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Tive de escolher para qual filha doar meu rim

As três precisavam do meu órgão para transplante. Como privilegiar uma delas?

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 20 jan 2020, 23h10 - Publicado em 13 Maio 2010, 21h00
Tive de escolher para qual filha doar meu rim

“Quanto mais eu pensava, mais ficava na 
dúvida. Não desejo isso a mãe nenhuma”
Foto: Arquivo pessoal

Eu precisava tomar uma decisão. No final de 2004, vivi um dos piores dramas que uma mãe pode enfrentar: escolher um filho para privilegiar. Eu tinha apenas um rim para doar e três filhas para recebê-lo. O que fazer? Como ser justa? Eu passava noites em claro em busca de uma solução. Tentava encontrar critérios, esperava uma luz. Não conseguia. A dúvida me angustiava. E o tempo corria contra todas nós.

Sete anos antes, descobri que as minhas três filhas adolescentes sofriam de uma síndrome rara, de origem genética, chamada glomeruloesclerose focal. Essa doença fazia com que elas perdessem aos poucos as funções dos rins, o que impedia que eles funcionassem como filtro para limpar o sangue das impurezas do corpo. Os médicos me disseram que os rins das minhas meninas envelheceriam antes do tempo. Ficamos apavorados.

>> Elas sofriam muito na hemodiálise
Tentamos todos os tipos de tratamento antes de recorrer à hemodiálise. Nesse procedimento, o paciente é ligado a uma máquina que puxa o sangue com uma bomba para filtrá-lo. Os efeitos colaterais são terríveis: dor de cabeça, pressão muito alta ou baixa, tontura… A Anna Paula, aos 21 anos, e a Eva Cristina, aos 23, foram as primeiras a se submeter a isso. Dez meses depois foi a vez da Anna Maria, que é gêmea da Anna Paula.

Eu sofria ao ver minhas filhas na hemodiálise. Elas tinham de passar por isso três vezes por semana. Cada sessão durava quatro horas. Era muito triste. Imaginem só: 12 horas por semana ligadas a uma máquina e sabe-se lá quantas outras horas sofrendo os efeitos colaterais… Todas elas tinham náuseas, tonturas, oscilação de pressão. Mas a Anna Paula ainda teve depressão, ataques de síndrome do pânico e crises de hemorragia que resultaram numa anemia profunda. Ela chegou a precisar de uma transfusão de sangue em 2004.

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As minhas três filhas precisavam de transplante de rim! Mas isso não é simples. Só quem entra na fila de transplantes de órgãos sabe o quanto esse processo requer disposição. É preciso aguardar numa fila enorme de espera e realizar muitos exames para ver o tipo de compatibilidade necessária. Em alguns casos, infelizmente o óbito vem antes de se encontrar um doador. Porém, no caso das minhas meninas, a esperança não estava necessariamente na fila de doadores, mas em mim.

Quando descobri que eu poderia ser doadora, veio o dilema: qual filha receberia meu rim, sonho tão esperado pelas três? Meu coração ficou tão apertado… Quanto mais eu pensava, mais ficava na dúvida. Não desejo isso a mãe nenhuma.

Eva (ao centro), e as gêmeas Anna Maria (dir.) e Anna Paula: como uma mãe pode privilegiar uma filha?
Foto: Arquivo pessoal

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>> Elas decidiram tudo entre si
Mas sou uma mãe privilegiada por ter filhas tão unidas e compreensivas. Na véspera daquele Natal de 2004, Anna Maria e Eva Cristina resolveram fazer uma surpresa para a irmã. Depois de muito conversarem, decidiram que Anna Paula seria a filha que receberia meu rim! Foi um momento de pura emoção, com direito a muitas lágrimas, beijos e abraços de todos.

E então, em fevereiro de 2005, eu me submeti à cirurgia que resultou no transplante para a Anna Paula. Foram três horas de operação. Deu tudo certo. Assim que me recuperei da anestesia, reuni minhas forças para, então, ajudar minhas outras duas meninas.

Em agosto de 2005, seis meses depois da minha operação, meu esposo, João Otávio, foi o responsável pelo segundo transplante da casa. Dessa vez a felizarda foi a Eva Cristina, que estava muito ansiosa por um doador. Isso fez com que a Anna Maria decidisse ser a última da fila. A comemoração final foi festejada pra valer dois meses depois, quando ela finalmente conseguiu uma doadora, que também era da família, prima do meu marido. Mais uma vez, foi perfeito!

Ao lembrar de tudo isso, ainda me emociono. Sou privilegiada por ter filhas tão especiais.

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