Infância marcada pela dor
Surras diárias fazem parte da vida de muitas crianças. Isso é uma crueldade enorme!
Acabei de assistir no Fantástico uma matéria feita sobre uma séria pesquisa realizada no Brasil, que estudou como as crianças reagem quando expostas à violência. O que mais me surpreendeu foi que, muitas vezes, a violência contra a criança não vem do pai nem do padrasto: são as mães que espancam os filhos, seguidas pelas avós. E estou falando em crueldade, espancamento pesado. Crianças pequenas, por volta de 5 ou 6 anos!
Justificativa é a miséria, a vida sem esperança. Será? Eu vim de uma família muito pobre. Hoje eu olho para trás e não sei como conseguimos sobreviver. E a violência era o horror nosso de todos os dias. Pai alcoólatra, mãe constantemente espancada, meus olhos de menina assustada viram cenas de imensa crueldade. Ver a mãe jogada no chão marca para o resto da vida. Pois minha mãe nunca descontou suas dores nas filhas. Ao contrário, colocava-se na frente. Apanhava por nós.
Isso não quer dizer que não levei umas boas chineladas. Hoje, quando me lembro delas, é com um sorriso, pois foram merecidas. A menininha que conversava com o repórter da Globo carregava no braço um urso de pelúcia ensebado, igual ao meu. Seu rosto não aparecia, mas as perninhas fininhas eram iguais às minhas. Não consegui conter o choro. Eu, aquela menina e todas as crianças sujeitas à violência somos crianças traídas.