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Filme sobre Hebe Camargo retrata a violência doméstica sofrida por ela

Muita gente não sabe, mas Hebe foi vítima de um relacionamento abusivo - e chegou a falar abertamente sobre isso.

Por Júlia Warken
Atualizado em 15 jan 2020, 09h18 - Publicado em 26 set 2019, 18h21

“Hebe – A Estrela do Brasil”, a primeira cinebiografia de Hebe Camargo, chega aos cinemas nessa quinta-feira (26) e traz uma proposta que se destaca dentre a recente enxurrada de filmes sobre personalidades brasileiras. Em vez de tentar retratar um grande número de fatos marcantes da trajetória da apresentadora, o longa protagonizado por Andrea Beltrão mostra um breve recorte da história de Hebe.

O filme não faz menção ao fato de que Hebe estava presente no nascimento da TV Tupi, a primeira emissora do Brasil, ou ao “O Mundo é da Mulheres” o primeiro programa da TV brasileira voltado ao público feminino – e que era comandado por ela. No longa, apenas vemos acontecimentos de meados dos anos 1980, quando a Hebe abandonou a Bandeirantes e entrou para o SBT.

A limitação desse recorte não faz com que o filme se torne pequeno, pelo contrário. Trata-se de uma escolha acertada, pois o roteiro flui no tempo em que precisa fluir e se propõe a contar uma história interessante, em vez de dar uma aula apressada sobre tudo o que há para se saber sobre a personagem principal.

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O filme também se propõe a exaltar o espírito combativo de Hebe e os pormenores pouco conhecidos de sua vida pessoal. Com isso em mente, a roteirista Carolina Kotscho e o diretor Maurício Farias se debruçaram sobre os bastidores do relacionamento abusivo que Hebe viveu com o segundo marido, Lélio Ravagnani.

No longa, vemos o ciúme de Lélio crescer ao longo da trama, até culminar em agressão física. Esse drama vivido por Hebe foi revelado pela própria, em entrevistas, e também por seu filho, Marcello Camargo. Mesmo assim, é um fato desconhecido por boa parte do público que a acompanhava na TV.

Há uma entrevista, concedida a Bruna Lombardi, em que Hebe chega a aconselhar outras mulheres a buscarem a independência financeira, pois assim é mais fácil sair de um relacionamento abusivo. Na mesma ocasião, ela falou sobre a época em que separou-se de Lélio por causa do comportamento agressivo dele. “Nós vivemos muitos anos bem, etc. e tal, de repente começou uma agressão que eu não entendia. ‘Mas como? Tá me maltratando, não está sendo legal comigo. Por que é que eu estou me sujeitando a isso?”

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“Hebe – A Estrela do Brasil” mostra uma cena de agressão física e também a reação enérgica da Hebe, dizendo que queria a separação. O filme não mostra, mas os dois reataram algum tempo depois e continuaram juntos até a morte de Lélio. Nessa mesma entrevista que você pode assistir acima, a apresentadora garante que o marido mostrou-se mudado depois do rompimento, e isso fez com que ela o perdoasse.

Mais recentemente, o filho de Hebe deu mais detalhes sobre o relacionamento abusivo da mãe, em depoimento ao jornalista Artur Xexéo, que lançou a biografia da apresentadora em 2017. “Ele era extremamente ciumento. Voltava alterado das noitadas e brigava com a minha mãe por causa de ciúmes. Insinuava que ela tinha dado muita atenção a alguém ou reclamava que alguém tinha dado muita atenção a ela. Eram madrugadas de confusão. E ele ficava violento. Teve uma noite em que minha mãe se trancou no quarto, e ele derrubou a porta dando murro”.

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Diretor e roteirista de “Hebe – A Estrela do Brasil” comentam a cena de agressão do filme

Em entrevista ao MdeMulher, Maurício Farias e Carolina Kotscho falaram a respeito dos pormenores da cena. Há pontos muito marcantes nela e a gente quis saber se há relatos de que as coisas aconteceram daquela maneira.

