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“Parem de me culpar”, diz jovem vítima de violência sexual no Rio de Janeiro

As investigações do caso continuam e, enquanto as informações são apuradas, não faltam julgamentos à adolescente que teve seu corpo exposto nas redes sociais.

Por Nathália Florencio
Atualizado em 21 jan 2020, 09h40 - Publicado em 29 Maio 2016, 19h02

No fim da tarde deste sábado, 28, a jovem C.B., de 16 anos, vítima de estupro coletivo, apagou a sua conta no Facebook. O motivo? Em meio às mensagens de apoio e solidariedade à violência que ela sofreu, ao ser abusada por mais de 30 homens no Morro da Barão, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, a adolescente também recebeu uma enxurrada de críticas e comentários depreciativos, culpando-a pelo ocorrido no último dia 20 – alguns chegaram a acusá-la de sequer ter sido estuprada.

A princípio, na manhã da última sexta-feira, 27, a garota tinha chegado a agradecer o suporte que veio das redes sociais. “Realmente pensei que seria julgada mal, mas não fui”, escreveu. E também tinha aderido à campanha “Eu luto pelo fim da cultura do estupro”, colando os dizeres em sua foto de perfil no Facebook. No entanto, com o intuito de difamá-la, no mesmo dia começaram a circular pelas redes áudios e fotos sugerindo o envolvimento da garota com traficantes, além de insinuar que ela teria praticado sexo grupal por vontade própria. “Sacanearam nada, mané. Ela que quis dar pra ‘tropa’”, diz um homem numa das gravações.

O hábito de fazer sexo com várias pessoas, por sinal, foi uma das perguntas feitas à jovem pelo delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), de acordo com o que então advogada da vítima, Eloísa Samy, informou ao RJTV, da TV Globo. Segundo informações da revista VEJA, a representante de C.B. também teria se revoltado com uma declaração dada pelo delegado durante a coletiva de imprensa realizada na última sexta-feira, 27. Ele teria dito que seria “leviano comprar a ideia de estupro coletivo”, enquanto o caso não estiver “esclarecido”.

Tomaz Silva/Agência Brasil
Tomaz Silva/Agência Brasil ()

Entrevista coletiva com os responsáveis pelas investigações do caso

As afirmações de Alessandro Thiers motivaram a advogada a pedir o afastamento dele do caso, alegando que ele teria uma postura machista e misógina, deixando a menor acuada durante o segundo depoimento dado à polícia. A pressão feita por Eloísa e pelo Ministério Público fizeram a Polícia Civil do Rio de Janeiro anunciar na noite deste domingo, 29, que a partir de agora quem assumirá o caso é a titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), Cristiana Bento. “A medida visa evidenciar o caráter protetivo à vítima na condução da investigação, bem como afastar futuros questionamentos de parcialidade no trabalho”, diz a nota. Ao delegado Alessandro caberá investigar apenas o vazamento do vídeo divulgado na internet.

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Em relação ao conteúdo que viralizou nas redes durante esta última semana, antes de sair do Facebook, a jovem C.B. se manifestou e escreveu: “Não, eu não quero mídia, não fui eu que postei fotinha (sic) muito menos vídeo! Então parem de me culpar quem errou e procurou não fui eu!“. E acrescentou: “A culpa nunca é da vítima”.

Cultura do estupro

Casos como o da adolescente do Rio de Janeiro, em que a vítima é difamada, desacreditada e tem a sua versão colocada em xeque, são mais comuns do que se possa imaginar. Faz parte dessa cultura que desvaloriza a mulher e credita a ela a responsabilidade de se proteger dos agressores, ao invés de condená-los pelos atos cometidos. É o que ressalta a empreendedora social Sabrina de Campos, em um desabafo feito no Facebook após a repercussão da violência sofrida por C.B.

Em seu perfil, ela contou que foi “violentamente estuprada” 19 anos atrás, quando tinha a mesma idade da jovem fluminense. “Tive sorte! Muita sorte! Que naquela época não existia redes sociais para me julgar […] Mas também tive azar! De passar por cinco delegacias, fazer um exame horrível no IML e ter que contar o crime a homens policiais, delegados, que desconfiaram de mim”, escreveu.

Publicada na última sexta-feira, 27, a postagem já conta com mais de 110 mil curtidas e 40 mil compartilhamentos. Nela, Sabrina também fala sobre o julgamento que recebeu da sociedade: “Eu não ía a bailes funk, eu não usava minissaia, não andava com traficantes, trabalhava e estudava. Cantava no coral da igreja todos os domingos. Não foi à noite, foi à luz do dia. Eu poderia estar vestindo uma burca e sofreria o estupro do mesmo jeito. Ainda assim, fui julgada, não era mais considerada ‘pura’ para me ‘casar com um homem de bem’ da igreja”.

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O post também teve mais de 8 mil comentários, principalmente de pessoas destacando a coragem de Sabrina em relatar a agressão sexual que enfrentou. Infelizmente, isso não é o que ocorre com frequência, pois o medo e a vergonha de serem culpadas impedem inúmeras vítimas de procurar as autoridades, quando o que essas mulheres mais precisam é ser atendidas pelas instituições e acolhidas por amigos e familiares, para tentar amenizar – já que não é possível apagar – a dor que vão carregar pela vida toda.

Leia o texto de Sabrina na íntegra:

 

 

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