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Milton Gonçalves fala de seu personagem de A Favorita

O ator interpreta Romildo na novela do horário nobre da Rede Globo

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 10h15 - Publicado em 9 dez 2008, 21h00

“Romildo é trágico, com todas as dores e 
contradições… Ele merece uma morte 
gloriosa, heróica”, conta Milton Gonçalves
Foto: César França

Falar de Milton Gonçalves é tarefa árdua. É que o intérprete do Romildo, de A Favorita, parece até personagem de novela. Mas vamos tentar… Ele é o ator mais antigo da Globo; membro do diretório do PMDB do Rio, partido pelo qual foi candidato a governador em 1984; dirigiu sucessos como Irmãos Coragem (1970) e Escrava Isaura (1976); foi superintendente da Radiobrás; vendedor de frutas, gráfico… Hoje, com 50 anos de carreira, é um dos mais respeitados do meio artístico e referência para todo ator jovem negro. Casado há mais de 40 anos com a advogada Oda, Milton não tem do que se queixar. É pai babão do ator Maurício Gonçalves, 42, da diretora de arte Alda, 39, e da estudante de ciência da computação Catarina, 32. “Nesse sentido, tenho muitas alegrias”, diz o mineiro de Monte Santo, aos 74 anos.

O Movimento Negro reclamou porque você faria um político corrupto…
Não foi o Movimento Negro; foi um ou outro membro. Acharam que poderia interferir na minha vida ou na minha profissão. Mas foi um equívoco, porque tenho muitos anos de trabalho e personagens que foram piores. Já fiz assassinos, papéis horrorosos. Assim como fiz heróis, médicos, juiz, advogados.

E foi a primeira vez que reagiram?
Acho que estava próximo das eleições e isso demandou algumas divagações, mas, meu Deus… Sou um brasileiro negro. E isso não me dá nem orgulho nem vergonha, nada. Me dediquei a coisas relevantes ao segmento brasileiro negro. Fiz, faço e farei sempre.

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Bem, você já dirigiu…
Sim, por muito tempo, inclusive, a novela mais famosa daGlobo: Escrava Isaura. Fiz até o 240 capítulo, fora Caso Verdade, Carga Pesada…

E por que parou?
A máquina gira, vêm outros valores, outras pessoas, diferentes propostas. E, se deixou passar, está fora. Por que não está? “Ah, porque você já passou da idade.” “Porque é cansativo.” Quando posso, dou um toque: “Olha, gostaria de dirigir”. Adoro tirar do ator o que ele tem de melhor.

Como é a sua relação com o diretor?
Sou disciplinado, mas não deixo de dar opinião. Se mais não faço, é falta de talento.

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Imagina!
Não que eu não tenha talento. Mas a minha compreensão, talvez, demore mais. Só que procuro fazer aquilo que o diretor pede. Por outro lado, como diretor, quero também atores disciplinados.

Qual foi sua última direção?
Ih, foi antes de Ramsés entrar na pirâmide. Ramsés entrou e eu não dirigi mais (risos).

Você é de uma geração que via na arte uma função social…
Só acredito nisso. Esse engajamento, esse compromisso a ser cumprido é que levou o (Barack) Obama a presidente dos EUA. Aí, você me pergunta: “você é um ativista?” Não sou com a intensidade de antes, mas participei de coisas que me dão o direito de opinar sobre outras. Isso alimenta o meu ego, tira do meu coração, do meu passado, as ofensas que guardei.

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E foram muitas?
Muitas. E aquelas sutis. Tem umas que são descaradas, para machucar como se fossem um florete. Claro que aconteceu e continuará a acontecer, só que, hoje, também tenho o meu florete. E qual é? Um pouco de conhecimento.

Pensou em desistir da carreira?
Não. Ia fazer o que da vida?

Você já fez tanta coisa…
É, aprendi várias profissões na minha adolescência. Estou aqui graças a isso.

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Começou a trabalhar com que idade?
Com 6 anos; tomava conta de uma banca de frutas, numa quitandinha. Foi quando meu pai chegou lá e disse: “Estou indo embora. Tchau!”

E voltou a vê-lo?
Após 30 anos. Foi frustrante, pois ele olhou para mim e não sabia quem eu era. Na minha cabeça fantasiosa, queria abraçar meu pai e dizer: “Oh, meu pai, que saudade”. Mas ele olhou e meu tio falou: “É seu filho”. Ficou por aí.

Não se encontraram mais?
Nunca mais.

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É uma história de novela.
É. No dia em que você for a São Paulo, olha aquelas estátuas que tem no Morumbi, os bandeirantes, os índios e os negros. Meu pai foi modelo dos negros. A vida segue.

Mas voltando a Romildo… Qual seria o papel social dele?
Ele mostra os caminhos que um político não deve seguir. Agora, acho também que Romildo não faz nada mais nada menos do que muita gente por aí. Não estou defendendo o comportamento antiético. Pergunto: os governantes brasileiros não fizeram a mesma coisa que o Romildo, no sentido de amealhar bens para o futuro? Pode citar o nome.

Não sei.
Não estou propondo isso, mas qual deles não amealhou? O que ele vai fazer? Nessa altura, a única solução para o Romildo é a morte.

Você é radical!
Como ele vai se redimir? A única solução que ele tem é a morte. É um personagem trágico, shakespeareano, com todas as dores e contradições… O que sobra para ele: duas moedas e o bote para atravessar o Aqueronte, o rio que vai para a terra dos mortos. Romildo Rosa merece uma morte gloriosa, heróica.

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