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Alcoolismo: não bebo há 12 anos, mas a luta ainda é diária

Tive cinco abortos por causa do alcoolismo e cheguei ao fundo do poço. Cada dia limpa é uma vitória

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 03h30 - Publicado em 15 mar 2010, 21h00

Se penso em beber, lembro: quem se ferra depois sou eu. E resisto
Foto: arquivo pessoal

Eu acordava às 5h da manhã, seca por um copo de uísque. Ao longo do dia, era capaz de tomar uma garrafa inteira. Mesmo assim, não achava que estava doente. ”Só mais um copo”, eu pensava. Foi assim, sem perceber, que entrei numa roubada e perdi 21 anos da minha vida.

Sofri consequências graves. Tive cinco abortos. Os fetos simplesmente paravam de se desenvolver. Na gravidez do meu filho mais velho, que hoje tem 17 anos, comprei poucas roupinhas. E, mesmo no início da gestação, bebia cerveja. Depois, consegui parar com o álcool até que ele nascesse. Mas, no fundo, não acreditava que aquela criança sobreviveria.

Eu mal cuidava dos meus filhos

Meu marido trabalhava fora e era eu quem levava nossos filhos, na época com 2 e 5 anos, de carro para a escola, para as festinhas, ao pediatra… Sempre bêbada. No ápice da doença, lembro de não conseguir sequer chegar ao meu quarto após colocar os meninos para dormir.

Meu marido me encontrava no chão, caída entre as camas das crianças. Mas ele não reclamava das minhas extrapoladas. Só lembro de, às vezes, escutá-lo dizer algo do tipo: ”Agora chega, Mitsue”.

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Para manter o vício, eu adaptava a minha vida. Mantinha o berço do meu filho menor com cerca de 30 chupetas espalhadas, por exemplo. Assim, se ele deixasse cair a que estava usando, poderia pegar outra sozinho. Já me desequilibrei de bêbada com o mais velho no colo. Muitas vezes eu tirava os pequenos da cama naquele frio de lascar só para comprar mais bebida. E se naquela época eu não tivesse uma empregada que era um anjo, provavelmente eles também não tomariam banho nem jantariam… Porque, ao final de cada dia, meu estado era deplorável.

Na infância, eu bebia vinho em casa

Meus porres começaram na adolescência. Eu ia para festinhas e bebia de tudo. Na verdade, eu já bebia na escola de manhã e passava o dia assim, até a noite. Nessa época, eu trabalhava como vendedora. Fazia qualquer coisa para não voltar cedo pra casa e encontrar meus pais. Infância difícil… Embora minha mãe fosse amorosa, meu pai era agressivo. O momento mais assustador do dia era quando ele chegava do trabalho. Meu pai nos espancava e quebrava tudo, a ponto de não termos pratos para comer. Em momentos festivos tinha muito álcool lá em casa. Meus pais faziam ponches, misturavam vinho com água… E no fim eu também tomava.

Frequento o AA religiosamente

Para sair desse inferno familiar, engatei um relacionamento sério com o rapaz que viria a ser meu marido. Eu tinha 17 anos. Meu primeiro filho só nasceu dez anos depois. Eu enchia meu bebê de presentes para mantê-lo ocupado e quieto. Assim podia aproveitar minhas garrafas de uísque em paz.

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O tempo passou, eu tive mais um filho e conversava cada vez menos com as pessoas. Só pensava em me isolar do mundo. Ao abrir os olhos de manhã, queria morrer. Então, mandava outra dose pra dentro e aliviava aquele sentimento ruim.

Minha situação era péssima. Algumas pessoas de fora percebiam que algo estava errado. Até que uma vizinha me procurou: ”Tome este telefone, Mitsue. É de um ótimo psiquiatra. Você está precisando”. Eu resisti, mas liguei. Ele me medicou e me encaminhou para as salas dos Alcoólicos Anônimos (AA), que frequento religiosamente há 12 anos, três vezes por semana. Só lá encontrei minha libertação.

Evitei recaídas

Não foi fácil superar o vício. Depois de um tempo abstinente, ainda sentia vontade de beber se algo fugisse aos meu planos. Qualquer pequeno atrito era suficiente para desencadear um sentimento de revolta dentro de mim. Então, logo lembrava do álcool. Às vezes, em um impulso, eu pensava: ”Ah, que se dane! Vou beber mesmo!”. Mas logo depois lembrava que na vida tudo é passageiro. E, em caso de recaída, quem se daria mal era eu. É por esse motivo que até hoje vou às reuniões do AA. Ali recebo as ferramentas para lidar com esse desespero e me lembro que a recuperação é construída dia a dia. Mesmo quando você pensa que está curado, é importante buscar o autoconhecimento e a força. Sempre.

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