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A criatividade da garotada é natural

Brincar, fazer com que as atividades diárias sejam interessantes e transformar até a lição de casa em prazer são as melhores maneiras para desenvolver a imaginação e a criatividade, características inatas ao ser humano.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 05h44 - Publicado em 2 out 2014, 22h00

Foto: Getty Images

Toda criança nasce brincalhona e criativa, mas cabe aos pais incentivar e desenvolver as potencialidades dela. Como? Investindo em atividades lúdicas e arte. Nossas casas são como um quintal onde os filhos crescem aprendendo e usando a imaginação. “Mas é importante abrir espaço para a criatividade sem exigir ou esperar grande performance da criança”, avisa a psicoterapeuta Catherine Dolto-Tolich*, nesta entrevista. Confira:

A partir de que idade a criança começa a desenvolver a criatividade?

Ela já nasce com os cinco sentidos despertos, sensível aos sons, à música, aos ritmos, às formas, às cores, aos movimentos. Desde o útero, o feto se diverte se alguém brincar com ele. Quando relaxado, se mexe espontaneamente, acompanhando a respiração da mãe. Se, ao pressionar a barriga, alguém lhe mostra que pode se movimentar ainda mais, lateralmente ou girando ao redor do eixo, ele nos surpreende com movimentos semelhantes a uma dança. Essa propensão a brincar, criar, interagir é especificamente humana. Ela é inata e, se não for solicitada, não se desenvolve ou se desenvolve pouco.

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Os pais podem ajudar a desenvolver a criatividade dos filhos?

Sim, com cuidado para não confundir expressão e criatividade. Uma criança que solta um grito e faz um gesto está se exprimindo. Mas se dissermos: “Neste grito eu quero ver sua alegria, sua vontade, sua raiva…”, a criança vai procurar dentro de si como ser “criativa” e dar sentido ao grito. A expressão em si não é boa nem ruim, mas, se você quer ajudar seu filho a ser criativo, é preciso dar função e sentido à expressão espontânea dele. Para saber qual a habilidade de uma criança, basta observá-la. Se aprecia o movimento, pode gostar de dançar, de brincar de roda, de fazer mímica. Se gosta de cores, pode se interessar por pintura, lápis de cor, massinha de modelar, uma câmera fotográfica – já vi fotos extraordinárias tiradas por crianças de 3 anos. Se presta muita atenção nos sons, nos barulhos da rua, nas sirenes de bombeiro, o melhor é mostrar-lhe músicas variadas, cantar, bater panela com ela.

Brincar é uma boa maneira de estimular a criatividade?

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A criatividade não pode ser desassociada da brincadeira. Brincar de se fantasiar, por exemplo, permite que a imaginação seja estimulada desde que você ajude a criança a compor o personagem. Pergunte a ela: “Como ele anda?” e “Como fala?” É importante levar a criança a descobrir que de trás da fantasia existe um personagem, não basta pôr a roupa diferente e agir do jeito de sempre.

O que mais podemos oferecer aos nossos filhos?

Movimentar-se, dançar, mostrar músicas de que você gosta, compartilhar suas emoções dando nome a elas. Imagine que você está levando a criança à escola e o dia está muito agradável. Se você fizer com que ela note como o céu está bonito, como as folhas brilham ao sol, cada vez que ela passar por ali vai tomar a iniciativa de pensar algo a respeito da paisagem. A criatividade se alimenta de experimentação, sentimentos, toques, cheiros. É possível convidar a criança a sentir o vento soprando no rosto, o aroma que fica no ar depois que chove, coisas assim. Quanto mais coisas mostramos às crianças, melhor. Nós nos constituímos de uma série de experiências, que alimentam os pensamentos e se interligam para formar nossa personalidade.

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É importante para a criança praticar atividade artística?

Todas as crianças têm o direito de experimentar a arte. Sem serem Chopin, Nijinski ou Picasso, são músicos, bailarinos e pintores suficientes para experimentar o prazer e desenvolver a inteligência. A arte é uma libertação, um meio de se exprimir, de falar de si mesmo. Nós relaxamos por meio da criação e isso se transforma em sublimação. Podemos descarregar a agressividade – como a vontade de bater no irmão – com uma escultura bem bonita feita de pregos encontrados na caixa de ferramentas do pai. Também sou a favor dos cursos de arte, mas não acho correto fazer os pais se comprometerem com a matrícula para o ano todo, prendendo-os por um contrato financeiro. Se a criança deseja sair do curso, eles ficam aborrecidos. Como resultado, a criança é acusada de perdulária. Ela leva a culpa, mas, na verdade, só está fazendo suas experiências para encontrar o que mais lhe agrada.

Mas como fazer a criança compreender que deve ter perseverança e se esforçar?

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É preciso explicar-lhe que não existe nada apaixonante se não houver contrariedades. Quanto mais talento se tem, mais esforço é devido. A questão é fazer a criança compreender o que queremos dizer, usando exemplos: para apreciar a visão mais bonita da cidade, terá de subir um morro. Mas não é fácil convencer um pianista iniciante de 6 anos a praticar todos os dias… É possível criar imagens para a criança, dizendo coisas como: “Toque como se você estivesse com os dedos em um pote de amendoim ou em uma tigela de mel”. Com o piano, existe o prazer tátil, vibratório e sonoro do instrumento. Por que não explorá-lo? As coisas feitas com prazer saem melhores.

O que pode impedir uma criança de ser criativa?

Concentrar-se sobre seus resultados ou exigir que produza obras-primas pode acabar com sua criatividade. Não se deve pensar em rentabilidade quando o caso é de tempo e recursos dedicados a realizar algo criativo.

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Os bloqueios de algumas crianças derivam das frustrações dos pais, que não se consideram criativos?

Será que existem dois tipos de pessoa, as que são artistas e os simples mortais? Não. São raríssimas as pessoas que não têm habilidade nenhuma. Podemos ser bons na cozinha, em fazer castelos de areia, em construir cabanas, em plantar flores. Dá para colocar poesia e criatividade em tudo.

Existe alguma criança totalmente desprovida de criatividade?

Não. Se ela não se interessa por nada, é porque não encontrou o que vai despertar sua criatividade. Ou pode ser que não se sinta segura o suficiente para criar. A educação também pode transformar uma criança em um ser totalmente passivo: acontece quando ela foi ensinada que, para ser amada, precisa viver em “banho-maria” – não pode cantar alto, se movimentar muito, dizer coisas que ninguém entende. Alguns pais têm medo da imaginação dos filhos.

*Catherine Dolto-Tolich é filha da renomada psicoterapeuta infantil francesa Françoise Dolto. Ela também é psicoterapeuta e trabalha com Frans Veldman, com haptonomia – técnica que usa o contato físico como forma de tratamento e prevenção de doenças. Além disso, é autora de uma coleção de livros infantis publicada na França pela editora Gallimard Jeunesse.
 

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