Altos e baixos do amor – conto de Amor e Sexo
Tânia é contratada para distribuir correios-elegantes numa festa. Lá, conhece um rapaz e tudo seria normal se ela não tivesse 1,10 m de altura
Tânia se empolgou com as investidas de Hubert
Foto: Getty Images
Eu já não aguentava mais esperar naquela fila. Seria o segundo dia da seleção promovida por uma agência de eventos para a qual eu costumava prestar serviços. Daquela vez, eles recrutavam pessoal para uma grande festa que uma marca de bebidas iria realizar num galpão na zona oeste de São Paulo. Eles precisavam de profissionais de várias áreas: garçons, seguranças, cozinheiros, chapeleiros e garotas para entregar correio-elegante. Era para esta função que eu estava me candidatando.
Muitas outras pessoas, desempregadas como eu, esperavam sua vez para a entrevista. O procedimento era sempre o mesmo. Uma das meninas da agência nos chamava e fazia as mesmas perguntas de praxe: qual era nosso número de roupa (para o uniforme) e oferecia um mísero pagamento. “Tânia, você é a próxima!”, gritou uma japonesa de cabelos coloridos. Sentei-me com dificuldade na poltrona e ela me secou da cabeça aos pés. “É para o correio-elegante, né?”, perguntou com certo olhar de desdém. “Sim”, respondi, com um falso orgulho.
“Pagamos setenta reais, mais condução e lanche, OK?”, perguntou, já me esticando um contrato para que eu assinasse. Saí dali com um bico garantido para aquele fim de semana. Dois dias depois, lá estava eu a postos. Os cabelos com enormes maria-chiquinhas, um vestido curto vermelho, ridiculamente brilhante, e um sapato de boneca. Fui obrigada a me maquiar em tons fortes, e isso era o que eu mais odiava, pois chamava muito a atenção.
Muita gente bonita circulava naquele galpão. Atores, cantoras, modelos famosos que costumamos ver enfeitando os comerciais de sabonete. Eles estavam sempre sorridentes, envolvidos em suas conversas fúteis sobre moda ou qualquer outro assunto que não exigisse muito raciocínio. Minha missão era circular entre eles e fazer a seguinte pergunta: “Você quer mandar um correio-elegante para alguém? Muitos me olhavam com ar de desprezo, riam e viravam a cara. Outros, um pouco mais espirituosos, ou talvez tão solitários quanto eu, topavam a brincadeira e mandavam suas mensagens através de meus torpedinhos.
“Ruivinha de vestido verde. Apaixonei-me por você. Vamos sair desta festa e curtir uma noitada em outro lugar?” A moça para a qual entreguei o bilhete o leu em voz alta e deu uma sonora gargalhada. Pediu para que eu apontasse o autor da mensagem. Atendi, prontamente. Ao ver a cara do sujeito, sua expressão mudou completamente. O olhar até então aceso e excitado, tornouse triste e desapontado. “Tem certeza de que é aquele rapaz ali?”, insistiu, como que suplicando para que eu mentisse e dissesse que não. Fui honesta e ela rasgou o bilhetinho, sem responder nem pronunciar mais uma palavra.
Depois de cinco horas perambulando pela festa e tentando salvar a vida amorosa dos outros, fui até o vestiário descansar por uns poucos minutos. “Noite longa, né?”, comentou um moço alto, gordinho e de pele bem clara. “Nem me fale, estou um caco”, respondi, observando melhor o sorriso dele. “Prazer, meu nome é Hubert”, disse, estendendo aquelas mãos enormes. “Muito prazer, Tânia”, falei, já completamente ruborizada. Ele me contou que havia sido contratado como barman para aquele evento, mas que no final das contas estava também dando uma ajuda aos garçons. “Essa vida de bicos já me encheu a paciência. Devia ter feito alguma faculdade”, resmungou Hubert em tom de piada.
De volta ao batente, cruzei mais umas três vezes com aquele simpático rapaz durante toda a festa. Em todas as ocasiões ele piscava para mim, num jogo de sedução até então inédito em minha vida. Não via a hora de contar às minhas amigas que aquele homem alto e bonito estava dando em cima de mim, uma mulher que mal passava de 1,10 m de altura.