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Se a Miss Brasil deve ser a embaixadora da beleza brasileira, por que nos sentimos pouco representadas?

As coroadas são lindas e trabalham duro para chegar até essa posição, mas será que elas realmente nos refletem?

Por Priscila Doneda
Atualizado em 21 jan 2020, 04h34 - Publicado em 26 set 2016, 06h06

[Atualização: a Miss Brasil 2016 é a baiana Raissa Santana, de 21 anos, representante do estado do Paraná. Assim, a bela será a candidata brasileira no Miss Universo, que acontecerá no dia 30 de janeiro, nas Filipinas. A saber, a estudante de marketing é a segunda mulher negra a faturar o cobiçado título em 62 anos de concurso. Danielle Marion, do Rio Grande do Norte, e Deise D’anne, do Maranhão, ficaram, respectivamente, em segundo e em terceiro lugar na disputa pela coroa.]

O objetivo do concurso Miss Brasil, segundo a própria organização, é “eleger a mulher mais bonita do Brasil, que simbolize e retrate a mulher brasileira atual”. Mas você sabia que, desde a primeira edição, em 1954, apenas uma negra foi coroada? E que o estado do Rio Grande do Sul, que conta com apenas 5,6% das mulheres do país, é berço do maior número de vencedoras da história? É indiscutível que as detentoras do título têm corpos esculturais e são estonteantemente belas – mas será que é só esse tipo de beleza que existe?

É verdade que o concurso passa por mudanças e, de acordo com Karina Ades, diretora geral do Projeto Miss Brasil, “uma representante de um concurso como esse não pode ter só beleza e atributos físicos, ela tem que ser uma mulher inteligente, compatível com o seu tempo, além de ter opinião, personalidade e atitude”. O Manual de Operações e Ética da competição de 2016 ressalta que o Miss Brasil não deseja eleger modelos de passarela e o site oficial diz que a vencedora é uma mulher contemporânea, real, tangível. As exigências para as candidatas, no entanto, as afastam bruscamente da realidade da beleza da mulher brasileira.

Para ser Miss Brasil, hoje em dia, entre vários requisitos, as candidatas não podem ser ou ter sido casadas; ter tido um casamento anulado, ter ou ter tido união estável; e não podem ser mães, nem estar grávidas. Além disso, precisam ter entre 18 e 26 anos e medidas próximas de 90cm de quadril, 60cm de cintura e 90cm de busto.

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Levando em consideração que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 48% da população feminina brasileira com 20 ou mais anos está com excesso de peso e 16,9% das brasileiras dessa mesma faixa etária estão obesas, será que essas medidas realmente espelham a beleza da mulher brasileira, que é bonita, sim, em todas as suas formas? Em adultos, essas condições são diagnosticadas com base no Índice de Massa Corporal (IMC). Excesso de peso e obesidade são detectados quando o valor é igual ou superior a 25 e 30, respectivamente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

Ile Machado/Carolina Horita/Camilla Loureiro

O mesmo pode ser observado com relação à altura das candidatas. Enquanto a medida mínima exigida para participar do concurso é 1,68m, as brasileiras dessa mesma faixa etária normalmente têm, em média, 1,61m, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos familiares 2008-2009, do IBGE. Entre todas as ganhadoras, dez delas mediam 1,80m – o que, mais uma vez, não reflete a realidade das nossas mulheres.

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Ile Machado/Carolina Horita/Camilla Loureiro

Desde o descobrimento do Brasil, há menções sobre a beleza da mulher brasileira e, ainda hoje, não há como discutir que a aparência, em si, é muito valorizada – e é claro que os cabelos também fazem parte disso. De acordo com a pesquisa “Seu cabelo, sua escolha”, realizada pela Dove, marca de produtos de higiene pessoal e beleza, 42% das entrevistadas acreditam que existe um alto impacto do cabelo na confiança pessoal, além de 88% opinarem que as mulheres são estereotipadas por seus cabelos. Desde 1954, vale ressaltar, a expressiva maioria das misses apareceram na noite da coroação com os cabelos, de certa forma, padronizados: longos, escovados, alisados, modelados e, por vezes, ondulados.

Ile Machado/Carolina Horita/Camilla Loureiro

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Outro dado que também chama bastante atenção é que, até hoje, apenas uma das 61 eleitas é negra. Deise Nunes venceu o Miss Brasil 1986, sendo a representante do estado do Rio Grande do Sul naquele ano. Depois de garantir que não sofreu qualquer tipo de preconceito enquanto estava no concurso, ela opina sobre o quadro: “Não acho que seja racismo, mas falta de oportunidade. Nesse ano, teremos algumas candidatas negras representando seus estados no concurso. Quem sabe não teremos uma delas como embaixadora da beleza brasileira?”, especula.

O sudeste tem o maior número de mulheres residentes no Brasil (42,4% do total) e também é a região que mais acumula vitórias do concurso: 24 das 61 misses eleitas. No Sul, por sua vez, estão 14,4% das mulheres do país. No entanto, essa é a segunda grande região brasileira em que mais misses foram eleitas e é a única em que todos os estados já tiveram representantes vitoriosas no Miss Brasil.

Ile Machado/Carolina Horita/Camilla Loureiro

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Coincidentemente ou não, a maior porcentagem da população de pele branca vive no Sul do país. Além disso, 46,3% da população brasileira se declarou branca e outros 45% se declararam pardos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2013, feita pelo IBGE.

Ile Machado/Carolina Horita/Camilla Loureiro

O Rio Grande do Sul conta com apenas 5,6% das mulheres residentes em todo o território nacional e também lidera o ranking de coroadas de todos os tempos, com 13 das 61. Vale lembrar, ainda, que 11 misses representaram estados nos quais não nasceram. Entre elas, apenas uma, Maria José Cardoso, a Miss Brasil 1956, ganhou o título pelo estado do Rio Grande do Sul, embora tenha nascido em Santa Catarina.

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Apesar deste panorama, o Miss Brasil 2016 mostra que a diversidade está um pouco mais presente no concurso como um todo, já que das 27 finalistas, seis são belíssimas negras: a Miss Bahia, Victoria Esteves; a Miss Espírito Santo, Beatriz Leite; a Miss Maranhão, Deise D’anne; a Miss Paraná, Raissa Santana; a Miss Rondônia, Mariana Theol Denny; e a Miss São Paulo, Sabrina Paiva.

É importante ressaltar que toda mulher tem o direito de se sentir representada e de escolher se quer ou não apoiar ou participar desse tipo de concurso, que pode ser, de certa forma, até mesmo empoderador. Por outro lado, também é essencial lembrar que, cada vez mais, a ditadura da beleza tem deixado as nossas mulheres doentes, tão exigentes com a vaidade que elas acabam se tornando reféns de uma destrutiva obsessão. Por isso, em uma sociedade que impõe tanto o padrão do belo, é preciso destacar que não existe, por mais estimada que seja, a chamada “beleza ideal” e que a pluralidade é bem-vinda em tudo, inclusive em um concurso desse tipo.

Continue acompanhando o Especial Beleza Diversa aqui >> Qual é o lugar da beleza na vida das brasileiras? Revisitar nossa história pode ajudar a entender

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