Meus picolés viraram mania no Brasil todo
Se no começo da minha história eu não tinha dinheiro nem pros ingredientes, hoje tiro R$ 60 mil por mês usando as frutas exóticas do cerrado
Pra começar a fazer picolés, peguei
R$ 35 fiado no mercado e vendi cada
um por R$ 0,50
Foto: Weimer Carvalho
Descobri os frutos do cerrado em 1996, quando me mudei para Goiânia, vindo do interior. O começo aqui na capital foi muito difícil. Como não conseguia emprego, tinha de fazer bicos. Um deles foi pegar picolés de um distribuidor e ir para a rua vender. Naquele dia só consegui que comprassem quatro picolés.
Eu estava bem desanimado quando um cara na rua, do nada, se aproximou. Ele disse que me trazia uma mensagem de Deus: eu seria um vitorioso. O homem disse que me via, no futuro, com muito dinheiro e sucesso. Aquilo ficou na minha cabeça.
No desespero, surgiu a ideia
Três meses depois, recebi um telefonema do meu filho. Ele tinha capotado o carro. Precisava de R$ 420 para pagar a franquia do conserto. Eu não tinha aquele dinheiro. Na situação em que estava, já não tinha nem mais amigos a quem pedir ajuda. Mas não havia tempo pra me desesperar.
Naquele momento meu telefone tocou. Desta vez, era um senhor de Minas Gerais me oferecendo um trabalho como representante de vendas de máquinas de sorvete. Eu venderia o equipamento e ganharia uma comissão. Aceitei, e aquilo ainda me deu uma ideia: fazer picolés caseiros pra vender.
Tentei vender minha geladeira por R$ 50
Mas eu ainda teria de resolver um problema. Eu não tinha dinheiro nem para os ingredientes da receita! Tentei vender uma geladeira velha por R$ 50 e não consegui. Então, fui ao mercado e comprei fiado 35 litros de leite para pagar em três dias. O dinheiro para o açúcar pedi a um irmão.
Preparei os sabores flocos, morango, leite condensado e creme. No dia seguinte, fui à porta de uma escola vender a 50 centavos cada um. Os professores e alunos aprovaram minhas receitas. Faturei R$ 460 naquele dia!
Criei novas receitas
Dias depois as máquinas de sorvete chegaram. Como percebi que levava jeito, resolvi usá-las para fabricar meus próprios produtos. Mas queria fazer receitas diferentes. Meu plano era usar frutas do cerrado. Comecei preparando sorvetes de murici, mangaba, cagaita, curriola, gabiroba, mutamba, bacupari, guapeva, buriti e pequi.
Muita gente não acreditava que minha aposta nas frutas exóticas do cerrado daria certo. Em 2004, abri a primeira sorveteria num bairro nobre de Goiânia. Era engraçado ver a reação das pessoas quando eu anunciava os sabores.
Cuido do meio ambiente
Hoje não consigo atender todos os pedidos. E nem quero, porque seria a destruição do cerrado brasileiro. Pra evitar a devastação, passei a plantar as árvores dessas frutas. A fé em Deus e o meu trabalho me ajudaram a chegar onde estou e tenho de ter esse compromisso com o meio ambiente. Pois é, quem acreditaria que aquele sujeito que não tinha nada venderia 20 mil picolés por mês a R$ 3 cada?