Claudia Raia é o avesso de Donatela

Com 41 anos, um corpinho de 20, dois filhos lindos, um maridão apaixonado e uma carreira vitoriosa, Claudia Raia tem motivos de sobra para ser feliz e de bem com a vida. Uma mulher completamente diferente de sua personagem, Donatela, em A Favorita, da Globo. Aliás, como a própria estrela ressalta, o papel difere também de todos os outros que já interpretou, o que para ela é um grato desafio.

E olha que essa trajetória de sucesso já tem 23 anos. São 12 novelas, duas minisséries, quatro filmes e vários programas de TV, sobretudo humorísticos. Assim, a lista de tipos inesquecíveis é grande. Claudia foi, inclusive, a divertida Tancinha de Sassaricando (1987); a desajeitada Adriana de Rainha da Sucata (1990); a doce trambiqueira Maria de Deus Nos Acuda (1992, quando conheceu e começou a namorar Edson Celulari); a fogosa Engraçadinha, da minissérie de mesmo título (1995); a cruel Ângela de Torre de Babel (1998); a caliente Safira de Belíssima (2005)… Todas fortes e marcantes como a artista. Nesta entrevista deliciosa e exclusiva a tititi, Claudia fala da atual novela, de Donatela, da paixão pelos amigos e pela família, de traição e muito mais.

tititi – Você já pode dar uma dica de quem está falando a verdade em A Favorita? Flora (Patrícia Pillar) ou Donatela?
Claudia Raia – Eu não tenho nenhuma dica. Juro! As duas são totalmente dúbias. A gente não sabe quem é a vilã e quem é a mocinha da história. Se você ouve a versão da Donatela, vê que ela é adorável, humana, dúbia. A Flora é sofrida, pobre e comeu o pão que o diabo amassou. Mas também dúbia. Elas contam a mesma história, da maneira mais humana possível e sob dois pontos de vista absolutamente críveis. E acho que isso se parece um pouco com o que vimos no caso da menina Isabella. Quando vi a entrevista do pai e da madrasta, me remeteu a isso… pessoas aos prantos, falando do coração, e você não sabe se são os assassinos. A novela vai mostrar que você consegue mudar tudo com uma palavra, com um depoimento.

Você torce para que a Donatela seja boa ou má?
Não torço, não. Estou muito feliz com a Donatela, que é difícil de fazer, complexa, uma maravilha. E, como não sabemos ainda quem é a vilã, Patrícia e eu estamos trabalhando as personagens dos dois lados, o que é muito rico para um ator.

O que teve de mudar em você, para viver esse tipo?
Tudo! (risos) O cabelo, o figurino, a postura. Tentamos achar um outro corpo para essa Donatela. Ela é uma mulher rústica, grosseira e com pouca informação. É uma mulher que, embora tenha se tornado rica, foi pobre e não teve acesso a nada no passado.

Está sendo um desafio, não?
Está, sim. Até porque é um papel diferente de tudo que já fiz, tem um tom que jamais representei. Donatela é o oposto de mim em todos os sentidos. No temperamento, na história de vida, no jeito de andar, na maneira de se comportar. Tudo! Por isso é uma delícia de fazer.

Dá para acreditar que a relação de amor da Donatela com a Lara (Mariana Ximenes) é verdadeira?
Totalmente. É amorosa, humana… chega a ser doentio o amor que ela sente pela filha. A proteção além da conta e o amor em demasia sufocam a moça. Ela quer que a filha diga o tempo todo que a ama, chega a ser pegajosa. Mas a Lara também ama muito a Donatela.

Mas ela possui outros defeitos, né?
Ah, tem diversas vertentes. É “coronela”, bipolar, louca, histérica, muito ligada em dinheiro e poder. Ao mesmo tempo é amorosíssima, frágil, carente e extremamente humana.

Esse sentimento com relação a Lara existe mesmo ela sabendo que a garota é fruto de um adultério do falecido marido?
Aí é que está a grande alma da Donatela. Ela adota a filha de um adultério do marido com a sua irmã de criação e até então melhor amiga.

E como vai ser esse triângulo amoroso da Flora, Donatela e Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia)?
A Donatela não terá só um affair com ele. Ela se separa do marido para viver essa relação porque é totalmente puritana, só teve dois homens na vida e não consegue ter um caso com outra pessoa estando casada ainda. Até nesse aspecto a Donatela é diferente de todas as personagens que fiz, as quais tinham a sexualidade muito aguçada. Ela não.

A dupla sertaneja da novela, Faísca & Espoleta, interpreta algumas músicas. Você e a Patrícia chegam a cantar de verdade?
Cantamos, sim. E gravamos, inclusive, Tristeza do Jeca, de Tonico & Tinoco. A dupla aparece em flashback, a voz é nossa, mas a imagem é de duas meninas de 15 anos. E vamos aparecer cantando individualmente na atualidade, nos saraus do Copola (Tarcísio Meira).

A impressão que a gente tem é que o elenco está muito entrosado, não?
Muito! Todos são superamigos, o elenco é pequeno, gostoso, a gente pode encontrar todo mundo o tempo inteiro, é muito agradável. A equipe de diretores que trabalha com o Ricardo (Waddington) é muito competente, a fotografia dessa novela, que é do Ricardo Gaglianone, está excepcional. E o figurino, da Marie Salles, é espetacular.

E o João Emanuel escolheu um elenco de peso, né?
Ah, o nosso núcleo é uma delícia! O Murilo (Benício) é muito divertido. E o Silveirinha do Ary Fontoura, então? É meu mordomo, meu confidente e já foi o empresário da dupla… tem uma vida inteira com a Donatela. Adoro o Ary! Mauro Mendonça, meu querido, é um prazer trabalhar com ele. Glória Menezes é minha amiga de uma vida inteira. A Patrícia é um doce e muito minha amiga. E todos os outros são queridíssimos amigos!

E a Mariana Ximenes?
Ah, é um grande prazer contracenar com ela! Nós temos muita sintonia. Ela é uma atriz ótima, excepcional, aplicada, dedicada, disciplinada, é muito parecida comigo em termos de trabalho. Parece que saiu da minha barriga! (risos) Nós duas somos uma loucura!