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Conheça o movimento que defende a desaceleração da rotina dos filhos

Cresce no Brasil o movimento batizado lá fora de slow parenting, que defende a desaceleração da vida dos pequenos, para dar a eles tempo para explorar o mundo. Experts garantem que isso resulta em crianças com mais iniciativa.

Por Solange Azevedo
Atualizado em 28 out 2016, 03h08 - Publicado em 24 mar 2014, 22h00

Cada coisa a seu tempo. É esse mantra que a designer Luana Gorenstein Cesana procura seguir para educar Caio, de 1 ano e 5 meses. “Para que ter pressa?”, pergunta. “Fico impressionada ao ver que muitas crianças têm agenda de adultos. Não quero isso para meu filho.” É o menino quem dita o próprio ritmo. Ele não foi superestimulado, por exemplo, a sentar, engatinhar ou caminhar. “Andou quando se sentiu seguro. Tanto que não precisei ficar dando a mão para ajudá-lo”, relata Luana. “Acredito que, ao tentar antecipar etapas, tiramos a autonomia da criança.” Caio nunca assistiu TV, porque a mãe acha que o fascínio exercido pelo aparelho poderia fazê-lo perder o interesse por coisas simples. E, em vez de um monte de brinquedos, o garoto tem só uma caixa com alguns que ganhou de presente. Mas sua principal diversão é puxar a vassoura ou o aspirador de pó como se fosse um cachorro. Pode parecer que a família rema contra a maré, já que a sociedade moderna cobra agilidade, conexão 24 horas, acesso a tudo, mas não é bem assim. Luana é adepta do slow parenting, movimento que floresceu na Europa e nos Estados Unidos – e que vem ganhando simpatizantes por aqui. A ideia é dizer não a estímulos indiscriminados e promover a desaceleração da rotina, dando às crianças a chance de explorar o mundo sem afobação.

Os partidários desse conceito garantem que enchê-las de atividades visando prepará-las para o futuro – quer dizer, para o mercado de trabalho – e cobrar perfeição pode gerar o efeito contrário do esperado, pois a probabilidade de torná-las adolescentes e adultos menos criativos, apáticos, desinteressados e sem iniciativa é grande. “Todos nós queremos o mesmo, que nossos filhos sejam felizes e saudáveis e também atinjam plenamente seu potencial”, afirma a CLAUDIA o historiador escocês Carl Honoré, autor do livro Sob Pressão – Criança Nenhuma Merece Superpais e do best-seller Devagar – Como um Movimento Mundial Está Desafiando a Cultura da Velocidade (ambos da Editora Record). “Mas, para conseguir isso, precisamos relaxar e buscar o equilíbrio entre fazer muito ou pouco por eles. Nesse sentido, é importante ignorar a influência dos pares, ou seja, de outros pais, confiando nos nossos instintos e descobrindo o nosso estilo de maternidade ou paternidade.” É fundamental que o filho seja ouvido e observado, assinala Honoré, pois ele não é um projeto ou um produto que pode ser moldado como uma obra de arte, é alguém que se desenvolverá bem desde que tenha espaço para ser protagonista de sua história. “As crianças devem aprender gradualmente a lidar com o risco, o medo e o fracasso”, alerta o escritor e palestrante. “Nada disso é possível quando têm a vida completamente planejada, pois não lhes sobra tempo para descobrir quem realmente são e pensar de forma autônoma. Elas apenas executam o que foi imposto e vivem tentando atender às expectativas dos pais.”

Mozart e o cérebro

Colocar o pé no freio é dificílimo porque somos cobrados cotidianamente a fazer o contrário. “A separação entre vida pessoal e trabalho se tornou menos clara. Não há mais dia e noite, semana e fim de semana”, analisa a psicóloga Belinda Mandelbaum, professora da Universidade de São Paulo. Ficamos conectadas à internet atendendo às demandas profissionais a qualquer hora e em qualquer lugar – assim como do escritório, a distância, vigiamos os passos dos nossos filhos. A produtividade exigida no ambiente corporativo foi levada para dentro de casa e acabou “profissionalizando” a maternidade e a paternidade. E, para completar, famílias com menos filhos ou que ascenderam socialmente passaram a ter mais dinheiro – e querem aproveitar para incrementar o currículo das crianças. No meio do turbilhão do dia a dia, claro que é muito mais fácil – e rápido – vestir os pequenos e amarrar o cadarço do que esperar que eles se aprontem sozinhos. Ou dar a comida na boca e escovar os dentes depois, em vez de deixá-los aprender a fazer isso. Do mesmo modo, parece obrigatório para a família que não quer ser tachada de displicente montar uma agenda para as crianças tão corrida quanto a dos adultos, preenchendo horários livres com atividades que, em tese, irão torná-las adultos brilhantes e bem-sucedidos. “A pressão é cultural e vem de vários lados: da escola, da propaganda, dos esportes, assim por diante”, alega Honoré. “Portanto, não podemos só culpar os pais. Somos todos vítimas de uma sociedade obcecada pela perfeição.”

O valor da brincadeira

“Criança tem de ter tempo para ser criança e a oportunidade de se encantar com as coisas”, diz o pedagogo Paulo Fochi, coordenador do curso de especialização em Educação Infantil da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. “Brincar é uma forma de construção de conhecimento sobre o mundo. É a maneira que ela tem de criar hipóteses, refutar o que não dá certo ou persistir se não está convencida de que não é possível daquele jeito.” Não à toa é especialmente importante que os pequenos tenham muito tempo e espaço para isso até os 6 anos, idade de ingressar no ensino fundamental. Mesmo depois, é preciso ter boas brechas para simples brincadeiras. “O desenvolvimento neurológico sadio depende disso”, afirma Adriana Fóz. “Queimar etapas certamente trará consequências mais adiante.”

Dicas para desacelerar

O escocês Carl Honoré, criador do conceito de slow parenting, ensina os primeiros passos para a família entrar no ritmo certo:

1. Experimente não ler sites e manuais para pais durante uma semana. Tente descobrir seu próprio estilo de maternidade e o que funciona melhor para sua família. Não se preocupe com a educação que seus amigos dão para os filhos.

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2. Quando levar seu pequeno ao playground, resista à tentação de interferir e sempre ser a parceira dele nas brincadeiras. Afaste-se um pouco para que ele brinque sozinho ou com outras crianças.

3. Deixe horas livres na semana, sem atividades estruturadas, para que a família simplesmente se reúna para descansar, conversar, jogar, cozinhar ou se dedicar a qualquer outra coisa prazerosa que der na telha.

4. Permita que seu filho conte naturalmente como foi o dia na escola, em vez de exigir um relatório completo assim que ele chegar.

5. Defina períodos do dia em que as crianças devem desligar o computador, se desconectar e afastar-se de qualquer gadget.
 

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