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Em que Deus você acredita?

Nossa editora Liliane Prata fala sobre fé, ateísmo e sobre como virou uma dessas pessoas que falam em "energia" e "universo"

Por Liliane Prata
Atualizado em 27 out 2016, 21h35 - Publicado em 3 jun 2016, 16h17

Ligo para meu entrevistado, um professor de física de uma conceituada universidade brasileira. Ele tem mestrado, doutorado, é livre-docente, enfim, tem todo o pacote de acadêmico respeitável. Minhas perguntas são sobre Deus e o acaso. Antes de falar com ele, falei com uma professora de ioga e uma taróloga. Naturalmente, quando explico a pauta, ele dá um suspiro, mas, bem, eu precisava tentar, certo? Já na primeira pergunta, ele diz que não vai dar, que não é a pessoa mais indicada para falar sobre esses assuntos, e a entrevista acaba indo para o brejo.

– Desculpa se não consegui te ajudar – ele fala. – Minha área passa muito mais por matemática do que filosofia, mas o seu tema é, claro, pertinente. Essa crença de que coincidências não existem… Essa reflexão sobre haver ou não um Deus, ou um sentido que una os acontecimentos, é uma questão muito antiga e sempre interessante.
– E qual a sua opinião sobre isso? – pergunto.
– Olha, a ciência está muito longe de comprovar essas crenças, se é que um dia vai comprovar e…
– Não sua visão como professor ou físico, mas seu ponto de vista pessoal. No que você acredita?
– Mas você não vai botar isso na matéria, vai?
– Não. Você acredita em Deus?
– (longo suspiro) Acredito. Não no Deus da tradição judaico-cristã, mas em toda essa lógica da energia: atraímos para a nossa vida o que está vibrando na mesma frequência do nosso campo. Mas, de novo, isso não é comprovad…
– Então você acredita que há um sentido por trás de cada acontecimento, que coincidências não existem, que o universo está todo conectado, que…
– Acredito.

Conversamos sobre o documentário Quem somos nós, sobre criarmos a realidade com a nossa mente e vários subtemas. Ele pede novamente que eu não relacione o nome dele a nenhuma das opiniões que me confessou, agradeço e desligo. E fico pensando: um sem-número de pessoas nutre uma forte convicção de que o divino não existe. Para essas pessoas, não há nenhuma realidade invisível que sustente o plano físico. É bonito encontrar um físico que acredita em algo maior do que isso. Não em um ser transcendente, mas em uma orientação e um sentido além do concreto.

Filha de um ateu convicto e uma mãe católica fervorosa, fui desenvolvendo uma aversão ao fanatismo de todas as espécies: tanto o religioso quanto o dos ateus. Da minha história, trouxe um receio de discussões sobre Deus e também uma pequenez em relação àquilo que desconheço – ou melhor, que desconheço racionalmente. Gosto muito da passagem de Irmãos Karamazov: “Temos diante de nós um mistério que não podemos apreender. E, justo por ser um mistério, tivemos o direito de pregá-lo, de ensinar ao povo que o que importa não é a liberdade nem o amor, mas o enigma, o segredo, o mistério diante do qual eles devem se curvar”.

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É isso. O mistério. Sempre observei com interesse tanto atos de generosidade quando de violência. Eu pensava sobre o universo que habita cada mente humana e ficava pasma. Quando senti minha filha nos meus braços pela primeira vez, não entendi nada.

Nos últimos anos, fui, aos poucos, deixando a postura de “isentona existencial” e passando a acreditar mais. Não em um senhor barbudo, que nos olha lá de cima e anota nossos pedidos como se fosse o Papai Noel, mas em uma energia que conduz todos os eventos. Com alguns amigos, formei um grupo que chamamos carinhosamente de budismo quântico, e, nos nossos encontros, usamos muito palavras como “amor”, “energia” e “frequência vibratória”. Continuo seguindo sem rezar o pai-nosso, mas passei a acreditar na força das energias positivas, entre outras coisas.
 
Fui acolhendo todo esse conhecimento que mistura átomos e tao de maneira gradual e orgânica, sem a menor necessidade de aval científico, mas eis que me pego feliz depois da minha entrevista (“Oba, um físico competente não acha que estou maluca.”). Essa necessidade de lastro só mostra como ainda me é difícil aceitar que, há alguns anos, aceitei (risos) que a vida não é totalmente explicada pelo conhecimento racional. Que agora acredito numa explicação que une todos os eventos do mundo – e que essa explicação (para mim) não é uma muleta, um reflexo do medo ou uma necessidade de salvação, mas simplesmente algo que faz todo o sentido.

É, ainda como carne, mas estou a cada dia mais hippie, mais paz, amor e universo (sou dessas que falam “universo” em vez de “Deus”).

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Às vezes, é difícil admitir para mim mesma que ando vendo a vida em termos de coisas como aura e energia, que acredito que atraímos para a nossa existência aquilo que somos, e que o amor e a generosidade são as energias mais poderosas que existem. É um contínuo exercício de auto-aceitação, esse de bancarmos nossas crenças, nosso jeito de ser e os aprendizados que fazem sentido para cada um de nós.

P.S: Se você se interessa por uma leitura bem racional de conceitos da sabedoria oriental, recomendo o livro O Tao da Física, do físico Fritjof Kapra. Adorei esse livro… Também adorei outros bem mais malucos, mas prefiro não indicar aqui!

Liliane Prata é editora de CLAUDIA e escreve esta coluna semanalmente aqui no site. Para falar com ela, clique aqui

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