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Leonardo DiCaprio: “Hugh Glass é o mais difícil de todos os personagens duros que fiz”

Após interpretar um dos grandes papéis de sua vida, em O Regresso, o ator americano falou a CLAUDIA

Por Mariane Morisawa (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 19h54 - Publicado em 28 fev 2016, 07h00

A performance do galã como Hugh Glass é bem daquelas que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood adora. Personagem real, o americano era guia de expedições de caça de animais e de comércio de peles no selvagem Meio-Oeste americano em 1820. Atacado por um urso, foi abandonado por John Fitzgerald (Tom Hardy), o homem que deveria lhe fazer companhia até sua recuperação ou morte. A filmagem foi um pesadelo. Iñárritu e seu diretor de fotografia, o também mexicano Emmanuel Lubezki (que fez Birdman e Gravidade), decidiram filmar tudo com luz natural, o que, no inverno de Calgary, no Canadá, existe durante apenas uma hora e meia por dia. Assim, se uma tomada não desse certo, era preciso filmá-la de novo no dia seguinte. O frio atingiu -25oC e chegou a congelar equipamentos. Entre os sacrifícios feitos por DiCaprio estão entrar em rios geladísimos, enquanto a temperatura externa era negativa, usar uma pele de animal que pesava 45 quilos, comer fígado cru de bisão e fingir que dormia em uma carcaça de bicho. Para completar, uma nada bem-vinda onda de calor atingiu Calgary, e a produção precisou ser transferida para a Argentina para finalizar cenas que necessitavam de muita neve. Todos esses desafios resultaram em nove extenuantes meses de filmagem, durante os quais o astro manteve a barba perfeitamente desgrenhada. “Hugh Glass é o mais difícil de todos os personagens duros que fiz. Mas é o exato reflexo de como era a vida naquela época”, disse em entrevista a CLAUDIA, em Nova York, já devidamente barbeado e com o cabelo meticulosamente arrumado – mas não cheio do gel do qual é adepto. “Examinamos a história como arqueólogos. De acordo com os relatos, aquela região era como a Amazônia” – que DiCaprio visitou em 2005, com a então namorada, Gisele Bündchen. Glass tem outro traço diferente de boa parte dos personagens que o californiano interpretou: quase não fala e sorri pouco. Foi, portanto, essencial que o ator se despisse do próprio charme para fazer o papel.

Entre nós, a história é outra. Apesar de aparecer com duas horas de atraso para esta entrevista, o charme foi tanto que não tive como recusar suas desculpas. Chegar aos 41 anos fez bem ao astro. Ruguinhas surgem em volta dos olhos, mas eles continuam com o brilho encantador de sempre. Vestido informalmente, com camiseta cinza, jeans e tênis pretos sem cadarços, parece especialmente relaxado ao falar de suas aventuras no set de O Regresso. De alguma forma, o garoto que, aos 3 anos, subiu ao palco de um show para entreter o público com seu improviso de sapateado enquanto a banda oficial não entrava ainda está ali dentro – basta ver a cara de menino levado que fez quando Lady Gaga deu um chega pra lá nele em uma cena da cerimônia do Globo de Ouro deste ano, que virou meme instantâneo.
A fama de bon vivant condiz com sua vida amorosa: DiCaprio está sempre acompanhado por belas modelos (além de Gisele Bündchen, que namorou entre 2000 e 2005, Bar Refaeli, Erin Heatherton, Toni Garrn e Kelly Rohrbach estão entre suas conquistas) em festas e iates. Compromisso sério (leia-se: casamento) ainda não é palavra de seu dicionário. Nem filhos. Mas a distância desse universo não fez falta ao interpretar o pai que perde o próprio rebento em O Regresso. “Nunca passei por algo tão trágico. Tive uma vida abençoada.”

Dono de uma carreira de mais de 20 anos, se diz leal aos próprios objetivos: “Quero chegar o mais perto possível de fazer algo tão incrível quanto aqueles filmes que me influenciaram quando era mais jovem. E estou feliz por ter permanecido fiel a esses ideais durante todo o tempo, para o bem e para o mal – ainda que tenha feito más escolhas aqui e ali”. De fato, o ator poderia ter se contentado com o rótulo de galã que ganhou depois de Romeu + Julieta (1996), de Baz Luhrmann, e Titanic, mas não. Ele preferiu se arriscar trabalhando com diretores consagrados, como Danny Boyle (A Praia, 2000), Woody Allen (Celebridade, 1998), Steven Spielberg (Prenda-me Se For Capaz, 2002), Clint Eastwood (J. Edgar, 2011), Quentin Tarantino (Django Livre, 2012) e principalmente Martin Scorsese, com quem fez cinco filmes. Desde o início dos anos 2000, DiCaprio tem a própria produtora, a Appian Way, por meio da qual investe em filmes nos quais acredita, caso de O Aviador, O Lobo de Wall Street e, agora, O Regresso. “É uma nova era. Você tem os blockbusters espetaculares, mas fazer um filme épico, artístico, existencial e poético sobre o homem e a natureza e dar a oportunidade a alguém como Alejandro Iñárritu de realizar uma obra como essa é incrivelmente raro. Fico empolgado quando acontece, quero agarrar essa oportunidade tão única.”

Não é só a carreira que o move. O futuro preocupa o astro. Por isso, usa sua voz em defesa do que acredita, inclusive a igualdade de salário com suas colegas atrizes. “Com certeza as mulheres devem ser pagas na mesma medida que os homens até em Hollywood. Se elas despertam o interesse das pessoas que compram ingressos, nada mais justo. Apoio totalmente.” Mas o tema preferido do ator, sem dúvida, é o meio ambiente. A fundação criada por ele, e que leva seu nome, patrocina a proteção de animais, e DiCaprio viaja o mundo para falar sobre o assunto. Neste momento, inclusive, está tocando um documentário sobre mudança climática. “É a questão mais monumental que a humanidade jamais enfrentou. É assustador.”

Com uma ameaça tão grande pairando, um Oscar, segundo ele, não está entre suas preocupações. “Essas coisas fogem ao meu controle”, disse no programa televisivo Today, durante a divulgação do filme. Seria bem-vindo, lógico, mas ele tenta minimizar sua importância. “O principal é poder olhar para trás e ver que você fez uma ou duas grandes obras em sua carreira.” Por causa disso, não se incomoda com o sofrimento no set. Seu lema, ele costuma dizer, é: “A dor é provisória, o cinema é eterno”. Talvez esteja aí o segredo de sua serenidade, a certeza de que, sim, sua história já contém um ou dois grandes filmes. Se a estatueta vier, vai ser sua coroação.

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