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Isis Valverde defende cena de surra em ‘A Força do Querer’

Em entrevista, Isis Valverde defende cena de briga entre mulheres em novela e diz que "acolher uma psicopata não é feminismo".

Por Ligia Helena
Atualizado em 20 jan 2020, 09h18 - Publicado em 4 ago 2017, 09h45

A cena da briga entre Irene (Débora Falabella), Joyce (Maria Fernanda Cândido) e Ritinha (Isis Valverde), que foi ao ar na última semana de julho na novela “A Força do Querer“, da Rede Globo, ainda está dando pano para a manga.

Em entrevista ao portal G1, a intérprete de Ritinha defendeu a surra que Irene levou, e disse: “Ela envenenou uma pessoa ao longo da novela, tentou matar outra, arma situações para outras pessoas se darem mal, não tem sentimentos pelo outro. Ela foi atrás da surra, ninguém foi atrás dela”.

Isis ainda falou sobre a repercussão da cena, que dividiu opiniões: muita gente vibrou com a cena, mas muita gente – inclusive nós, do MdeMulher – acredita que cenas como essa prejudicam as mulheres e a sociedade como um todo. Isis disse que achou “bizarro” que muita gente tenha achado que a surra serve para colocar as mulheres umas contra as outras. “Eu sou super feminista. Mas as pessoas acabam ou confundindo feminismo com femismo – essa coisa de rasgar sutiã, bater em homem – ou achando que nenhuma mulher pode rebater a outra.”

Por aqui, discordamos de Isis. Em primeiro lugar, vale explicar o que é femismo, já que ela resolveu falar sobre isso. O termo não é dicionarizado, mas diz respeito a uma doutrina que prega a superioridade da mulher perante o homem, almejando uma sociedade em que o poder é exercido pelas mulheres.

A história de “rasgar sutiã” nada tem a ver com isso – e talvez se refira a um protesto contra os padrões de beleza que aconteceu nos anos 1960, de onde saiu o mito de que feministas queimam sutiã. Bater em homem tampouco tem a ver com isso. Mas é curioso citar “bater em homem” como algo errado e relacionado ao femismo, e achar que bater em mulher é algo muito razoável e inserido dentro do feminismo.

Partir para a violência é a solução?

É claro que qualquer mulher pode rebater a outra – não é porque somos feministas que temos de dizer “amém” para tudo que é dito por uma mulher. Mas a resposta para a provocação de uma mulher é dar sapatadas na cara dela?

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Podemos ir tão além do feminismo nessa discussão. Fazer justiça com as próprias mãos é correto? Cabe aos indivíduos julgar, determinar a pena e até mesmo aplicar a punição quando creem que alguém está cometendo uma injustiça ou um crime?

Vivemos em um país em que esse tipo de julgamento e linchamento já ocorre. Há poucos anos, Fabiane Maria de Jesus foi vítima de um boato nas redes sociais, e por isso foi encurralada e linchada até a morte por seus vizinhos no Guarujá, cidade litorânea no estado de São Paulo. Ela era inocente.

Por motivos diversos, adolescentes brigam violentamente em portas de escola em todo o Brasil. As brigas são filmadas em celulares e ganham as redes sociais, viram memes. É assim que se deve rebater uma mulher? Ou qualquer pessoa? Se você se sente injustiçada, acha que a outra pessoa é mau caráter, partir para a porrada é o caminho correto?

Não é “só uma novela”

A resposta mais fácil para tantas indagações é a seguinte: “mas é apenas uma novela! É ficção… e a Irene é culpada mesmo, a gente sabe, você já viu o tanto de maldade que ela fez?”

Responder isso é ignorar completamente a influência e o poder que as novelas têm no comportamento dos brasileiros. Lançam moda, viram mania e pautam as discussões do dia a dia. Não à toa, rendem picos de audiência para as emissoras.

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Quando as novelas trabalham com responsabilidade social, são capazes de melhorar o mundo. “Laços de Família”, por exemplo, foi responsável por uma grande campanha de doação de órgãos. “América” desmistificou a vida dos deficientes visuais. “O Clone” falava sobre a questão do abuso das drogas e do álcool. E por aí vai.

Mas quando uma novela transmite uma cena de “justiça com as próprias mãos”, passa a mensagem de que esse é o jeito correto de resolver um problema. E dar sapatadas na cara de quem nos prejudica – mesmo se ela for uma psicopata – é mesmo a melhor solução? Spoiler: sapatada na cara não resolve psicopatia, não.

É também sobre feminismo

Voltando ao feminismo, então. A autora Gloria Perez colocou mulheres para brigar em “O Clone”, “Salve Jorge”, “Caminho das Índias”… não é uma infeliz coincidência. Sabemos que brigas entre mulheres são os maiores picos de audiência das novelas, historicamente. Desde a década de 1940, nas radionovelas, esse recurso é usado. E notem: não é qualquer briga. Não são homens se batendo. São mulheres. Sempre mulheres.

Independente da motivação da briga: usar esse recurso para angariar audiência é um desserviço para as mulheres. Vende a imagem da mulher irracional, que quando é traída ou contrariada reage de maneira emocional e, nesses casos, violenta. Até quando?

 

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