Meus filhos não podem comer nada
Eles têm uma alergia rara. Não frequentam a escola e raramente saem de casa pois podem ficar doentes
Nicole e João Vithor têm alergia a todo
tipo de alimento. Basta um pedacinho
de batata para eles pararem no hospital
Foto: Weimer Carvalho
”Mamãe, posso comer?” Cada vez que escuto essa frase meu coração fica em pedaços. Não porque falte comida em casa, mas porque meus filhos não podem se alimentar como as outras crianças. João Vithor, de 3 anos, e Nicole, de 1 ano e meio, têm uma doença muito rara, a alergia alimentar múltipla.
Eles vivem à base de uma espécie de leite com uma fórmula que não dá reação alérgica. Mas, sem uma alimentação normal, os corpos deles ficam com poucas defesas. Por isso, eles quase não saem de casa nem convivem com outras crianças para não pegar uma doença oportunista.
Descobrimos o problema quando João Vithor ainda era bebê. Ele mamava e vomitava em seguida. Chegou a passar um mês com diarreia. Os médicos viam a barriguinha inchada e diziam que eram gases. Eu e meu marido, Roger, quase não dormíamos, porque tínhamos de levar o João ao pronto-socorro dia sim, dia não. Até que a pediatra de um posto de saúde, que tinha filhos com alergia a alimentos, suspeitou do caso.
Os médicos tentaram descobrir a quais comidas o João Vithor reagia mal. Suspenderam o leite de vaca. Depois, os derivados de soja. Mais tarde, os alimentos com trigo. Finalmente nos pediram para tentar dar ao meu filho uma mistura de batata, arroz e banana. Um a um, esses itens tiveram de ser tirados das refeições. A cada comida que tentávamos dar, meu filhinho tinha uma reação: vômitos, diarreia, bolotas na pele e dificuldade para respirar.
Ele ficou tão fraco que não conseguia parar sentado
Por conta disso, o João Vithor não tinha resistência. A cada 15 dias tinha uma infecção de garganta. Meu menino ficou tão fraco que não conseguia mais parar sentado. Em setembro de 2007, aos 2 aninhos, ficou internado por um mês inteiro. Ele recebia na veia uma solução de aminoácidos, os pequenos pedaços que formam as proteínas. Os médicos decidiram que meu filho só poderia se alimentar com um leite que não dá alergia.
Cada lata custava R$ 120. Ele tinha de mamar de três em três horas. Era quase uma lata por dia. Para pagar, vendemos móveis, roupas, celular, tudo o que tínhamos em casa. Ficamos só com um banquinho na sala.
O problema é que os médicos concluíram que o leite ideal tinha de ter outra fórmula. O produto novo saía por mais de R$ 300. Alimentar meu filho por um mês custaria mais de R$ 10 mil. Impossível.