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“Estamos cansados da globalização”, diz expert em tendências

Expert em tendências que vão de moda a economia, o britânico David Shah diz que estamos nos cansando da globalização, do excesso de informação inútil e da correria do mundo

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 15 jan 2020, 14h29 - Publicado em 12 set 2013, 21h00

“As portas estão se abrindo, mas é preciso que as mulheres queiram passar por elas”, declara David Shah
Foto: Mark Mawston

David Shah diz que não gosta de ser chamado de “guru das tendências”, mas não é por isso que vai negar a expertise em antecipar o que se avizinha no futuro próximo. Sua especialidade? Meio que tudo: moda, economia, política, comportamento… tudo, na verdade, que possa iluminar o santo graal do mercado: o que o consumidor vai querer comprar em breve, mesmo que ainda não saiba. Não por acaso, esse britânico de 62 anos roda o mundo dando palestras e prestando consultoria a empresas de todos os ramos – Pantone, GE, BMW, Philips… até a ONU quis saber dos seus pitacos. E olha que ele acerta mesmo. Ele começou a falar, lá no início dos anos 90, que o “verde” era fashion. Tratava-se de uma tal de sustentabilidade…

Hoje, para decifrar por onde a moda e os costumes vão, ele continua ligado nas tendências macro. A velocidade com que as coisas acontecem, o excesso de informação e a perda da identidade local com a globalização estão finalmente pesando. “Estamos andando tão depressa que há cada vez mais movimentos para que nos acalmemos, para tornar as coisas mais lentas.” Uma rapidez que, ele avisa, não é (novamente) sustentável. Mas, realista, avisa: a economia, as indústrias e as marcas vão ter de se aperceber disso.

Qual foi, na sua opinião, a mudança mais importante dos últimos tempos?

A coisa fundamental dos últimos dez anos foram as redes sociais. Elas deram poder e informação às pessoas, o que mudou tudo. No início dos anos 90, eu e minha equipe fomos os primeiros a falar sobre o “estilo verde”. Estávamos certos, pois o verde ainda não estava na moda. No entanto, sabíamos que o mundo inteiro se tornaria sustentável e ecológico, o que seria outra grande mudança. Agora, a questão é a escassez de água.

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Sustentabilidade é realmente uma tendência e uma preocupação real?

Antes de 2008, houve um sério movimento, na moda, sobre sustentabilidade, que partiu dos próprios estilistas. De repente, tudo isso parou, por causa dos altos preços e valores de produção. A verdade é que as pessoas não estão preparadas para pagar mais. Cada lado diz que não é de sua responsabilidade. E o problema está aí: quem é o responsável e quem está educando quem? Isso tudo puxa o avanço para trás. Por outro lado, vários grandes negócios são sustentáveis, porque economizam dinheiro com reciclagem. Quando as pessoas percebem que a sustentabilidade faz parte da engrenagem de uma produção, e não é perda de tempo e de dinheiro, elas adotam esse modelo.

Com o que mais devemos nos preocupar?

Acho que o próximo problema será comida – mas acho que não no Brasil. E acho que as pessoas entrarão em uma guerra geracional, entre grupos etários. O que os mais novos farão com os mais velhos e o que faremos com os mais jovens? Nós, mais velhos, não desistimos de nada, não abrimos mão do trabalho e queremos ficar onde estamos. Porém, não há espaço para todo mundo.

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No passado, trabalhadores batalhavam por uma jornada menor; hoje trabalhamos mais e achamos normal. Isso é realmente necessário?

Isso mudará. Há um movimento surgindo, que eu chamo de “new sublimity”. É um questionamento sobre o que é ser humano. Estamos tão conectados à internet que perdemos o sentido de sermos humanos no que diz respeito ao comportamento de grupos e à interação. A forma como fazemos as coisas e como as observamos mudou completamente. Isso é culpa da minha geração, nós é que introduzimos essa ideia de consumo. Nós trouxemos o jeans, o hambúrguer e o rock n’ roll. Deixamos de ser uma economia baseada na manufatura e passamos a ser economia de serviços. Terceirizamos tudo, porque o significado da marca tornou-se mais importante do que a produção. Ninguém sabe de onde vieram os produtos. Sabemos somente a marca que está estampada neles.

Isso é ruim? Por quê?

