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Alcino, um gigante paraense preso em um pequeno museu

Em suas andanças pelo Brasil, a coordenadora de conteúdo do Prêmio CLAUDIA, Giuliana Bergamo, encontra famoso jacaré idoso

Por Giuliana Bergamo (colaboradora)
Atualizado em 12 abr 2024, 14h51 - Publicado em 26 ago 2016, 14h59

O Museu Emílio Goeldi, uma espécie de minizoológico no meio de Belém, é um lugar curioso, um pedacinho da floresta dentro da cidade. Ou seria a capital do Pará um pedacinho de cidade dentro da floresta? Não sei. Acho Belém toda meio fantástica. “Um delírio europeu no meio da Amazônia”, costuma dizer o fotógrafo Pablo Saborido, que viaja o Brasil comigo desde a edição 2015 do Prêmio CLAUDIA em busca de finalistas.

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Foi a caminho de Belém, para conhecer a artista Berna Reale, candidata pela categoria Cultura, no ano passado, que nos conhecemos. A conversa deu liga já no aeroporto, mas, daquela vez, Pablo não quis – como passou a fazer nas viagens seguintes – me acompanhar no passeio. Eu estava a fim de visitar um jacaré-açu no intervalo entre a entrevista e a foto. Fazia um calor danado, desses de embaralhar pensamentos. Ele preferiu refugiar-se no ar condicionado do hotel. Eu quis o refresco natural das árvores gigantes nativas mantidas dentro do Emílio Goeldi, museu que leva o nome de um zoólogo naturalista suíço que veio ao Brasil no século XIX.

A minha escolha fazia sentido. Aquela era a primeira vez que eu me distanciava tanto de casa sem, pelo menos, uma partezinha da família à tiracolo desde que tive filhos. Estava, finalmente e com o trabalho como pretexto, gozando da liberdade que inventamos de tirar das mulheres-mães. Outro delírio, eu diria. Por que raios eu me enjaularia dentro de um quarto de hotel? Eu queria mais passear e rever a cidade que conhecera nove anos antes, durante umas férias, quando meu marido ainda era namorado e meus filhos, meros gametas imaturos. Na minha volta a Belém, eu queria saber se o jacaré que tanto me impressionara em meu debut amazônico ainda estava lá. E vivo.

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Parei, primeiro, nos macacos. Eu adoro macacos. Adoro as caras que fazem e, principalmente, o escracho com que nos observam. Eu olho para eles e fico pensando: evoluímos ou perdemos a graça? Não sei. Fiz umas fotos, um vídeo para mostrar para as crianças, devolvi umas caretas para os bichos e segui caminhando.

Passei, então, pelo tanque com vitórias-régias. Que coisa maluca aquela planta! Dizem que dá para “navegar” sobre ela. Não sei se é verdade e, desculpe, leitora, mas não vou fazer a lição de casa. Vou deixar a curiosidade pairando por aqui. Prefiro a fantasia de que é possível fazer canoa de uma flor e, assim, passear no meio de uma floresta toda.

Não lembro ao certo quais foram os passos seguintes do meu roteiro. Devo ter dado uma espiada na onça tristonha, parado em frente à samaúma que tem no meio do museu e me assustado com a placa em forma de índio tamanho natural prostrada entre as folhagens.

Até que cheguei sobre o tanque do Alcino, o nome do jacaré gigante que há mais de 50 anos vive no parque zoobotânico paraense. E tomei um susto. É maluco isso. Eu sabia o que estava procurando, sabia o que queria ver, mas, ainda assim, quando me vi sobre uma ponte embaixo de onde se escondia um bicho enorme e potencialmente perigoso, gelei. Ele ainda estava lá, com a mesma cara de riso falso, a mesma paralisia. Encarei o réptil por algum tempo. Não sei quanto. E tive dó.

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Ao contrário do que fiz com as vitórias-régias, recentemente quis saber mais sobre o Alcino e liguei para o veterinário Antônio Messias Costa, responsável pela fauna do Emílio Goeldi há 25 anos. Em meia hora de conversa, ele me contou que Alcino é um bicho esperto e por quem, ficou claro, aquele homem tem muito carinho. Na segunda vez em que tentaram capturá-lo para fazer a cirurgia que removeria as queloides formadas sob o seu corpanzil de meia tonelada e quatro metros de comprimento (duas vezes a largura de uma cama de casal king-size), o bicho burlou o esquema dos funcionários do museu. “Ele é esperto, bastou uma captura para que percebesse a nossa intenção e escapasse entrando de lado e não de frente como da primeira vez”, disse Messias com um certo orgulho do animal.

No papo, fiquei sabendo ainda que Alcino é idoso, tem cerca de 68 anos, sendo que a estimativa de vida para um animal da sua espécie é de 70 anos. Soube ainda que, ao contrário de nós, humanos, quanto mais velhos, mais sexualmente ativos são esses bichos e que os açu são os maiores jacarés das Américas. Foi nessa altura da conversa que meu coração partiu de vez. Afinal, Alcino é uma potência presa e solitária em um tanque pequenino no meio de um museu, no meio da cidade, no meio da Amazônia. Foi parar lá pelas mãos de um fazendeiro que o trouxe da ilha de Marajó, pertinho dali. “Na época, incentivava-se a doação de animais para serem estudados no parque zoobotânico”, disse Messias. “Hoje não fazemos mais isso.”

Voltamos a Belém este ano para produzir a atual edição do Prêmio CLAUDIA. Eu quis ver Alcino novamente. Dessa vez, levei o Pablo comigo. Mostrei os macacos, as flores-barcos-flutuantes, o tanque de tartarugas (são dezenas!) e, por fim, o Alcino. Não sei se ele achou a mesma graça. Não perguntei para não correr o risco de estragar a minha.

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