Mas antes de continuar lendo esse texto, avisamos que aqui você encontrará SPOILERS do filme, ok? 

Bom, na tela o que a gente vê é uma crise de ciúme causada pela participação de Chacrinha do programa de Hebe. Lélio fica furioso com a forma com Chacrinha trata Hebe – que a assedia ao vivo na TV – e tem atitudes agressivas no meio de uma festa lotada, onde várias pessoas presenciam a cena. Seguranças do local apartam a briga.

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Depois, em casa, Lélio agarra Hebe a força, jogando-a no chão e rasgando seu vestido. O que se vê é o início de um estupro, mas Hebe consegue se desvencilhar do marido. Ela corre dele e quebra uma garrafa de vidro, ameaçando Lélio e dizendo que o casamento havia acabado ali.

E, de fato, as coisas aconteceram assim?

“Tudo vem de pesquisa. A relação dela com o Lélio era uma reação muito exposta. Há relatos até de garçons que presenciavam essas brigas em público nos restaurantes que eles iam, era uma relação explosiva e isso era público. Tem também depoimentos dela, aquela cena em que ela canta “Começar de Novo”, aquilo de fato aconteceu naquele período em que eles ficaram separados. Então, tudo é fato. É fato que é uma relação com essa temperatura. É fato que eles se separaram por causa de uma agressão. O resto é dramaturgia. Então, essa progressão do ciúme nas duas horas de filme e o encadeamento das cenas, é dramaturgia. A gente não estava lá. Aquela cena, daquele jeito, por causa do Chacrinha não aconteceu. Isso é uma construção de dramaturgia”, explica Carolina sobre as escolhas feitas no roteiro.

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O diretor, Maurício Farias, comenta que Chacrinha chegou a dar uma resposta a Lélio na TV, ao vivo, pois o ciúme dele em relação ao apresentador ganhou repercussão na época. O filme também mostra que o marido de Hebe se incomodava com a proximidade entre ela e Roberto Carlos, fato que foi exposto publicamente por Hebe.

(Hebe - A Estrela do Brasil/Divulgação)

Quanto à violência sexual mostrada no filme, Carolina diz que isso também foi uma construção dramatúrgica, feita com base na época em que a trama se passa. “A questão entre a violência e o sexo eu acho que é do casal. Porque fica dúbio, eu acho que essa é a maior dúvida das mulheres, né? Hoje as pessoas têm muito mais acesso à informação, tem muito mais clareza do que é a violência domestica, do que é agressão e do que é o estupro dentro do casamento. Essa era uma consciência que não se tinha naquela época. A Hebe não tinha a informação que você tem, a clareza que a gente tem, o nível de informação e de debate aberto que se tem hoje sobre a violência doméstica. Anos 1980 era terra de ninguém. Era terra em que o assédio corria solto, ainda mais nesse mundo da televisão. Então a gente tem que também colocar isso na perspectiva do tempo”.

Complementando os apontamentos de Carolina, Maurício fala a respeito do tom dado às cenas protagonizadas por Hebe e Lélio ao longo do filme. De início, vemos muita cumplicidade e paixão, mas logo o ciúme dá as caras, de maneira crescente. O diretor comenta a respeito da vontade de mostrar o turbilhão de sentimentos confusos, vivenciados por Hebe naquela situação abusiva em que se encontrava.

“A intenção é provocar, mostrar as sensações que uma mulher naquelas condições passaria. Então, a gente tentou trazer para as cenas uma progressão desses sentimentos confusos e, ao mesmo tempo, em movimento, que a gente vai organizando dentro da gente. As coisas que a gente sente e que agente vive nem sempre são ditas claramente, especialmente nas relações [amorosas]. Acontecem pequenas coisas que às vezes você nem entende muito bem. […] Então, a construção que a gente foi fazendo, foi justamente mostrando o quão complexa era aquela relação deles, o quanto tinha de paixão e, ao mesmo tempo, o quanto tinha de equívoco também – numa relação em que se permite determinadas coisas. E eu acho que essa consciência é a consciência que a Hebe estava tomando naquele momento”.

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