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Nos bastidores da Olimpíada

Saiba como foi a seleção dos milhares de brasileiros que vão trabalhar nos jogos e conheça Mónica Flores, poderosa executiva por trás desse processo

Por Liliane Prata
Atualizado em 22 out 2016, 20h01 - Publicado em 4 ago 2016, 17h55

A executiva Mónica Flores desembarcou semana passada no Brasil especialmente para os jogos olímpicos. Um dos seus primeiros compromissos foi conduzir a tocha em Petrópolis. “Fiquei encantada pela cidade”, disse Mónica à CLAUDIA. Mas o tema que a faz vibrar mesmo é o empoderamento feminino dentro e fora das quadras: a mexicana é presidente da ManPowerGroup na América Latina, e a empresa de recursos humanos foi responsável pela contratação para mais de 15 mil vagas – 11 mil para empresas terceirizadas e 4 mil para o Comitê Rio 2016. No comando da operação da companhia em 18 países, Mónica, que acredita que tanto as empresas como o governo e os cidadãos devem levantar a bandeira da diversidade por uma sociedade mais justa, falou sobre os bastidores do recrutamento e a importância de estimular as mulheres a acreditarem em si mesmas.

Diversidade e números
“A inclusão faz parte da cultura da empresa em que trabalho e também das exigências do comitê olímpico, e essa é uma causa muito importante para mim. Contratamos 15 mil pessoas para 720 diferentes postos, em áreas variadas como TI, logística, comunicação, eventos… São massoterapeutas, cabeleireiros, guias, técnicos especializados. Recebemos quase 500 mil currículos e fizemos 20 mil entrevistas. Havia postos complicados, como celebrantes ecumênicos. Outros com muitos candidatos, como pedicures – nesse caso, o complicador foi a quantidade de trabalhadores requerida: imagine, pedicures suficientes para atender a todos os atletas. 52% das vagas foram preenchidas pelo núcleo de diversidade, o que inclui mulheres. Fomos recrutar nas comunidades inclusive, o que considero muito importante, sobretudo na situação em que se encontra o país hoje. Para alguns, foi o primeiro contato com uma empresa global e com um trabalho digno. É importante frisar que não estamos falando apenas de vagas temporárias, mas de treinamento para quem vai ocupar essas vagas, o que certamente será útil para incrementar o currículo dessas pessoas depois dos jogos.”

O significado por trás
“Além da questão do salário, muitos queriam ser aprovados na seleção por tudo o que significam as olimpíadas. Num momento em que o mundo está passando por tantas complicações, falar de Olimpíada é falar de valores, de paz, união, enfim, de sermos todos humanos. Veja esse evento de conduzir a tocha, por exemplo. O fogo representa os valores da humanidade e traz tanta história por trás. Muitos, ao serem aprovados no processo seletivo, nos abraçaram, choraram, pularam de contentamento.”
 

Ser atleta e ser mulher
“Nas Olimpíadas da antiguidade, as mulheres nem podiam participar. Nos esportes, é claro que nosso gênero avançou de lá para cá e muito. Ser atleta exige muita disciplina desde cedo, além de ter que viajar muito, ficar longe da família, fazer renúncias. Culturalmente, essas características correspondem ao estereótipo masculino. Então, são muitas as barreiras para as mulheres, que precisamos continuar superando. É como no mundo profissional como um todo, há esportes rotulados como masculinos e características rotuladas como masculinas.”

