Mirela: “O principal para uma sociedade dar certo é acreditar no negócio e no potencial do sócio. Quando decidi deixar um bom emprego para me aliar à minha irmã, não tinha planos nem clareza sobre o que buscava. Mas o convite me desafiou. Sempre confiei que a Luiza era talentosa. Na época da faculdade, usava as criações dela para divulgar as peças… Ao entrar na sociedade, sabia que não seria fácil, ainda mais as duas tendo tanta intimidade. O desafio foi separar o lado pessoal do profissional e respeitar diferenças. Sou noturna. Já a Luiza está a mil por hora de manhã. No começo, brigávamos por isso. Ela achava que eu não estava a fim de trabalhar e não me dedicava. Só precisava ficar um pouco na minha, seguir meu ritmo. Depois de uns anos, vimos que podíamos usar as características de cada uma a favor do negócio, pois não  iríamos mudar mesmo. Como funciono mais à noite, cuido das redes sociais, por exemplo. Hoje, a convivência é supertranquila.”

Claus Lehmann
Claus Lehmann ()

Maisa Dóris Ferlin e Rosimara Vianna, 39 e 52 anos, da Plano B, que faz livros infantojuvenis e itens educativos sócias há um ano.

Maisa: “Opiniões divergentes existem e, para não deixar que interfiram no trabalho, é preciso muita sensibilidade. Só conhecendo a pessoa para saber o momento certo de falar as coisas. Ajuda termos admiração e confiança mútuas. Nenhuma de nós pensa em trabalhar em outro lugar – então, se um conflito surge, resolvemos. Saber ceder é essencial. Acho que um tripé sustenta uma parceria: gostar, admirar e respeitar. Aceitei a sociedade porque acredito na competência da Rosi e compartilho suas crenças em educação. Claro que às vezes o sangue ferve e brigamos. Nessas horas, damos um tempo: se estávamos agendadas para almoçar juntas, desmarcamos. Aprendemos que crises se resolvem com inteligência e clareza, o que pode faltar no auge do stress. A ideia é ser leve para as duas.”

Rosimara: “Assim que decidi ter meu negócio, vi que precisava de alguém que me complementasse. Sabia que tinha competência para desenvolver produtos educacionais, mas nenhuma habilidade para pensar estrategicamente no mercado. Logo me veio à cabeça a Maisa, com quem já havia trabalhado e admirava por ser boa para vender e defender ideias. Para dar certo, deixamos as funções de cada uma bem definidas. Temos uma química interessante para os negócios. Quando planejamos avançar em algo e uma está mais ponderada, a outra traz o lado audacioso. Agimos de modos diferentes, mas acreditamos em coisas idênticas. Esse é o segredo: olhar para o mesmo lado. Há momentos de apreensão, em que as duas estão com medo. Mas esse é o plano de negócios da vida para ambas, e vamos em frente. A Maisa tem mais compromissos familiares do que eu. Não sou mãe. Ela tem três filhas, que coloca como prioridade. Aprendi a respeitar isso.” 

Claus Lehmann
Claus Lehmann ()

Luciane Hato e Karla Chachet, 39 e 41 anos, donas do escritório de arquitetura DasDuas, sócias há oito anos.

Luciane: “Equilíbrio é importante – e seria mais difícil atingir se as duas tivessem temperamentos parecidos. Sou ansiosa e gosto de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Ela é ponderada e tranquila. Há crises, mas são minimizadas porque somos amigas de longa data. Nossa sociedade não foi algo pensado, apenas aconteceu. Já havíamos tocado juntas projetos e nada foi muito combinado. A maior crise ocorreu quando nasceu meu filho, há quatro anos. A Karla não entendeu minha decisão de não ir ao escritório todo dia e trabalhar em casa. Sabemos agora que a questão da maternidade deve ser tratada já no início. Tive paciência e jogo de cintura. O tempo passou e ela virou mãe também.”

Karla: “Com uma sócia, precisei aprender a delegar. Sempre tive dificuldade em dividir o trabalho, talvez por medo de que não fosse feito do jeito que eu achava melhor. Por confiar no trabalho da Lu e respeitá-la, ficou mais fácil. Temos um trato: como somos amigas além de sócias, se saímos para jantar, não falamos do escritório. Ajuda a preservar a amizade. Nós duas somos arquitetas e a parte administrativa e financeira é complicada para ambas. Tivemos de descobrir um método para trabalhar bem, e de forma equilibrada, juntas. Em geral, cada uma fica com um cliente e faz desde a criação até a gestão da obra. Mas conversamos sobre todos os projetos. Assim, as ideias das duas sempre aparecem.” 

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