É muito perigoso, pois perdemos a noção de qual é o verdadeiro valor de um produto. Se pensamos somente na marca e no significado dela e nos esquecemos de quem a produz, não há mais nenhum entendimento de produto. Na Europa e nos Estados Unidos, tudo diz respeito ao preço, e não às condições de como as peças de roupa são feitas. Estamos andando tão depressa que há cada vez mais movimentos para que nos acalmemos, para tornar as coisas mais lentas.

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Como isso se aplica à internet? Achávamos que iríamos tirar vantagem dela, mas parece que está acontecendo o oposto…

A velocidade de tudo está rápida demais. Antes, não havia informação. Agora, há excesso, estamos nos sentindo sufocados. Por que está todo mundo dominado pelo tempo? Porque não percebemos que a maioria das coisas que consumimos – produtos e informação – é totalmente desnecessária para nossa vida. Meus filhos pararam de usar o Facebook porque acharam que era perda de tempo. Estamos revendo nossas prioridades porque vimos que o jeito que levamos o mundo não é sustentável. Só que, se as pessoas se acalmarem, vão comer menos e consumir menos. E isso não é do interesse da economia em geral. Tudo gira em torno da educação e de como as novas gerações estão encarando essa mudança.

Por que, hoje em dia, todo mundo está tão obcecado por tendências e em segui-las?

As pessoas não querem ficar para trás, e na correria consomem informação sem nenhuma importância. Não há inteligência na informação. A velocidade está dirigindo as tendências – e a moda. Agora, existem lojas que trocam semanalmente as cores de suas vitrines. As pessoas também estão impacientes. Essa rapidez não é mais sustentável.

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Qual o peso das diferenças culturais nessa mudança?

Essas diferenças diminuíram muito, porque estamos em um período de transição. Antes desse momento fluido, tudo estava globalizado, por mais clichê que essa palavra seja. A mesma roupa é usada em São Paulo, Nova Délhi e Boston. Mas acho que isso está mudando novamente. Agora, pensamos mais na origem das coisas. Vejo, agora, uma preocupação crescente em relação ao local, como o que significa ser espanhol ou o que significa tal produto ter sido produzido na Inglaterra. Isso começa pela comida. Não acho que toda comida local seja melhor que alguma outra, como muitas pessoas dizem. Mas entendo que as pessoas se sintam mais seguras e conectadas a uma comunidade que não seja só virtual e digital. Assim, você tem uma ligação real com seu vizinho. Estamos cansados da globalização, uma vez que vivemos em sociedades locais. O desafio é: como ser local e global ao mesmo tempo?

Falam que as mulheres vão liderar as novas economias globais emergentes. Como isso vai mudar o mundo?

Acho que essa mudança será positiva. As mulheres são muito autoconfiantes, acreditam que podem fazer a diferença. O problema é que o poder corrompe. Ou seja, no fim, muitas mulheres que ganham poder acabam ficando mais masculinizadas. E há um sentimento geral de que as mulheres não estão mais com pressa de chegar ao topo da pirâmide. O problema é: as mulheres realmente querem isso? E, quando elas chegarem lá, vão, de fato, defender os valores femininos?

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Ainda é um grande conflito para as mulheres decidir entre carreira e filhos?

Algumas mulheres conseguiram adaptar a vida para chegar ao topo profissional e ter cinco filhos. Outras preferem dedicar-se somente aos filhos. Para mim, o mundo está procurando um futuro sustentável, e isso tem a ver com qual papel as mulheres terão e como vão desempenhá-lo. Isso é uma questão educacional e cultural. Se formos à Holanda ou à Suécia, ninguém ficará surpreso em ver uma mulher dirigindo um táxi ou um ônibus. Em São Paulo, ainda falamos “Nossa, uma mulher está dirigindo um táxi!” As portas estão se abrindo, mas é preciso que as mulheres queiram passar por elas. É uma grande decisão.

Quais são as próximas tendências, no que diz respeito ao consumidor, nos próximos anos?

Mais apelo sexual para as mulheres, e mais poder sexual para as mais velhas. O espírito de comunidade aumentará, e as pessoas vão querer ter mais informações sobre os produtos e a comida que consomem. O mundo quer olhar para trás, para pertencer a comunidades reais e trabalhar nelas. O novo luxo terá a ver com produtos manufaturados e locais. Para seguir isso, o grande segredo é aquele mesmo: saber observar o que está acontecendo ao seu redor.
 

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