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A internet não é segura para as mulheres – como mudar essa realidade?

Encarar a internet como um espaço público é vital para combater a violência online contra a mulher

Por Carol Patrocínio (colaborador)
Atualizado em 21 jan 2020, 17h00 - Publicado em 17 nov 2015, 11h54

Quantas vezes não ouvimos que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”? Que não se deve lavar roupa suja fora de casa? Que problemas pessoais só interessam aos envolvidos? Qual a função desse tipo de ideia disseminada sem muita responsabilidade? A função é manter as coisas como estão. Só que quando 73% das mulheres dizem já ter sofrido violência online apenas por serem mulheres – dados da ONU de setembro desse ano – temos que repensar todas essas questões com muita urgência.

“Violência online não é problema privado, é problema público”. A frase, dita pela jornalista Amanda Luz, ficou martelando na cabeça de muita gente que participou de um painel promovido pelo YouTube em São Paulo na segunda-feira (16). Amanda participou da última edição do festival SXSW, nos Estados Unidos, junto com Juliana de Faria, da ONG Think Olga, apresentando uma palestra sobre o assédio às mulheres na internet e suas fronteiras com a violência de gênero, direitos humanos e liberdade de expressão.

Ok, a violência atinge a todos. Mas de que forma? Amanda aponta que, quando um homem é agredido, fala-se de sua falta de competência, habilidades ou conhecimento sobre um assunto específico, o que está em pauta. Já quando uma mulher é o alvo… fala-se de vida sexual, comportamento, beleza, roupas, estilo de vida. As agressões não são sobre sua capacidade de estar naquele espaço, discussão ou tarefa. São sobre ser mulher e como ela deveria desempenhar bem esse papel, de acordo com regras que ninguém sabe de onde vieram.

Por que esse problema deveria ser privado quando acontece em um espaço público?

O perfil do Facebook é seu. A conta do Twitter também. Assim como o Instagram. O seu carro também é seu e nem por isso você coloca a cabeça para fora e grita impropérios pela rua. Porque a rua é um espaço público, mesmo que você esteja em um pedacinho privado ali dentro. Assim como na internet: ela é a rua online.

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O problema maior da internet é que toda essa agressão toma proporções imensas. Seus empregadores estão ali. Sua família. Seus amigos. Pessoas com quem você gostaria de trabalhar. A pessoa pela qual você é apaixonado. E todos eles têm acesso ao que é dito por e sobre você. Imagine só sua mãe lendo você agredir uma pessoa? Ou ser agredido gratuitamente? Ela não ficaria nada orgulhosa ou feliz.

A agressividade do ambiente na internet faz com que a gente perca o direito a expressão, nossas reputações, a dignidade humana, a possibilidade do convívio social e todas as contribuições sociais que poderiam existir ali. Porém é bastante fácil encontrar pessoas que acham a internet um lugar seguro. Essa visão existe porque nem todo mundo ainda entende que não existe uma separação entre mundo real e virtual. Não é porque uma pessoa não pode agredir você fisicamente que não pode acabar com sua vida – basta observar o que acontece com mulheres que têm suas fotos íntimas vazadas: muitas precisam mudar de casa e até de cidade.

Mas quem são os agressores ou trolls?
Quando você lê agressões online, aquelas escolhidas a dedo como capa de textos questionando esse ambiente virtual que estamos criando, é inevitável imaginar um monstro. A pessoa deixa de ser humana, acreditamos que ela tem algum problema emocional ou psiquiátrico, que está em surto ou que é alguém muito ruim, do tipo que bate em velhinhas e joga sorvete de crianças no chão. Vilão de filme da Disney. Só que eles não são assim.

Amanda conta que uma militante feminista conseguiu, junto com a polícia, descobrir o IP do autor de uma das agressões mais chocantes recebidas por. O texto dizia de uma forma assustadora como aquele homem a estupraria. O agressor era um pai de família, casado, com emprego e residência fixos, sem nada de assustador ou que pudesse levantar suspeitas de que ele era um desses monstros da internet.

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O argumento dele foi que ele precisava dizer aquilo, que aquela “garota” – uma mulher adulta que criou um protesto virtual, mas que é chamada de garota para que seu crédito seja questionado – precisava que alguém lhe ensinasse limites. Ele faria isso no meio da rua? Não sabemos, mas provavelmente não faria. Mas na internet ele acha que tudo é permitido.

Como mudar essa realidade?
Essa é uma tarefa para homens e mulheres. Juntos. Alguém disse uma besteira? Avise. Apareceram xingamentos? Questione. 

Cobre políticas de proteção aos sites que você tem conta. E leve essa transformação para o mundo físico. Não permita que injustiças sejam levadas em frente.

“Antigamente eu teria ficado quieta, mas hoje eu não fico”, explica Amanda ao contar que mesmo no trabalho ela aponta as situações de violência de gênero. “Por que em uma equipe de publicitários, por exemplo, uma mulher é quem sempre tem que marcar as reuniões? Ela trabalha em uma equipe com diversas outras pessoas, a maioria homens. Por que sempre a mulher tem que ser a secretária?”

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Usar a influência que se tem, seja na internet ou no mundo físico, é uma maneira de transformar as coisas ao seu redor e incentivar que outras pessoas façam o mesmo. “Você não precisa falar de feminismo, mas pode ter isso embutido no seu assunto”, diz Amanda. Educar é função de todos nós: dá trabalho, mas o resultado é incrível!

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