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Caroço: como descobri que estava com câncer

Nossa colunista Ana Barbosa compartilha sua luta contra o câncer de mama.

Por Ana Barbosa (colaborador)
10 out 2016, 15h49

O que será isto? Não estava aqui antes. Estranho…

Dia seguinte. Deixe-me ver, hummm continua. O que é isto? Um caroço, que saco, o que faço? Tenho que averiguar, contar para meu marido, ir ao médico. Mas espera, é preocupação à toa, deixa voltar para casa.

Foi assim, no meio de uma viagem, passando creme nos seios, que descobri o meu caroço. Qual pedra no sapato, caroço, cada uma tem o seu.

Contei para meu marido quando já estávamos no avião e mal entrei em casa, fui ligar para o ginecologista. Hora marcada, lá vou eu. “Precisa fazer uma mamografia, outra. Estranho, porque a última é de fevereiro, fazem só oito meses.”

Pronta a mamografia, é claro que veio o pedido de biópsia. Cá estou eu de volta ao laboratório, sozinha como sempre. Sinto que as pessoas começam a estranhar. Deveria estar acompanhada, mas por quem? Marido? Amiga? Filhas? Estou bem só. O chato mesmo é que morro de medo de injeção, e no seio ainda por cima.

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Quando digo morro de medo, é porque MORRO de medo. Ao avistar aquela seringa com a agulha espetada para o alto, prestes a dar o bote, fico apavorada. Volta a menina de oito anos que fugia do farmacêutico, com medo da picada que se aproximava. É mais forte do que eu. Nessas horas tenho vontade de gritar: Quero minha mãe! Mas não adianta, ela não está aqui para segurar minha mão… O pior é que injeções acontecem e, como adulta que sou agora, já não posso sair correndo. Mas, que tenho vontade, isso tenho.

Biópsia feita, toca a esperar o resultado. Na segunda-feira recebo o telefonema do médico. Ao ouvir sua voz, penso, ferrou. Se ele está me ligando, coisa boa não é. Dito e feito.
“O resultado do seu exame deu positivo, seria melhor a senhora vir até aqui.”

E lá fui eu. Saí do consultório com indicação de cirurgião e mais pedidos de exames. Aliás, os exames se sucederam a partir de então. Mexe daqui, mexe dali, segura, aperta, espeta. Entrei no mundo do câncer. Dei a partida numa engrenagem que praticamente anda sozinha. A gente é só mais uma peça.

Difícil foi escolher o médico cirurgião. São todos competentes e bem recomendados, como decidir? A essas alturas, eu já não estava mais sozinha, marido, filhas e filho se postaram ao meu lado, dando o maior suporte. E eu a eles, difícil saber quem ficou mais assustado. Não dá para explicar, mas quase que me parecia natural o que estava acontecendo. Tinha que ser. Fatalismo? Não sei.

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Decididos o médico e o tipo de procedimento, marcamos a cirurgia. Exatos vinte dias depois de minha consulta com o ginecologista, entrei no hospital para ser operada. Foi tudo tão rápido, que não tive tempo para pensar e ficar imaginando coisas. A cirurgia me parecia o ponto final, o depois não existia e aos poucos é que fui entendendo onde tinha me metido.

O bom é que fui internada pela manhã, pois não tive que passar uma noite chata e ansiosa no quarto estranho. A cirurgia foi um sucesso, e saí da mesa do mesmo jeito que entrei. Ainda que conscientemente soubesse que haviam extirpado um pedaço meu, ao me olhar eu via os dois seios inteirinhos, mais bonitos do que antes até. É aquela história, o que os olhos não veem, o coração não sente.

Me pus a pensar nas mulheres que fizeram esta cirurgia antes de mim, ou até mesmo quem, hoje em dia, depende do SUS e não consegue fazer a reconstrução. Quão traumático deve ser abrir os olhos e se deparar com o peito mutilado, aquela coisa reta… Ter que colocar um pano dentro do soutien, como ouvi de alguém nem faz muito tempo. Mulheres que não têm os meios para serem tratadas pelos melhores médicos, nos melhores hospitais. Mulheres que têm que lutar sozinhas contra a doença, sem o suporte de uma família preocupada e amorosa como a minha. Penso nisso e percebo como tenho sorte. Descobri que tenho câncer, uma doença horrível, é verdade, mas, peguei no começo, tem cura e estou muito bem assistida. Não poderia querer mais.

Durante esse tempo, não posso dizer que tenha tido medo. Mas, também, não tinha consciência do real perigo. Como já disse, achava que a cirurgia era um fim em si. Realmente balancei quando recebi do médico as instruções sobre a próxima fase do tratamento, a quimioterapia. Um choque. Não sei o que esperava, mas essa palavra e a imagem de minha cabeça totalmente careca me assustaram muito.
Só que aí já é outra história…

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