Mulher no mercado de trabalho
“O mundo dos negócios é muito masculino. É uma característica muito arraigada culturalmente. Creio que as empresas precisam fazer mais do que programas de diversidade, precisam cultivar uma cultura de diversidade, de inclusão. Há muitas barreiras psicológicas, como: e se eu engravidar, e se eu tiver que viajar… Muitas barreiras são reforçadas por nós mesmas, e vamos quebrando isso com o tempo. Não gostamos de correr riscos, por exemplo. Claro, fomos educadas assim. Quando pequenas, ouvíamos: cuidado, não caia, você vai se machucar. Precisamos dizer às meninas para serem boas no que fazem, não importa se caírem: precisam se levantar, ser valentes. Ao tomar decisões, nos sentimos culpadas, nos preocupamos com o que vão pensar o marido, as crianças, o tio, os amigos… Queremos ser supermulheres e isso cansa, causa estresse. Temos que fazer um exercício também de verbalizar nossos talentos. Sobretudo na América Latina, nos ensinam a ser discretas, humildes. Por exemplo, quando vamos bem em um projeto, dizemos que foi graças à ótima equipe, ao apoio de todos, e claro que o apoio é importante, mas também é importante dizermos que somos capazes, boas no que fazemos. É uma questão cultural e também individual. Precisamos lutar por mudanças sociais, mas também precisamos aprender a nos atrever, a não encarar os erros como o fim do mundo, a correr riscos, a ser mais confiantes.”

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Lideranças femininas no mundo
“O mundo não é composto só por homens, o mundo é diverso, e o poder tem que representar essa realidade. Somos metade do mundo, certo? Os jovens precisam de exemplos de líderes mulheres. Não somos melhores que eles, homens e mulheres são complementares e precisam, ambos, estar incluídos em posições de comando. Cada vez mais há consciência sobre a questão do gênero, cada vez mais empresas estão contratando mulheres, há um grande movimento feminista na internet. Essa mentalidade precisa continuar crescendo entre as mulheres e também entre os homens, que precisam ter consciência de como uma sociedade mais igualitária em termos de gênero vai afetar sua filha, sua irmã, sua mulher.”

Aparência
“É muito triste abrir uma publicação e ver que o foco na foto dos homens está nos olhos focados, na postura de poder, e na das mulheres o foco está nas pernas, na posição sexy. Isso é muito negativo. Não que as mulheres não possam ser representadas dessa forma, o problema é que isso acaba predominando. Se queremos estar bonitas, precisamos estar bonitas para nós mesmas, não para o outro. Precisamos acreditar em nós mesmas e não perder tempo nos preocupando tanto, nos sentindo feias, acima do peso. Olhe quantas adolescentes enfrentam distúrbios alimentares e depressão. É de fato um grande problema social e precisamos nos empoderar para superá-lo. Perseguir estereótipos, tentando ser perfeitas: precisamos superar essa necessidade. Queremos casar? Casemos. Queremos ser solteiras? Então sejamos. Queremos passar maquiagem, não passar maquiagem, ter filhos, não ter? Tudo bem. Não há modelos perfeitos para serem seguidos, há o que nos faz felizes. Precisamos estar conscientes das nossas escolhas para tomar as rédeas do nosso destino como ser humano.”

Diferença salarial
“Muitas vezes, escolhemos carreiras mais mal pagas do que os homens e não negociamos aumento. Há uma estatística que diz que, nos primeiros dois anos de emprego, mulheres e homens ganham o mesmo. Depois de dois anos, 57% dos homens já levantaram a mão para pedir aumento, enquanto só 7% das mulheres fizeram isso. De novo, é uma questão cultural, tem a ver com o modo como fomos criadas, mas precisamos romper isso. Precisamos perder nosso medo de negociar. As empresas têm um papel social de aumentar a inclusão, e, paralelamente, as mulheres têm que buscar se fortalecer.”

Autoconfiança
“Minha mãe me criou para ser independente e a fazer bem o que eu quisesse fazer, fosse executiva, bailarina, dona de casa. E, mesmo para quem foi criada assim, é um exercício diário superar sentimentos negativos como culpa, medo, desconforto com a aparência. É uma revolução pessoal também a verbalização das nossas qualidades, sabermos nos vender para o mercado. Acreditar que sim, somos capazes. Sim, somos talentosas. Nossa cultura precisa ser mais inclusiva, mas não podemos ficar esperando que as oportunidades caiam do céu.” 

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