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Bunda Dura Não Treme: grupo de dança dá força a garotas de Curitiba

Aulas ministradas por Jade Quadros, de 22 anos, envolvem mais que dança - ali, as alunas encontram um espaço para se aceitar.

Por Giovana Feix
Atualizado em 21 jan 2020, 07h11 - Publicado em 27 jul 2016, 10h05

A partir de suas próprias dúvidas e crises, a jovem curitibana Jade Quadros, de 22 anos, teve a força necessária para criar algo lindo: um grupo de dança empoderador. Com uma turma no sábado e outra no domingo, ela se encontra todo fim de semana com suas 50 alunas para, sim, dançar – mas, acima de tudo, trabalhar junto delas questões como insegurança e consciência corporal. A ideia é deixar claro que, seja na vida ou na dança, não existe certo e errado.

Entre ballet, jazz, hip-hop, danças africanas e aulas de expressão corporal, desde os cinco anos de idade a dança faz parte da vida de Jade. Ela cresceu enxergando na atividade uma espécie de terapia. “Fosse quando eu estava muito bem ou quando estava muito mal, a dança sempre esteve ali, para me colocar em equilíbrio”, conta. Depois de uma viagem de estudos para Barcelona, onde conheceu a rotina de uma escola de dança tradicional, a jovem sentiu a cabeça dominada por preocupações. “Tinha que ser profissional e não que aproveitar. Era competitividade, julgamento… Quando voltei para o Brasil, fiquei em crise“, desabafa. O que pode parecer ruim para sua trajetória foi, na verdade, um ponto de reviravolta nessa história: foi a partir dessa desilusão que Jade criou o BDNT, grupo de dança que vem há pouco mais de um ano ajudando jovens de Curitiba a superar suas inseguranças.

João Prendin
João Prendin ()

“Na infância, meninos faziam judô e meninas faziam ballet. Pequena, eu comecei a dançar porque era obrigada”, conta Bárbara Puppi, hoje uma das alunas de Jade. “Não durou. Na adolescência, com filmes como Step Up e uma vontade de fazer algo ‘descolado’, eu voltei a dançar”. Sua segunda tentativa, no entanto, também durou pouco. Apesar de grande parte das experiências de Jade com a dança terem sido positivas, muitas meninas encontram nas aulas um ambiente opressor. “Muita gente conta que gosta muito de dançar, mas que, por não ter ‘corpo de bailarina’, foi ‘barrada’ desse universo”, afirma a professora. “No BDNT, o pessoal se dá essa nova chance, e a relação com a atividade muda.”

Divulgação
Divulgação ()

Não é à toa que a mudança acontece ali. Quando Jade decidiu levar a iniciativa adiante, o ambiente que escolheu para compartilhar a ideia foi um grupo no Facebook chamado Love Yourself Today, ou Ame a Si Mesma Hoje. “Eu não conhecia muitas meninas de lá, mas foi ali meu primeiro contato de verdade com o feminismo. As meninas falavam sobre o que quisessem: impasses pessoais, divulgação de projetos… Eu me senti muito bem, e anunciei a ideia ali mesmo. Bombou. Várias meninas curtiram!”, relembra.

A liberdade e aceitação do espaço virtual provavelmente a inspiraram a fazer dos encontros analógicos, exclusivos para mulheres, algo igualmente empoderador. Estudante de psicologia na faculdade, Jade percebeu, desde a primeira aula do BDNT, que havia ali uma demanda além do ‘dançar como se ninguém estivesse olhando’. “Teve muito relato das meninas sobre como era estar ali, e eu vi que tinha esse lado psicológico – que eu precisaria ter um outro olhar, um outro cuidado”, explica. “Fui pedir ajuda para alguns professores de psicologia corporal, para saber se era certo o que eu estava fazendo. Fiquei bem preocupada”. O cuidado fez com que, de fato, os encontros fossem se tornando muito mais que meras aulas de dança. “Tem espaço para ouvir e ser ouvida”, conta a professora, orgulhosa. Além das conversas, também as decisões do grupo são bastante democráticas e horizontais: quando o assunto é decidir a data, o horário e a localização das aulas, todo mundo vota. E o valor é acessível, de R$65,00 por mês.

Na aula, as meninas circulam entre os vários universos da dança com que Jade teve contato ao longo da vida. Cada encontro costuma conter aquecimento, alongamento, dinâmicas psicológicas (para confiança, segurança e relaxamento), respiração, coreografia, roda de dança e um último relaxamento. Na hora de treinar a coreografia, a professora garante não ficar corrigindo ninguém. “Dança não é sobre certo e errado. Cada uma se move de uma forma, e não tem como mascarar isso”, esclarece Jade. Ao fim de cada aula, ela filma suas alunas, para que elas mesmas consigam analisar seus movimentos e corrigir o que julgarem necessário. Às vezes, as meninas também fazem vídeos de divulgação, como esse aqui:

 

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“As pessoas não entendem qual é o significado do grupo. É uma aula de dança e a gente grava vídeo – então, teoricamente, teria que ser perfeito, que estar muito bom, que agradar. Mas não é sobre isso”, opina sobre a reação a esses vídeos. “É sobre meninas que um dia tiveram o sonho de dançar e desistiram, mas que, hoje em dia, estão conseguindo realizá-lo. Meu papel é fazer as meninas entenderem que isso [os tais ‘errinhos’ na coreografia] não importa. É difícil: a gente está se expondo. Mas é por uma boa causa.”

Quanto ao significado da sigla que dá nome ao grupo, naturalmente as pessoas também não costumam entender. “A gente não tinha nome, e, uma vez, durante um exercício para soltar o quadril, uma menina gritou: ‘Bunda Dura Não Twerka!’. Decidimos adotar. E também pode ser ‘Bunda Dura Não Treme’.”

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