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Sexo: Tabu nas conversas de pais e mães com seus filhos

Por Nathalia Ziemkiewicz (colaboradora)
Atualizado em 11 abr 2024, 20h08 - Publicado em 25 jun 2015, 12h08

“Prometi aos pais que você só ia falar de gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis”, a professora me encurralou. “Deixe claro que eles não têm idade pra essas coisas”. Eu estava prestes a começar uma palestra sobre sexualidade para adolescentes entre 13 e 18 anos da rede pública de ensino. Como se dizer “não faça sexo” fosse suficiente. Ou adotar o método universal de fingir-que-nada-está-acontecendo tivesse comprovada eficácia. Trabalho com a realidade. E a realidade me diz que os brasileiros perdem a virgindade, em média, aos 15. Que 70% dos jovens de 12 assistem pornografia com regularidade. Que a esmagadora maioria acredita que oral e anal “não são sexo de verdade” – e, portanto, praticam sem proteção. Poderia citar dezenas de dados capazes de esbugalhar os olhos.

Nada espantaria mais aquela professora do que as perguntas enviadas por seus alunos em bilhetinhos. Microfone em punho, respondi coisas como: “toda mulher gosta que goze na cara?”, “por que meu namorado prefere sexo anal?”, “se ele se masturbar e depois botar a mão lá dentro de mim posso engravidar?”, “faz mal engolir?”, “já tomei oito vezes a pílula do dia seguinte, ainda funciona ou corro risco?”, “usar sacolé (o saquinho plástico do picolé artesanal) em vez de camisinha é 100% seguro?”, “por que dói pra fazer xixi quando a gente faz sexo muitas vezes seguidas?”, “qual posição faz a mulher ter mais orgasmos?”, “como faço pra tomar anticoncepcional sem que minha mãe fique sabendo?”.

Até quando pais e escola vão brincar de batata-quente, passando de lá pra cá a tarefa de conversar honestamente sobre sexo? E não só sobre o aspecto negativo (gravidez e DSTs)? Ambos são responsáveis pela educação sexual das crianças e adolescentes, por seus valores, pelo tratamento que dispensam a si mesmos e aos outros. Passamos a eles uma mensagem e ensinamos mesmo quando permanecemos em silêncio – por exemplo, dando a entender que sexo é feio, sujo, tabu. Se não damos as informações necessárias, lançamos esses jovens ao mundo despreparados e sujeitos a muitos riscos. Deixamos que outras fontes muito menos idôneas, como coleguinhas e a própria mídia, entrem em cena e se tornem professores deles. Hoje em dia, com a internet em todos os smartphones e tablets nas mãos infantis, o primeiro contato com pornografia se dá aos sete anos de idade. A criança está em fase de alfabetização e pergunta ao Google “o que é sexo”. Como não consegue ler, em vez de clicar nos links, vai direto para imagens (faça o teste…).

O maior erro, talvez, seja esperar para falar sobre sexo até que o filho pergunte alguma coisa. Você espera para alfabetizá-lo quando ele pede para ler um livro? Você aguarda ele se interessar pelo conceito de subtração para ensinar sobre matemática? Da mesma forma, você deveria explicar desde muito cedo que homens têm pênis e meninas têm vagina – nada de borboletinhas e cobrinhas. E por aí vai: como nascem os bebês, por que meninas menstruam e meninos acordam “molhados” etc. Tudo bem você pisar em ovos e não ter a menor ideia de como abordar o assunto. Só não vale, por conta disso, ignorar completamente que seus filhos são seres sexuais (não estou dizendo que FAZEM SEXO, mas que têm sexualidade!). Alguns livros ajudam muito a lidar com as fases de desenvolvimento e curiosidade sexual dos pequenos – o melhor que já li é de Mark A. Schuster e Justin Richardson, chama-se “Tudo o que você teme que seus filhos perguntem, mas precisa informar sobre sexo” (Editora MM).

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Táticas de amedrontamento não funcionam, simplesmente encerram a conversa e fecham o canal de diálogo. Sabe aquela história de fazer escândalo e deixar de castigo porque encontrou camisinha ou pílula na bolsa da filha? Hello, minha gente. Ao invés disso, por que não pensar que a garota está sendo responsável e usar a situação como gatilho para dialogar? Os estudos mostram que adolescentes cujos pais conversaram sobre a importância da camisinha têm uma probabilidade vinte vezes maior de usá-la regularmente, e três vezes maior de usá-la na primeira vez. Eficaz é entregar aos jovens as ferramentas para que possam decidir por si mesmos quando chegar a hora e não se metam em enrascadas. Ninguém sai correndo pra transar porque conversou sobre sexo. Assim como ninguém deixa de se desenvolver sexualmente porque pai/mãe/escola disseram “você não tem idade pra essas coisas”. Sejamos inteligentes e razoáveis, por favor.

Matéria publicada em Brasilpost.com

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