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“Ser mulher é não se calar, não aceitar, não permitir que te diminuam”

A jornalista Carol Patrocínio fala sobre como deixou de querer ser 'um dos caras' para simplesmente ser o que é: mulher

Por Carol Patrocínio (colaborador)
Atualizado em 25 abr 2023, 12h44 - Publicado em 7 mar 2016, 15h37

Pinta as unhas. Faz depilação. Clareia os pelos que restaram. Joga um produto no vaso sanitário antes de fazer cocô para que ninguém, nunca, possa suspeitar que você tem um intestino e que o funcionamento do seu corpo é humano. Acorda mais cedo que todo mundo e se arruma para que ninguém te veja desarrumada. Estar sempre com um conjunto de calcinha e sutiã que combinem – mesmo que propositalmente diferentes – porque o que diriam se você sofresse um acidente, tivessem que tirar sua roupa e você estivesse “de qualquer jeito”?

Sorri. Clareia os dentes. Sorri um pouco mais. Ouve absurdos. Sorri. Não ganha a promoção. Sorri. É motivo de piada entre os caras do trabalho apenas por ser mulher. Sorri. Finge que a cólica menstrual, que descobriram doer tanto quanto um ataque cardíaco, não existe. Sorri. Tenta dar opinião, mas parece que ninguém nem escuta o som da sua voz. Sorri. Clareia de novo os dentes para não sorrir amarelo.

Sempre amei ser mulher, mas por muito tempo desprezei as mulheres. Eu era diferente delas e todo o espectro do mundo feminino não cabia no que eu acreditava. Eu não queria falar de cabelo, dieta, me preocupar mais com minhas paixões românticas do que com meus objetivos. Achava que ser feminina era ser fútil. E eu não tinha tempo para isso. Não tinha tempo para pensar muito em que roupa usar, na maquiagem, acordar mais cedo para fazer escova no cabelo e esperar a cara desamassar para sair de casa. Eu era diferente. Era quase um cara. E todo o poder do mundo estava nas minhas mãos – tudo por estar tão perto deles.

Só que um dia eu deixei de ser um dos caras. Eu notei que faltava algo, que muita coisa que acontecia dentro de mim não fazia sentido para eles. O que me incomodava era frescura. O que me deixava noites em claro jamais tinha passado pela cabeça de nenhum deles. Eu tinha entendido tudo errado. Ser mulher não era cuidar do cabelo, ter aparência impecável, não falar palavrão ou sentar com as pernas fechadas. Ser mulher era ser o que eu queria ser. Era andar na rua e sentir os olhares. Começar a falar e sentir o descrédito. Era nunca estar perfeita, não importa quão cedo você tinha acordado para se arrumar. Ser mulher era algo tão plural que englobava o que eu queria, o que eu não suportava e coisas que eu nem imaginava que pudessem existir.

Pequenas caixinhas

Descobri que tudo aquilo que eu via como obrigação feminina eram as prisões. São pequenas caixinhas apertadas em que nos colocam dentro, nos espremem bastante para fazer caber e então fecham. Enquanto você sufoca, tenta sobreviver. Então você vai se adequando. Usa a roupa certa para conseguir a promoção no trabalho. Arruma o cabelo do jeito certo para conquistar o amor verdadeiro. Gasta duas horas diárias passando e tirando produtos do rosto, passando cremes para que o tempo não te alcance.

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E você falha. Falha o tempo inteiro. Porque ser mulher não é só isso. Mas não pode ser muito além disso. Tem que seguir uns padrões que ninguém entende direito e ninguém nunca está totalmente dentro deles. Ou está até que tenha uma atitude que incomode alguém. Aí, pronto, não é mais mulher certa. Mulher pra casar. Mulher direita.

Então aprendi: ser mulher é apenas ser. Não tem uma fórmula, um jeito certo, um objetivo a ser alcançado ou uma premiação de quem é melhor nisso. Somos todas. Mesmo aquelas que incomodam por estarem tão distantes do que você acredita ser mulher.

Hoje eu sei que não preciso de salto alto, maquiagem, cabelo longo, palavras curtas, servidão, mania de limpeza, instinto materno pelo mundo, vontade de me doar 100% a alguém que não seja eu mesma. Sei que posso falar palavrão, sentar de perna aberta, escolher as roupas que me deixam feliz, sair de cara amassada na rua, dormir no metrô em dias de cansaço. Rir e chorar sem medo de ser chamada de louca.

Ser mulher é ser forte. Se permitir ser fraca. E entender que tudo isso faz parte de uma mesma moeda. Ser mulher é não se calar, não aceitar, não permitir que te diminuam. É amar com todo seu ser, mas só a quem você escolhe amar e principalmente a você mesma. Ser mulher é ser quem você quiser, como quiser e quando quiser. Ou talvez isso seja ser eu, que gosto tanto de ser mulher e me encanto tanto com as mulheres maravilhosas que cruzam minha vida todos os dias, que nem sei mais o que sou eu e o que é o feminino. Sejamos.

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