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Mandala da Prosperidade: esquema financeiro usa discurso feminista para enganar mulheres

O esquema - também chamado de Telar dos Sonhos e Mandala da Abundância - prega a cooperação entre mulheres, mas segue a lógica perversa das pirâmides financeiras.

Por Júlia Warken
Atualizado em 21 jan 2020, 04h33 - Publicado em 26 set 2016, 17h44

Mulheres unidas numa corrente de espiritualidade e cooperação mútua, a fim de realizarem os sonhos umas das outras: essa proposta parece incrível, mas pode não ser bem asssim. Esses sonhos envolvem dinheiro, sem aquela premissa do lucro como foco. A ideia é fazer com que mulheres encontrem uma alternativa ao patriarcado, gerando economia sem depender do machismo estrutural que desvaloriza o gênero feminino no mercado de trabalho.

A ideologia da Mandala da Prosperidade – ou Telar dos Sonhos e Mandala da Abundância, como também é conhecida – é nobre, mas baseia-se num esquema perverso: a velha lógica da pirâmide financeira que promete multiplicação de lucros às custas do aliciamento de novos membros.

O esquema já se popularizou em países como Estados Unidos, México e Peru. Há alguns meses, ele também vem ganhando força no Brasil, em especial no Sul e no Sudeste.

Explicando na prática: para unir-se ao esquema você precisa ser convidada por alguém de dentro dele e também precisa pagar o equivalente a 1.700 dólares. Assim, você se transforma em uma Mulher Fogo. A amiga que convidou você era uma Mulher Fogo, mas passa a ser uma Mulher Ar quando consegue convencer outras duas mulheres a entrarem na Mandala. Feito isso, é a sua vez de “convidar” mais duas mulheres e assim por diante. Após o estágio Ar, você se transforma em Mulher Terra e, finalmente, chega ao centro da Mandala, no estágio Água. A promessa é que, ao transformar-se numa Mulher Água, você receberá a soma dos 1.700 dólares ~doados~ por todas as mulheres que chegaram depois de você na Mandala. Como sempre haverá duas Mulheres Terra em cada Mandala, na etapa em que as Terra passam a ser Água, a Mandala se divide em duas e inicia-se um novo ciclo. 

Entenda melhor através dessa explicação AQUI e assistindo a esse vídeo:

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A estrutura é de pirâmide pura e simples, só que em pequena escala. Em tese, quando uma Mulher Água recebe o dinheiro (cerca de R$ 36 mil), ela deve começar como Mulher Fogo em uma nova Mandala que está se formando. Mesmo assim, o esquema está fadado a prejudicar muitas mulheres e beneficiar apenas poucas. É matematicamente impossível que todo mundo saia lucrando.

Acontece que a grande sacada da Mandala da Prosperidade é a de utilizar o discurso feminista e a ideologia espiritual new age como base para sua narrativa. Existe a premissa da sororidade como base de tudo, mas há também um embasamento místico envolvido. A força do sagrado feminino é invocada como pilar, para convencer as participantes de que aquilo ali dará certo, de que ali pulsa uma energia alimentada pela união de centenas de mulheres em busca de seus sonhos.

A coisa toda ganha contornos de seita, onde é preciso aliciar cada vez mais mulheres, e da forma mais discreta possível. Fala-se, inclusive, no bloqueio de energia que supostamente se estabelece quando alguma novata se mostra resistente à efetuação do pagamento e/ou questiona a legitimidade da Mandala.

maurusone/Thinkstock/Getty Images
maurusone/Thinkstock/Getty Images ()

Para manter o clima efervescente entre as mulheres, encontros são realizados com frequência. Segundo depoimentos de ex-adeptas mexicanas, em entrevista a Vice, os encontros têm um ar de palestra motivacional, misturado com a celebração das graças alcançadas, o que é padrão em qualquer esquema financeiro desse tipo. Na Mandala da Prosperidade, não é pregado o sentimento de rivalidade e ganância, mesmo assim, há festinhas para comemorar o lucro adquirido pelas Mulheres Água. “Os aplausos não paravam, eram como festas de aniversário”, diz uma ex-participante. Ela conta que o propósito das festas era muito claro: motivar as outras adeptas a atingirem o centro da Mandala – em outras palavras, o topo da pirâmide – também. E assim se cria um clima passional, um frenesi em torno da promessa de que você está prestes à realizar seus sonhos, desde que mais mulheres sejam convencidas a doar dinheiro.

O empoderamento de mulheres e a busca por espiritualidade são coisas muito nobres, mas infelizmente, podem ser usados de forma perversa. Isso não significa que o feminismo e as filosofias new age sejam ilegítimos – de maneira nenhuma! Mas, nem por isso, devemos ficar alheias a esse tipo de situação, que está prejudicando tanta gente. Mesmo assim, vamos continuar acreditando (muito!) na força das mulheres e continuar respeitando as crenças que pregam o bem. Isso não muda!

 

 

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