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Dinho Ouro Preto: ‘Estou sem maconha e álcool há um ano. Fujo das tentações’

Em um papo exclusivo com a Contigo!, o cantor fala sobre o período conturbado das drogas e de política, família e religião

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 15 jan 2020, 03h20 - Publicado em 15 jul 2014, 21h00

Dinho Ouro Preto em seu estúdio dentro de casa, na zona sul de São Paulo
Foto: Tomás Arthuzzi

Em sua casa, na zona sul de São Paulo, Dinho Ouro Preto, 50 anos, cantarola o refrão da nova música, Viva a Revolução. A frase, relacionada às manifestações ocorridas no país em junho passado, também poderia referir-se à transformação na vida do vocalista do Capital Inicial. Em agosto de 2013, ele cortou o álcool e a maconha. Drogas pesadas já não fazem parte do dia a dia de Dinho há mais de dez anos. Hoje o cantor, que nasceu no Paraná e se lançou na música quando morava em Brasília, tem uma rotina tranquila ao lado da mulher, a arquiteta Maria Cattaneo, 48, e dos filhos, Giulia, 17, Isabel, 15, e Afonso, 11. Todas as manhãs ele corre 5 quilômetros, faz uma hora e meia de exercícios e passa a maior parte do dia em seu estúdio compondo. Nos shows, a única garrafa no palco é a de água. “Fujo das tentações. Quando acabam as apresentações, saio do camarim”, diz.

Este mês o Capital Inicial lança o CD Viva a Revolução. Por que esse nome?
Quando começaram as manifestações em junho de 2013, eu queria fazer algo que pudesse ser cantado nas ruas. Embora tenha pego o grito de guerra da Revolução Cubana e me considere de centro-esquerda, a ideia não era ter um grito de guerra socialista. Acredito na democracia representativa. No entanto, a frase foi escolhida como título porque foi o que sobrou das manifestações. Ainda temos o desejo de mudança. Só acho que os black blocs são um desserviço ao Brasil. Ano passado tivemos milhares nas ruas, de modo espontâneo, sem liderança e o que eles fizeram foi afugentar as pessoas porque elas desistiram de ir. Elas acham que tudo vai virar pancadaria. O que não tinha dono em junho acabou sendo apropriado por bandeiras e categorias mobilizadas.

Seus filhos se interessam por política?
Eu levei as meninas à manifestação na Avenida Paulista, era um momento importante. Minha mãe é historiadora, meu pai cientista político, então elas cresceram num ambiente politizado, sempre foram interessadas. Eu confesso que tenho votado nulo desde 2005. Fui petista a vida inteira, depois do mensalão me senti apunhalado pelas costas. Mas quero conhecer os candidatos desta eleição. Já fui à casa do Eduardo Campos, espero conhecer melhor o Aécio Neves e encontrar a Dilma Rousseff.

Apesar de o Capital Inicial lançar CDs de tempos em tempos, as músicas mais tocadas ainda são as antigas. É difícil superar essa fase?
Toda banda tem seu grande momento. As rádios tocam as músicas novas, mas as pessoas nunca vão se esquecer de Independência, Natasha, Não olhe para trás… Ainda é um desafio conseguir escrever uma música que emplaque dessa maneira. Esse disco novo é um EP (extended play) e possivelmente algumas músicas se sobressaiam. Tem participações do Thiago Castanho (ex- guitarrista do Charlie Brown) e da Cone Crew Diretoria. O Capital tende a certa repetição, então fomos atrás de outros parceiros justamente para dar uma sacudida, uma renovada no nosso som.

Você também deu uma sacudida na sua vida. Aos 50 anos, parou com álcool e drogas, certo?
Parei de beber, cortei drogas, tudo. Estou mais saudável do que quando tinha 49 anos (risos). Eu me sinto mais novo, me livrei da ressaca. Já é uma bela conquista. Estou sem maconha e álcool há um ano. Café eu cortei há dez, quando parei o tabaco. Todos os dias acordo às 10 horas, corro 5 quilômetros e faço ginástica por uma hora e meia. Depois fico a maior parte do tempo aqui no estúdio, tocando, escrevendo… É o cômodo mais usado da casa.

O que te motivou a mudar o estilo de vida?
Eu não conseguia mais dormir, a qualidade do sono era horrível, acordava de ressaca… Eu vivo viajando dentro de ônibus, são mais de 100 shows por ano, então é fundamental ter saúde. Fujo das tentações. Quando acabam as apresentações, eu saio do camarim e vou para o quarto do hotel. É um negócio militar, é difícil, mas vale a pena. Não renasci em Cristo. Não quer dizer que se eu for a uma festa não vá beber algo, uma taça de vinho.

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O auge da loucura foi em 1993?
Foram várias fases. Os anos 1980 inteiros e em 1993, quando cheguei ao fundo do poço e saí do Capital. Abusava de tudo, cocaína, ácido, LSD, êxtase, foi uma fase bastante triste da minha vida. Era promiscuidade, drogas e rock and roll. Quando soube, por meio de um amigo, que havia transado com uma mulher portadora do vírus HIV, entrei em pânico. E, olha, sou hipocondríaco. Ela já estava nas últimas, morrendo… Tinha certeza de que tinha aids e só pensava: como vou contar aos meus pais? É incrível que tenha sobrevivido! Foi aí que conheci minha mulher, Maria. Ela me aceitava do jeito que eu era e a tendência foi diminuir com tudo aos poucos.

