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Essa escritora nigeriana luta por igualdade de raças e gêneros

A escritora nigeriana Chimamanda Adichie é uma feminista contemporânea e convida as mulheres a questionar

Por Luara Calvi Anic
Atualizado em 10 ago 2017, 16h59 - Publicado em 25 ago 2015, 13h51

Chimamanda Ngozi Adichie, 37 anos, mudou-se para os Estados Unidos aos 19 para estudar na Universidade Drexen, na Filadélfia. Ao chegar ali, surpreendeu-se com o estereótipo que mantinham em torno do seu continente, a África. Uma colega de quarto pediu para ouvir “música tribal” da região em que nasceu e ficou desapontada quando ela tocou uma fita da cantora pop americana Mariah Carey. “Também achou que eu não sabia usar o fogão. O que me impressionou é que ela sentiu pena de mim mesmo antes de me conhecer”, disse em uma conferência no TED (sigla de Tecnologia, Entretenimento e Design, organização americana sem fins lucrativos que promove ideias inovadoras) em 2009. A escritora observa que aceitamos ideias preconcebidas de assuntos que, muitas vezes, ignoramos. “Se as informações que eu tenho sobre a África fossem apenas imagens, também pensaria que o continente é formado por lindas paisagens, animais e pessoas incompreensíveis lutando em guerras sem sentido, morrendo na pobreza e de aids, incapazes de falar por si mesmas e à espera de um estrangeiro branco para salvá-las.”

Filha de um professor aposentado e de uma administradora, ela vive hoje em Lagos, capital de seu país, e passa temporadas nos Estados Unidos. A escritora tornou-se mundialmente conhecida por suas ideias relacionadas à igualdade de gênero e raça. Também por levar destaque à literatura africana. Já escreveu cinco livros, entre eles Americanah (Companhia das Letras), que conta a história de uma garota nigeriana que, como ela, se muda para os Estados Unidos querendo estudar. Lançado no Brasil em 2014, a obra foi premiada com o National Books Critics Circle Award, concedido pela associação de críticos americanos. O título mais recente, Sejamos Todas Feministas (Companhia das Letras), é uma adaptação de um discurso da autora, realizado em outro TED, sobre quanto ainda é necessário – e nem um pouco ultrapassado – discutir a questão de gênero. No mesmo ano, 2013, a estrela pop americana Beyoncé musicou parte dessa fala, que ficou conhecida na canção Flawless (“Sem defeito”, em tradução livre) – contrariando, evidentemente, qualquer expectativa da colega de quarto de Chimamanda.

Divulgação Cia das Letras Divulgação Cia das Letras

A música fez com que a escritora ganhasse ainda mais notoriedade: o vídeo do TED acabou sendo assistido por quase 2 milhões de pessoas no YouTube. Como representante do movimento de mulheres dos anos 2000, Chimamanda se autointitula “uma feminista feliz, uma africana que não odeia homens, gosta de usar batom e salto alto para si mesma – não para eles”. De Lagos, a escritora conversou sobre o tema com CLAUDIA.

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Em seu livro Sejamos Todas Feministas, você diz que os homens também precisam participar da busca por igualdade de gênero. No que isso os afeta?

O problema não pode ser resolvido sem a ajuda deles. É ruim para as mulheres, mas também ruim para os homens. Desde pequenos, eles sofrem com expectativas relacionadas a gênero. Dizemos aos nossos filhos que eles não podem ter medo ou mostrar vulnerabilidade, que precisam ser fortes. Devemos criar nossos garotos e garotas de outra maneira. Por exemplo, por que ensinamos a menina a sonhar com o casamento e não fazemos o mesmo com o menino?

Você percebe isso em seu país?

Sim. Na Nigéria, se uma mulher se sentir desvalorizada ou for maltratada numa reunião de trabalho, ela bota para fora, fala. Mas essa mulher reduz a si mesma para conseguir um marido. Tanto nos Estados Unidos quanto na Nigéria, as mulheres ainda são muito apegadas à necessidade de ser benquistas. Em ambos os países, escondem o seu eu verdadeiro para que os homens possam gostar delas. Uma amiga nigeriana chegou a vender sua casa para não intimidar um pretendente.

Por que isso ainda acontece?

Espera-se que ela esteja em um relacionamento. Em qualquer lugar do mundo, um homem sem mulher não é problema. Já uma mulher sem homem é objeto de pena. Temos que questionar isso. No meu país, em alguns bares e restaurantes, o convencional é estar acompanhada. Se uma mulher vai sozinha, os garçons a ignoram.

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Mesmo com situações como essa, existe uma geração de mulheres, as mais jovens, que parece ver o feminismo como algo fora de moda ou carrega a ideia de que já conquistamos tudo. O que diria a elas?

A primeira coisa: a ideia que têm de feminismo está ultrapassada. Elas veem como uma coisa negativa dos anos 1970, de mulheres que não usam maquiagem, não se depilam ou tratam mal os homens. E não é isso. As mulheres ainda ganham menos fazendo as mesmas coisas que os homens e não têm a representação no mercado de trabalho que deveriam ter. Nas grandes companhias do mundo, você quase nunca vê mulheres em posições de grande poder.

As mulheres são mais pobres que os homens em toda parte do mundo – sendo que as negras têm ainda menos dinheiro que as brancas. Você acha que é mais difícil para elas alcançarem igualdade de gênero?

A primeira coisa que posso dizer é que sou muito feliz por ser negra. Se eu pudesse escolher, escolheria ser como sou. Acho que as mulheres brancas também têm suas dificuldades na conquista do dinheiro. Em países como Brasil e Estados Unidos, é mais provável que as negras sejam muito pobres – e esse é o problema. Não é mais difícil para elas conquistar a independência simplesmente por serem negras, mas certamente porque também vieram de classes mais baixas. Isso faz com que vivam a questão de gênero de maneira diferente.

O que você notou em relação a isso quando esteve no Brasil, em 2008, para o lançamento de um dos seus livros?

Não vi negros nas vezes em que estive no Brasil. As pessoas diziam: “Você tem que ir à Bahia, lá vai achar”. Eu fiquei intrigada com o quanto a questão racial tem a ver com classe.

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Achei esquisito porque o Brasil se vende como um país que abraça todas as raças. Isso não me pareceu verdade. Não vi nenhum negro quando fui a restaurantes.

Assim como o Brasil, a África também tem muitos estereótipos. Quando você percebeu que o mundo tinha uma ideia preconcebida sobre o seu continente?

Quando fui para os Estados Unidos, descobri que os americanos são ignorantes em relação à África. As pessoas ficavam surpresas com o fato de eu ser familiarizada com a cultura pop mundial e conseguir falar bem o inglês (a língua oficial da Nigéria). Antes, eu não tinha essa consciência.

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