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Sexo teatral

Nossa colunista Marcela Leal reflete: precisamos de tanta preocupação com a performance para ser feliz?

Por Marcela Leal (colaborador)
Atualizado em 22 out 2016, 21h44 - Publicado em 5 out 2015, 09h00

Não entendo por que as pessoas levam sexo tão a sério. Não entendo por que as pessoas ficam tão desesperadas e tão tristes pautando suas vidas na quantidade de sexo que fazem e utilizando como termômetro para o fato de serem ou não felizes. Essa é, para mim, uma das maiores mentiras que contamos para nós mesmos.

Acho engraçado, por exemplo, o fato de um casal fazer malabarismos, subir no lustre, transar de ponta cabeça, usar brinquedos sexuais, gritar transando e fazendo poses para o espelho sendo que ninguém se viu direito, nunca se olhou no olho, nunca se conheceu de verdade, nunca se admirou, nunca disse para o outro o quanto ele é incrível. Tudo fica no campo da encenação, da forma, para que ninguém corra grandes riscos e invada o universo emocional do outro – afinal, aí sim, teríamos um problema.

Assisti a uma palestra uma vez onde um mestre espiritual dizia: “Transar e andar de bicicleta são a mesma coisa”. Afirmação que causou certa revolta nos participantes, afinal, na cabeça dos revoltados, sexo é algo muito especial e muito maior do que tudo. Mas eu entendi o que ele estava querendo dizer: Sexo é uma ação como outra qualquer e não deveríamos dar o peso que damos. É bom? É. Posso transar oito vezes ao dia? Sim. Posso não transar nunca? Sim. Mas isso não define o meu estado interno e nem o quanto estou feliz ou não.

Para mim, ser livre sexualmente não significa transar com todo mundo ou decidir não transar nunca mais, mas fazer o que eu quiser na hora que eu quiser e se eu quiser, sem ser escrava daquilo que a sociedade, ou minhas amigas ou os filmes impõem como correto. Krishnamurti dizia: “Não é sinal de saúde estar adaptado a uma sociedade doente”.

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Imagine um casal: os dois estão na sala da casa, conversando, descontraídos, bebendo, e de repente, resolvem transar. Quando entram no quarto, se transformam e viram atores numa grande encenação: a mulher começa a urrar como uma leoa no cio tirando sua lingerie, joga os cabelos pra todos os lados, dança “sensualmente” numa mistura de Tati Quebra Barraco com Robocop, leva os dedos à boca enquanto faz um strip-tease ao som de Unchain My Heart do Joe Cocker. O homem, por sua vez, vira um pedreirão viril e começa a falar com voz de macho alfa: “Gostosa, vem cá que eu te pego!”.

Quantos clichês de filme têm nessa cena? “Ah, mas é assim que os homens gostam.” Desculpe, amiga, mas não é assim que os homens gostam. Os homens gostam que “você seja você” e não uma atriz de quinta reproduzindo todas as cenas de Filme B que já viu na vida.

Não existe nada mais sedutor do que ser espontânea, estar à vontade consigo mesma, estar se sentindo bem. O bem estar é contagiante e faz com que as pessoas (nesse caso, os homens) nos queiram por perto.

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Eu sei que muita polêmica se criou em cima do filme Cinquenta Tons de Cinza, mas eu não posso deixar de me lembrar do que senti assistindo: Anastasia, uma garota sensível e inteligente se vê diante de um cara também incrível e inteligente, porém com uma obsessão: encaixá-la em suas fantasias sadomasoquistas. Até aí, nenhum problema. O que as pessoas decidem fazer entre quatro paredes é problema delas, e, se dá prazer a elas, ótimo. A questão é que o universo imaginário (vulgo “viagem”) de Christian Grey era tão forte que estava cego, e ele nem sequer se interessou em saber quem era aquela mulher, o que ela pensava e do que gostava. Afinal, para que correr grandes riscos, não é mesmo?

Então Anastasia se bancou e decidiu ser ela mesma: “Ou você olha para mim, ou vou embora. Não estamos os dois na mesma vibe, percebeu?”. E foi embora.

Só existe relacionamento quando duas pessoas decidem realmente olhar uma para outra. Por uma hora ou por mil noites, é preciso olhar e ver o outro. Isso é felicidade compartilhada. E o sexo é só uma consequência: aí, sim, “feliz” desse encontro verdadeiro.

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Marcela Leal é humorista e escreve quinzenalmente aqui no nosso site. Fale com ela!

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