Dinho Ouro Preto: 'Estou sem maconha e álcool há um ano. Fujo das tentações'

“Em 1993 abusava de cocaína, ácido, LSD… Parei com tudo. Há um ano estou inclusive sem maconha e álcool. Eu me livrei da ressaca”
Foto: Tomás Arthuzzi

Ela te ajudou nessa mudança?
Sim, nós nos conhecemos em 1994 e começamos a morar juntos no ano seguinte. Ano que vem completaremos 20 anos de casados. E eu era a pessoa mais improvável… Agnóstico, ateu, roqueiro, o cara que se entupia de drogas até ontem (risos). Maria estava de casamento marcado na Itália (ela é italiana) e desistiu de tudo para ficar comigo. Ela não me acompanha em show porque a estrada é dura, mas mesmo assim me ajudou a construir. Sei que é lugarcomum, idiota dizer, mas, atrás de uma grande história de sucesso, atrás de um homem, há uma mulher. No meu caso essa ladainha é verdade. Ela ajuda o Capital, checa coisas, cuida das crianças, é mãe, arquiteta.

Sobrou algo da frase “sexo, drogas e rock and roll”?
Não. Só tomo muita água. No começo era difícil fazer show sem álcool, dava uma brochada, achava que não iria conseguir. Quando você para de beber, pensa: cara, estou sozinho, sempre tive algo comigo. Daí você tem uma imensa dificuldade de subir ali sem nada, sem o mesmo entusiasmo, sangue nos olhos… Você acha que o álcool te dava isso. Depois de um ano de cara limpa, eu recuperei esse vigor e percebi que no rock and roll não precisa estar drogado. Posso ter a mesma explosão de energia.

Você disse que não fuma mais maconha. Por outro lado, a droga está sendo liberada em vários países. O que pensa a respeito?
Sou a favor da legalização de todas as drogas. O Brasil poderia cobrar impostos de cada um que usa. O país deveria fazer como José Mujica fez no Uruguai. E vou além, eu acredito que o estado não tem o direito de dizer a um adulto o que usar. Então faça como faz com o álcool, não permitindo o consumo por menores de 18 anos. Agora, se eu tenho 21 e quero cheirar cocaína, o problema é meu. Quer dizer que de alcoolismo eu posso morrer? O cara pode dizer que toma uma garrafa de pinga por dia e não que fuma um baseado? Custa mais para o estado tratar um alcoólatra do que um viciado em cocaína? É uma contradição! Acredito que a tendência é liberar gradativamente, inclusive no Brasil.

Como lidaria se uma das suas filhas quisesse fumar maconha?
Eu vou mandar a real. O perigo está no abuso, o que vale para o álcool também. Conversamos sobre drogas, elas sabem. Elas nunca indagaram nada da minha vida e também não ficaria constrangido se elas me perguntassem algo.

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É um pai liberal?
Coloco limites, claro. Tem hora para voltar de festa, até porque ninguém aguenta pegar elas só às 6 horas (risos). Muitas vezes estou fora nos fins de semana, então a Maria busca. Se tiver que trazer namorado em casa, tudo bem para mim. A tendência é que as pessoas sejam mais liberais. Ninguém mais encana com sexo.

Você considera-se agnóstico (pessoa que não acredita e nem duvida de um ser superior). Por quê?
Às vezes fico na dúvida se sou agnóstico ou ateu. Meu avô era ateu, eu nunca entrei numa igreja, não sei nem rezar. Não casei na igreja com a Maria, só no civil. Minha sogra, italiana, é super-religiosa, foi difícil dizer que eu não entraria em uma igreja com a Maria. O problema são nossos filhos, porque às vezes eles soltam uma coisa religiosa e eu não gosto. Eu tenho de aceitar, eu sei… Eles são batizados, mas não rolou primeira comunhão. Sempre há uma negociação aqui em casa. Eu passo a elas o valor da ciência. É OK você viver com um ponto de interrogação. Isso é ser agnóstico, é não conhecer. E é possível ser ateu. As pessoas são educadas a acreditar em algo. Descendemos de um micro-organismo que estava aqui na terra há 4 milhões de ano. Não faz sentido a religião. Então se os católicos têm razão, os muçulmanos vão queimar no inferno? Há contradições. Tudo esbarra na ciência.

Como vê as bandas atuais?
É mais fácil fazer sucesso hoje do que antigamente. Temos revistas, rádios, shows, internet, estúdios, toda a infraestrutura. Quando comecei no Capital, em 1983, não existia nada disso. Minha geração cresceu num momento em que havia proibição de importação no Brasil, então as opções de instrumentos brasileiros eram toscas. Por outro lado, nossa turma não tinha pretensão profissional. Hoje muitas vezes a garotada já começa uma banda pensando qual é a roupa que precisa usar, qual atitude deve passar, o que dizer… O cara está interessado no marketing. O que destaca atualmente uma banda num oceano de informação é a autenticidade e a simplicidade.

Foi o que buscou no programa Superstar (Dinho era um dos jurados da atração global)?
Sim! Uma produção pode virar pastiche, o menos é mais. Num primeiro momento do programa, eu só falava sim para bandas de rock. Eu ouço esse estilo desde os 16 anos, tenho de ser honesto, não conheço música folclórica. Contribuí para o rock brasileiro e é uma camisa que visto com orgulho. Fui colocado na atração para usar o que aprendi ao longo de 30 anos de carreira.

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