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PrEP: tudo sobre o remédio que previne a contaminação por HIV

O medicamento, que será distribuído pelo SUS, previne o HIV, mas médicos alertam: ele não é um substituto da camisinha

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 20 jan 2020, 12h32 - Publicado em 8 jun 2017, 19h40

Você sabia que já existe um medicamento que pode prevenir o vírus HIV? E que ele será distribuído gratuitamente pelo SUS ainda este ano? Imagine se a gente voltasse para os anos 80, quando os primeiros casos de pessoas soropositivas eram tornados públicos, e contasse isso para o pessoal… Metade provavelmente não acreditaria, e a outra metade choraria de emoção.

Pois não só é verdade como o Brasil está na vanguarda da prevenção à infecção pelo HIV na América Latina. Somos o primeiro país da região a seguir a orientação da Organização Mundial da Saúde e colocar a PrEP – sigla em inglês para profilaxia pré-exposição, realizada com o medicamento Truvada – nas políticas de saúde pública.

Foram 13 anos de estudos em todo o mundo e um projeto bem abrangente por aqui – o PrEP Brasil, que testou o tratamento com voluntários em São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Porto Alegre e teve como resultado 100% de sucesso, ou seja, nenhum infectado – para chegarmos à distribuição gratuita do remédio. O prazo máximo para que isso aconteça é de 180 dias a partir de 29/5, quando foi publicada a portaria do Ministério da Saúde no Diário Oficial da União.

 

PrEP não substitui a camisinha

Desde 1982, quando foram confirmados os primeiros casos de pacientes com o vírus HIV no país, todo mundo sabe de cor o slogan “use camisinha”, que está em todas as campanhas de prevenção à AIDS no Brasil. Por isso, é natural que muita gente se pergunte: “Ué, não é só usar camisinha? Pra que tomar remédio? É para parar de usar camisinha?”.

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A ideia da PrEP não é e nunca será substituir ou dispensar o uso de camisinha – quem usa deve continuar usando –, mas sim atender um público que não tem o vírus e não consegue usá-la para se prevenir.

“Algumas pessoas não têm poder de negociação para que o parceiro use preservativo, e outras nem sempre estão em condições de usar por conta própria, seja por tesão ou por estarem com a consciência alterada”, afirma Ricardo Vasconcelos, médico infectologista da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do PrEP Brasil.

Ele defende a camisinha como a melhor forma de evitar o vírus e todas as outras doenças sexualmente transmissíveis, além de uma gravidez indesejada, e classifica a PrEP como uma “estratégia adicional e de redução de danos”.

Leia mais: Especial Camisinha ainda tem que usar

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“É uma visão realista. Jamais se desestimulará o uso de preservativo. Quem precisa do tratamento já não usa a camisinha e vinha sendo marginalizado pela saúde pública em todo o mundo. A PrEP é uma maneira de acolher essas pessoas”, diz, “porque todo mundo tem o direito de fazer sexo do jeito que pode, quer ou gosta sem risco de contrair o vírus HIV”.

Material de divulgação da PrEP no Brasil (PrEP Brasil/Reprodução)

Quem tem direito à PrEP pelo SUS

O risco de infecção pelo HIV a que quatro grupos estão expostos os definiu como os pioneiros para terem direito à PrEP pelo SUS: pessoas trans, homens que fazem sexo com homens – “não necessariamente homossexuais, pois há muitos pais de família que fazem sexo casual com outros homens”, ressalta Ricardo –, profissionais do sexo e casais sorodiscordantes (em que um tem o HIV e o outro, não).

Os dois primeiros grupos são os estatisticamente mais vulneráveis no sexo sem proteção. Ricardo conta que o risco de uma pessoa trans contrair HIV dessa forma é de 30%, e o de um homem que transa com outros homens, de quase 20%.

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Só para você ter uma ideia do que isso significa: uma mulher brasileira de classe média, escolarizada e na casa dos 20 anos tem apenas 0,5% de risco de ser infectada pelo HIV. O médico infectologista desenha para a gente entender: “Se essa mulher transar sem camisinha com um cara que conheceu na balada, as chances de ser infectada são as mínimas das mínimas. Já a pessoa trans corre o risco em uma a cada três vezes em que faça isso, e o homem que faça sexo com outros homens, em uma a cada cinco vezes”.

Vulneráveis

No sexo sem proteção, uma pessoa trans tem 30% de risco de contrair HIV e um homem que transa com outros homens, quase 20%

Os outros dois grupos entram na fase inicial da PrEP por uma questão de impossibilidade de negociar o uso da camisinha, no caso de profissionais do sexo, e de direito de transar com o parceiro ou a parceira soropositivo/a sem se preocupar com a transmissão do vírus.

Direito não é obrigação

Um aspecto que Ricardo faz questão de destacar é que, mesmo fazendo parte de um desses grupos, a pessoa pode não precisar da PrEP. E de jeito nenhum é obrigada a ir atrás disso no SUS.

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“Uma pessoa trans que esteja em um relacionamento monogâmico em que nenhum dos dois seja soropositivo não precisa do tratamento, assim como uma profissional do sexo que sempre use camisinha”, exemplifica.

Para ficar bem claro mesmo: precisa da PrEP quem não tem o vírus HIV, está em um desses quatro grupos e, pelos motivos que forem, não usa camisinha.

Todo mundo tem o direito de fazer sexo do jeito que pode, quer ou gosta sem risco de contrair o vírus HIV

Ricardo Vasconcelos, médico infectologista e coordenador do projeto PrEP Brasil

Como funciona o tratamento

A PrEP exige o consumo de uma pílula de Truvada por dia. Truvada é o nome comercial do medicamento retroviral que é uma co-formulação de tenofovir e emtricitabina, dois dos componentes do coquetel tomado por quem tem HIV. Ele age no organismo de uma forma que, se o vírus entra no corpo, já é combatido e não tem a chance de causar a infecção.

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De acordo com a OMS, ele precisa ser tomado por pelo menos sete dias antes do sexo anal e 20 dias antes do sexo vaginal para ser considerado uma proteção efetiva.

Para manter o direito de receber os frascos do remédio, a pessoa precisará passar por uma avaliação trimestral. Nela é realizado um exame de sangue para detectar a presença do medicamento no organismo e, assim, confirmar se o tratamento está sendo levado a sério; se as pílulas não forem tomadas todos os dias, a eficácia será comprometida.

Também é feito aconselhamento e um outro exame de sangue, este para testar DSTs como sífilis e gonorreia. Além disso, a pessoa ganha camisinhas e lubrificante.

“Com a testagem constante, todas essas pessoas poderão tratar as doenças sexualmente transmissíveis precocemente e, aos poucos, o número de novos casos de DSTs tenderá a cair”, comemora Ricardo. O que é ótimo, já que estamos vivendo uma epidemia de sífilis no Brasil.

E, para quem questiona o fato de se tomar remédio todos os dias sem estar doente, a resposta do infectologista é bem simples e definitiva: “Tomar pílula anticoncepcional todos os dias é uma prevenção à gravidez. Quando uma pessoa é picada por uma cobra, é aplicado o soro antiofídico como forma de prevenção à necrose. A PrEP evita o HIV. A profilaxia, mesmo que não se note, já faz parte do nosso dia a dia. É a melhor maneira de evitar doenças e situações de saúde indesejáveis”.

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