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Pelos seus olhos

Bonita é uma garota cega e encantadora. Ela se apaixona por um rapaz e é correspondida. Mas o destino apronta das suas e faz com que ele perca a memória

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 12h46 - Publicado em 27 out 2008, 21h00

Ilustração: Dreamstime

Na mesma semana, Danilo voltou à doceria três vezes. “Esse bombocado de vocês vicia!”, brincou. Sentia-me cada vez mais à vontade com ele. 
O suficiente para ir adiante em conversas corriqueiras. Também sentia cada vez mais vontade de tocá-lo. Quando lhe entregava o doce, deixava um dedo encostar levemente nos seus. Fazia isso com cuidado, pois temia que, do caixa, mamãe percebesse algo. “Bonita, seu pai está chamando!”, gritou ela, de repente, numa das minhas tentativas de encostar em Danilo.

Acabrunhada, entrei na pequena saleta e papai me entregou um pacote de balas para esvaziar num recipiente da vitrine. Era só isso. Que baita alívio! Quando voltei, inalei o perfume de Danilo. Ele ainda estava lá. “Seu nome não é Melissa? Por que lhe chamam de Bonita?”, perguntou. Senti meu rosto corar rapidamente. “É um apelido por causa da cidade. Quando era pequena gostava de falar o nome Bonita…e, aos poucos, eles passaram a me chamar assim!”, contei. “Com toda a razão, pois você é realmente bonita”, disparou Danilo.

Temi mais uma vez que mamãe ouvisse algo e disfarcei. “Você quer mais alguma coisa?”, murmurei, como que pedindo que saísse dali antes que alguém notasse nossa conversa. Ele entendeu e foi embora. Já em casa, fiquei ouvindo música no quarto. Adorava escutar CDs românticos. Meus pais sempre me presenteavam com vários. Sons eram muito importante em minha vida: compensavam a ausência de visão e me guiavam por universos que sem eles nem sequer imaginaria.

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“Como será o rosto de Danilo?” Essa pergunta não saía da minha cabeça. 
“Com quem será que ele se parece?”, balbuciei, sem perceber que mamãe estava próxima de mim. “Quem é Danilo, Bonita?”, falou ela, em tom sério, mas amigável. Fiquei em silêncio procurando uma desculpa convincente, que não veio.

“Ninguém, mãe”, falei, sem graça. Ela se aproximou e me abraçou. “Filha, você está estranha. O que foi? Alguém anda mexendo com você?”, falou, baixinho, num esforço cúmplice para que papai não ouvisse.

Eu não era mais uma criança e não deveria me preocupar mais em expor meus sentimentos, mas a dependência que tinha deles me fragilizava. “Não é nada mãe. Danilo é um professor novo na escola”, falei, em minha segunda tentativa de convencê-la. Mamãe deu uma gargalhada e saiu, deixando-me às voltas com meus devaneios.

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Mal abri a loja no dia seguinte e ouvi aquela voz. “Dois bombocados, por favor!”, falou, simulando polidez e uma falsa distância. Fiquei em silêncio e quando estiquei as mãos para lhe entregar os doces, ele as segurou. “Macias, como eu imaginei”, disse, antes de soltá-la, delicadamente. “Você toparia dar um passeio comigo no sábado?”, convidou, sem eu nem esperar. Sem exageros: senti meu coração explodir. Como se todo o sangue do mundo bombeasse dentro de mim naquele momento, sabe?

“Aceito!”, respondi de sopetão, sem nem lembrar de consultar os meus pais. Nunca ninguém havia me feito um convite como aquele e eles não poderiam me impedir de me divertir um pouco. Para minha surpresa, Danilo mesmo foi até o caixa e pediu autorização para a minha mãe.

“Vamos só dar uma volta na praça…”, disse, após apresentar-se e entregar a ela um exemplar da revista na qual trabalhava. Convencida, ela liberou: 
“Olha, seu Danilo, tudo bem, ela pode ir. Mas todo cuidado com minha Bonita”, recomendou, sem notar que, atrás do balcão, sua filha esboçava o maior e mais franco sorriso que já havia dado em toda a vida.

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