Assine CLAUDIA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Por que (ainda!) temos tanta aversão aos pelos femininos?

A gente convida você a debater sobre beleza plural e a conhecer a história de quem venceu o trauma da depilação vencida

Por Júlia Warken
Atualizado em 25 abr 2023, 12h11 - Publicado em 28 set 2015, 10h30

A celebração da beleza plural está aí e a gente AMA. Os padrões também ainda estão aí, ninguém está afirmando o contrário, mas dá uma alegria no coração ver que tem modelo plus size, sim! Tem negra de cabelo natural e maravilhoso, sim! Tem moça careca, sim! Tem mulher sem maquiagem, sim! Tem mulher de verdade e a lista poderia seguir por mais algumas linhas. Mas… tem mulher peluda? Errr, não. E aí vem a pergunta: por quê? As respostas mais comuns são: “É nojento, é anti-higiênico, não é feminino, não é natural mulher peluda”.

Sério, gata? Se você concorda com alguma dessas afirmações, aí vai a segunda pergunta: Você já parou para pensar de verdade na relação que tem com os seus pelos?

“Faz dois anos que eu parei de me depilar. Antes eu achava pelos nojentos, odiava e depilava tudo. A decisão de parar com a depilação foi um desafio para mim. Eu queria descobrir se realmente odiava eles, ou se a depilação era apenas mais um ritual de feminilidade aprendido”, conta Ana Carolina Vieira, de 30 anos.

A motivação veio da militância feminista e de um intenso processo de reflexão e autoconhecimento. “Ao longo desses dois anos, durante muito tempo eu escondi meus pelos. Hoje eu já consigo mostrar mais, mas em meio a pessoas conhecidas eu ainda fico muito constrangida. Eu ainda me sinto na obrigação de explicar o porquê de não depilar. Numa sociedade ideal, uma mulher não deveria ter que se explicar por isso”, diz Ana.

Arquivo pessoal Arquivo pessoal“Toda mulher devia se questionar sobre depilação. Não é querer impor, é levantar o debate” – Ana Carolina Vieira
Mesmo passando pelos altos e baixos dessa relação, Ana resolveu que seus pelinhos continuariam sendo SEUS e garante que isso trouxe benefícios para a saúde. Ela diz que sofria de irritações constantes na pele e de problemas com desequilíbrio de pH vaginal. “Nunca mais precisei pedir socorro na ginecologista, nem tomar remédios para tratar do problema”, comemora. Pois é, o que por muitos é considerado anti-higiênico, ironicamente tem a função de manter a vagina protegida. Não que a gente esteja contando alguma novidade, né? “Na verdade, os pelos formam uma proteção natural da vagina“, garante o ginecologista Alfredo Bauer, professor da Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba/SP.

Quem também venceu o nojo do próprio corpo foi Júlia Klassmann, que, aos 18 anos, já tem muito a dizer sobre o assunto. “Antes minha relação com a depilação era quase compulsiva. Eu sentia nojo da textura do meu corpo quando ficava sem depilar. Engraçado que eu não via nada de errado com as pernas cabeludas dos homens na rua, né?”

Continua após a publicidade

Ah, pois é. Impossível falar de pelos sem tocar nesse ponto. Não, mulheres que assumem os pelos não estão ~querendo ser homem~, mas como o nojinho seletivo é uma realidade, a gente vai falar disso, sim.

Para começo de conversa, pelos masculinos também já foram rechaçados. Basta olhar para as estátuas da Grécia Antiga: elas são peladas (mesmo!). Os antigos gregos tinham pelos, sim, mas passavam por uma espécie de Photoshop nas esculturas. Não rolava nem uma barbicha discreta. Quanta coisa mudou, não é mesmo?

Juliana Mavalli Freitas Juliana Mavalli Freitas

“Ah, mas hoje tem muito homem que se depila, gente!” Aham, tem mesmo. Mas quantos homens foram parar no Trending Topics do Twitter por exibirem pelos demais numa revista? Para quem não lembra, isso aconteceu com a atriz Nanda Costa há dois anos, quando posou para a Playboy. E quantos homens chegam pros amigos dizendo “Gente, ontem q-u-a-s-e transei com a Lê, mas minha depilação não estava em dia, aí tive que dar uma desculpa”? Uma recente pesquisa feita com 5 mil homens pelo The Huffington Post revelou que quase 80% deles prefere mulheres sem pelos pubianos ou com eles bem aparados, apenas 20% deles acredita que é justo retribuir o ~favor~ (e depilar/aparar também) e apenas 12% se sente de fato pressionado a fazer essa manutenção.

“Ah, mas eu me depilo para que EU MESMA me sinta bem”. Surpresa: o meu, o seu e o nosso conceito de *bem estar* está atrelado à cultura e à reprodução do que nos é ensinado como bom, correto e belo. “Mulheres tem pelos, aceitem! Quem não tem são as crianças e a depilação faz parte de toda uma cultura que infantiliza as mulheres”, dispara Júlia, que largou a depilação em 2014, aos 17 anos. “Não são todas as mulheres que tem condições sociais de parar com a depilação, nem esse é o objetivo principal ou imperativo do feminismo. Ainda assim, é um absurdo e uma violência que terceiros se sintam no direito de ditar como as mulheres devem lidar com seus pelos”, completa.

Continua após a publicidade

Arquivo pessoal Arquivo pessoal“Descobri que gosto de gostar de mim ao natural” – Júlia Klassmann
Quem também tem uma história parecida com a da Ana e a da Júlia é a Valença Keity, de 30 anos. “Eu vi a Juliette Binoche peluda em um filme e achei linda. Eu me depilava antes e sempre foi ruim”. O filme era “A Insustentável Leveza do Ser”, e as transformações na vida (e no corpo) de Valença começaram há 10 anos. Ela resolveu raspar a cabeça para assumir os cachos e conta que aceitar os pelos foi parte do processo de “começar outra vez”. Ao longo dessa década de autoconhecimento, ela teve dois filhos e trocou São Paulo pela Serra da Mantiqueira. “Vim morar na roça e tem muito sovaco cabeludo por aqui. Tem uma onda de mulheres empoderadas por onde passo e, cada dia mais, os pelos aparecem”.

Stefan Lalau Patay Stefan Lalau Patay“Quem chegou a me tratar mal e falar coisas absurdas foi minha própria família. Precisei ter paciência”, conta Valença Keity
Ninguém disse a elas que seria fácil. Quebrar paradigmas nunca é, especialmente quando se nasce mulher. Mas como diz Júlia, “pelos funcionam como um ótimo repelente de gente ignorante”. Valença também relata que já recebeu muitos olhares tortos, mas que não se incomoda e completa: “É ótimo, pois nunca mais beijei um lobo em pele de cordeiro”.

“Mas, opa, você tá dizendo que eu sou ignorante por que me depilo?” NÃÃÃÃÃÃÃO! A ignorância está incrustada na FALTA DE REFLEXÃO sobre tudo aquilo que é tido como ~normal~ só porque é seguido pela maioria. A reflexão (essa linda) também tem o poder transformador de gerar mais respeito, pelas outras pessoas e por nós mesmas. Afinal de contas, não é essa a razão de ser da BELEZA PLURAL que a gente tanto curte e compartilha?

PS: Se você chegou ao final desse texto e tá a fim de refletir mais um cadinho, reserve 18 minutos do seu dia para assistir a esse documentário lindo da cineasta Veronika Reichenberger. Tem legenda e tudo 😉

My Body, My Hair – Legendado em português from Veronika Reichenberger on Vimeo.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

a partir de R$ 12,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.