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Rodrigo Hilbert matou uma ovelha em seu programa. E daí?

Se as cenas exibidas no Tempero em Família te chocam, talvez seja hora de repensar seus hábitos alimentares

Por Stefanie Silveira (colunista)
Atualizado em 21 jan 2020, 13h15 - Publicado em 15 mar 2016, 10h23

Vamos começar esse texto imaginando uma situação hipotética. Digamos que uma grande crise se instalou no mundo e abatedouros e frigoríficos foram à falência. Agora, para comer qualquer tipo de carne é preciso que você vá ao local onde esses animais vivem, escolha qual você quer comer, mate, tire a pele, o sangue, as vísceras, separe as partes e finalmente prepare seus pratos. Você ainda assim comeria carne?

Reprodução / GNT
Reprodução / GNT ()

Na última semana, o apresentador do programa Tempero em Família (que vai ao ar pelo GNT), Rodrigo Hilbert, matou um filhote de ovelha durante o episódio que ensina a fazer o churrasco desta carne. O público, desacostumado a ver cenas de abate de animais, ficou chocado com a exibição. O apresentador e o programa foram duramente criticados nas redes sociais online e ele acabou se pronunciando via Instagram para pedir desculpas a quem tivesse se sentido ofendido. 

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Oi, gente! Em primeiro lugar, respeito as opiniões de todos vocês. Venho de uma família grande, igual a muitas outras nesse Brasil, que tem como tradição plantar e criar o próprio alimento que consome. Foi com esse espírito que a nova temporada do “Tempero de família” se ergueu, com o objetivo de documentar a vida desses pequenos produtores, que cultivam e criam para o autoconsumo. Não tínhamos a intenção de incitar qualquer violência contra animais, mas apenas de registrar o dia-a-dia desses trabalhadores que lutam para criar e alimentar suas famílias. No entanto, por também respeitar aqueles que se manifestaram contra as cenas exibidas no programa, retiraremos as imagens em questão do episódio. Vou levar isso tudo como um aprendizado. Ao mostrar o abate do animal em uma pequena fazenda, eu acreditava estar chamando a atenção para se conhecer a procedência dos alimentos, para se entender como é a cadeia produtiva do que consumimos. No entanto, qual não foi a minha surpresa ao perceber que, ao invés de passar uma mensagem de conscientização sobre o que comemos, vi surgir o ódio de muitos por mim. Entendo todos aqueles que defendem o amor aos animais. Mas acredito também que possamos fazer isso sem estimular xingamentos ou acusações, e, sim, promovendo a conversa entre todos nós. Se queremos um mundo melhor, vamos começar incentivando o diálogo pacífico e respeitoso. Reforço as minhas desculpas verdadeiras a quem tenha se sentido ofendido. Um beijo, Rodrigo

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Ao contrário da maioria das pessoas, que terceiriza a morte dos animais para abatedouros e frigoríficos, Rodrigo Hilbert tem a consciência de que ao optar por comer carne ele está comendo um animal morto. Mais do que ter consciência, ele tem a coragem de matar esse animal com as próprias mãos, coisa que a maioria das pessoas que comem carne não teriam. 

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Na última coluna, eu comentei sobre a opinião do jornalista e escritor Michael Pollan que afirma que, ao longo do tempo, perdemos contato com a forma pela qual a comida chega ao nosso prato. Pollan defende que toda pessoa que come carne deve experimentar pelo menos uma vez participar de uma caçada para relembrar de onde vem a comida.

Em 2013, o chef de cozinha Alex Atala também foi duramente criticado por matar uma galinha ao vivo no palco do simpósio culinário MAD Food Camp, na Dinamarca. Como Rodrigo, Alex também queria chamar a atenção das pessoas para a origem da comida. Disse ele, na época, que buscou demonstrar que cozinha e morte estavam intrinsecamente ligadas. Uma dura verdade. Para comer carne é preciso conectar cozinha e morte

A frase clássica de Paul McCartney, “se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos”, não foi dita por acaso. Terceirizar a crueldade da morte para uma empresa, esconder os maus tratos aos animais e consumir produtos desconectados da realidade vendidos em embalagens bonitas no supermercado é muito confortável. 

+ Por que não nos preocupamos com o alimento que consumimos? 

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No caso de Rodrigo Hilbert, se a sua preocupação foi a forma como o animal foi morto, sem alívio da dor, saiba que muitos abatedouros funcionam assim, principalmente os clandestinos. Logo, se não há conhecimento da cadeia completa percorrida pela carne vendida no supermercado, é grande a possibilidade de estar consumido carne de animais abatidos do mesmo jeito.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, é muito comum filhotes de ovelha, conhecidos como “borrego”, serem mortos aos finais de semana em fazendas de pecuaristas para produção de churrasco para a família. Além disso, é tradicional “presentear” amigos e parentes com peças de carne desse mesmo abate. 

Se a sua preocupação é com a idade do animal abatido por Rodrigo, eu te pergunto: Você já comeu vitela? Novilho precoce? Vitela é a carne dos filhotes machos das vacas leiteiras que são descartados pela indústria de laticínios e abatidos entre 3 e 6 meses de idade. Novilho precoce é o gado abatido entre 18 e 30 meses de idade. 

A cada 24 horas, mais de 15 mil animais são mortos no Brasil para a produção de carne. Não ter matado esses animais com as próprias mãos, não te faz menos responsável por essas mortes. A escolha é sua, mas se você decide comer carne, precisa conviver com a realidade desta escolha.

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