2/3 das mulheres que trabalham com tecnologia já sofreram assédio
Uma recente pesquisa colocou em foco o dia a dia de mulheres que atuam nesta área. E os resultados são perturbadores.
Apesar de algumas empresas de tecnologia já terem se mostrado preocupadas com a luta contra a desigualdade de gênero, a gente sabe que ainda falta muito para alcançarmos uma realidade aceitável em relação a isso. Um relatório da ONU, por exemplo, indicou que, atualmente, as mulheres ainda ganham 24% menos do que os homens. E essa história não para por aí.
Recentemente, um projeto ouviu mais de duzentas mulheres que trabalham no Vale do Silício ou em seus arredores – em grandes empresas de tecnologia, como o Google e a Apple, bem como em startups – e que têm pelo menos dez anos de experiência na área. Depois de coletar essas histórias e notar o quanto os relatos são semelhantes, os autores Trae Vassallo, Ellen Levy, Michele Madansky, Hillary Mickell, Bennett Porter, Monica Leas e Julie Oberweis publicaram a pesquisa Elephant in the Valley. E ela é mesmo impressionante. Segundo os autores, o principal objetivo do estudo é trazer o assunto ao conhecimento de todos, gerando discussão.
Durante o desenvolvimento do estudo, feito a partir de uma parceria entre trabalhadoras do Vale do Silício e a Universidade Stanford, essas mulheres foram questionadas sobre suas experiências em cinco principais áreas de suas carreiras: retorno e promoção; inclusão; preconceitos; maternidade; e assédio e segurança. Com entrevistas e muitas histórias coletadas, foi concluído que cerca de 60% dessas mulheres já passaram por algum tipo de assédio, discriminação ou exclusão no trabalho.
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Outro dado que impressiona é o de que 90% das entrevistadas já testemunharam comportamentos sexistas nas indústrias, como comentários “engraçadinhos”, por exemplo. Duas em três mulheres já ouviram coisas inadequadas de colegas de trabalho sobre suas roupas. Além disso, um terço das mulheres já temeram por sua própria segurança física neste ambiente. Como se não bastasse, cerca de 40% ainda admitiram não ter denunciado um assédio sexual por imaginar que isso poderia impactar negativamente sua carreira. Outras 30% disseram que preferiram apenas esquecer o episódio. Entre as que fizeram as denúncias, 60% alegaram ter ficado insatisfeitas com a ação tomada a respeito.
Sim, o que mais chama a atenção nesta pesquisa são justamente as assombrosas estatísticas que a sustentam.
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Confira alguns outros dados, também impressionantes:
- 84% alegaram já ter sido tratadas com agressividade
- 47% acreditam que recebem tarefas mais fáceis que os funcionários homens
- 66% já se sentiram excluídas de eventos sociais ou de trabalho por conta do gênero
- 59% acham que não possuem as mesmas oportunidades que os colegas homens
- 65% dos assédios sexuais partiram de homens em cargos superiores
- 88% contaram que já passaram pela situação de um cliente ou colega perguntar para um funcionário homem o que poderia perfeitamente ser respondido por elas
- 75% foram questionadas sobre a sua família, o status do casamento e os filhos durante a entrevista de contratação
- 40% acreditam que falar menos sobre a família pode fazer com que elas sejam levadas mais a sério
- Entre as que desistiram da maternidade, 52% afirmaram que fizeram esta opção por pensarem que isto poderia influenciar negativamente suas carreiras
No site da pesquisa, é possível conferir vários depoimentos anônimos que mostram o quanto o assédio está presente na vida das mulheres – e tantas vezes nem são percebidos. Uma das entrevistadas contou que chegou a ouvir que ter um segundo filho seria um movimento que limitaria a sua carreira. Outra, por sua vez, foi questionada, durante uma entrevista, se ela conseguiria trabalhar tão duro quanto os demais sócios, já que ela é mãe de um filho pequeno.
Os números e as histórias contadas devem servir como alertas para um problema bem maior. Não são apenas essas mulheres que sofrem com a discriminação ou com assédio. Não é um problema apenas do Vale do Silício, da Califórnia, dos Estados Unidos. Não acontece só no mundo da tecnologia. É uma questão de gênero que tem âmbito global e que precisa, sim, de muita luta e discussão para ser combatida.
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