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Escravidão é tratada como atração turística em fazenda no RJ

Em nome da imersão histórica, os visitantes de uma antiga fazenda cafeeira são servidos por funcionários negros vestidos de escravos.

Por Júlia Warken
Atualizado em 21 jan 2020, 00h59 - Publicado em 6 dez 2016, 18h55

O veículo americano The Intercept publicou nesta terça-feira (6) uma reportagem chocante sobre o dito turismo histórico no Vale do Paraíba, região interiorana do Rio de Janeiro. A matéria da correspondente brasileira Cecilia Olliveira denuncia a forma como a Fazenda Santa Eufrásia está naturalizando a escravidão ao oferecer uma experiência de imersão ao passado.

Como parte do passeio à propriedade construída por volta de 1830, funcionários negros fazem as vezes de escravos, servindo os visitantes. Quem também participa da encenação é a proprietária da fazenda, Elizabeth Dolson, uma das bisnetas do coronel que ali morava séculos atrás. Vestida de sinhá, ela é a cicerone dos turistas.

“Geralmente eu tenho uma mucama, mas ela fugiu. Ela foi pro mato. Já mandei o capitão do mato atrás dela, mas ela não voltou (…) Quando eu quero pegar um vestido, eu digo: ‘duas mucamas, por favor!’. Porque ninguém alcança lá em cima”, diz ela nesse vídeo onde apresenta as dependências da fazenda:

https://vimeo.com/80287532

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Na gravação, Elizabeth também aparece mostrando um instrumento usado para torturar escravos, o chamado viramundo. Orgulhosa,  ela comenta que é muito raro encontrar um viramundo com chave hoje em dia e que o objeto lhe foi dado de presente. Sem nenhum tipo de reflexão a respeito da carga cruel que tal ferramenta carrega. Aquilo é apenas um presente especial, nada mais. Com essa mesma naturalidade, a sinhá aponta para o local onde ficava a senzala.

“Ah, mas isso tudo é história, não há nada de errado em mostrar como era aquela realidade”, dirão muitos. E, em resposta a isso, a reportagem do The Intercept traz um paralelo muitíssimo oportuno: experimente fazer uma visita aos locais históricos do holocausto, ou a algum museu sobre o tema. O clima é completamente outro!

fazenda
(Reprodução/Habitar/Vimeo)

Em Auschwitz* (o maior campo de concentração nazista), por exemplo, há espaços onde tirar fotos é proibido, em respeito às vítimas da barbárie nazista. Já no local onde funcionava a câmara de gás, é solicitado que os visitantes fiquem também em silêncio e, durante toda a visita, os guias estimulam a reflexão e o pensamento crítico a respeito do que se passou ali. Os fatos históricos são contados e recontados, mas não de maneira leviana.

Revisitar a história do nosso país é algo extremamente válido e, com certeza, isso deveria ser mais incentivado pelos órgãos de turismo. Acontece que é inadmissível que haja uma naturalização das atrocidades cometidas no passado. Muito pelo contrário! Ao invés disso, é preciso que esse tipo de imersão – como a feita na Fazenda Santa Eufrásia – sirva para estimular a consciência de que o Brasil carrega consigo uma dívida histórica com o povo negro.

 

* A repórter esteve em Auschwitz, na Polônia, em 2011.

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