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Vaneza Oliveira, de ‘3%’, sobre culpa materna: “Você se sente um lixo”

Em uma conversa com o MdeMulher, a atriz conta como foi engravidar aos 16 anos e abre o jogo sobre sua relação com a filha Emily.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 15 jan 2020, 18h55 - Publicado em 3 Maio 2019, 17h17

“Foi bater muito a cabeça. Errar muito, muito, muito mesmo”. Foi assim que Vaneza Oliveira, a Joana da série “3%”, descreveu o processo de reconhecer as obrigações de adulta com as demandas que surgem ao se tornar mãe. Atualmente, a filha da atriz, Emily, tem 13 anos e já está na oitava série. 

A atriz lembra de comemorar o aniversário de 17 anos grávida, mas a descoberta mesmo aconteceu aos 16. Hoje, ela recorda com humor que chegou a pensar que ter um filho era como brincar de boneca, mas logo percebeu que a realidade não seria simples assim. 

Minha mãe super me apoiou, já de cara, entendendo o quanto ia ser difícil os nove meses de gravidez, mas o meu pai ficou mais triste, diria até decepcionado. Ele não imaginava que eu fosse ser mais uma menina que ficaria grávida na adolescência”, revela a atriz.

Vaneza também recorda-se que os conflitos foram intensificados por conta da diferença do que era esperado dela (e ainda é!) e daquilo que a sociedade esperava do pai de Emily.

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A gente vive em uma sociedade muito machista em que a responsabilidade é toda para a mãe. Ele era um menino que tinha sonhos, mas eu também. Só que os meus já ficam meio colocados de que eu tenho que interrompê-los, ele não. A sociedade dá toda liberdade para ele, para fazer faculdade, para fazer o que quiser fazer da vida dele, enquanto eu, qualquer decisão que eu tome, tenho que ficar com 100% na responsabilidade de uma criança, de um ser humano”, desabafa a artista. Os conflitos raciais também contribuíram para o “caos” – como a própria atriz define – da relação com a figura paterna da primogênita, pois ele e a família são brancos.

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Aquele jeitinho de dar carinho que ela AMA. Coisa linda da mamãe! ❤️ #daughterandmother

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O preconceito contra as mães

Quando Emily fez um ano, Vaneza começou a procurar por emprego e optou por ir até uma empresa que auxiliava nessa busca. Em um cenário nada acolhedor nos processos seletivos, a atriz viveu duas situações preconceituosas e constrangedoras durante as entrevistas.

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A primeira delas aconteceu no próprio local de ajuda a pessoas desempregadas. Durante o cadastramento, o atendente questionou se Vaneza tinha filhos. Ao responder que sim, ela foi logo questionada sobre onde estava o pai da Emily. Já na segunda, foi interrogada sobre o que ela faria com a filha para participar da escola de teatro famosa que a estava entrevistando.

“Você é lembrada o tempo todo da sua responsabilidade como mãe e isso é muito difícil quando você quer pensar na faculdade, no trabalho, em viagens, ou em uma balada, ou namorar outras pessoas”, explica a atriz. 

Por isso, Vaneza foi enfática sobre a importância de ter uma rede de apoio e não só familiar. “Eu não conseguiria ser atriz se eu não tivesse minha rede de apoio, que é meu pai, minha mãe, meu irmão, meu primo. […] A sociedade tem que se assumir participativa na criação desse ser humano que eu tive também. Porque quando ele faz alguma coisa errada, a sociedade cobra dele”. 

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A culpa machuca

Só que a sociedade não exige apenas do filho. A atriz também é o exemplo claro de como a pressão social sobre as mães machuca e traz culpa. Durante a conversa que teve com o MdeMulher, num primeiro momento ela enfatiza que errou mais do que poderia com Emily, mas logo depois repensa e diz com muita clareza que esse seu discurso também é um reflexo das exigências que começaram muito cedo.

“Eu errei mais do que eu poderia ter acertado. Ou, na verdade, pior: eu acho que eu me machuquei mais por ter errado. Me culpei mais pelos erros, porque eu não tinha a oportunidade de dizer para mim mesma: ‘eu sou nova e posso escolher outras coisas’.”, explica a atriz. 

A punição consigo mesma é tão grande que Vaneza usa palavras claras para falar sobre a dificuldade de andar nessa corda bamba do erro e acerto. “Você fica se sentindo um lixo por muito tempo até conseguir criar coragem para tomar uma outra decisão e torcer para ser a certa. Porque se for a errada de novo, você vai sofrer mais”.

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Sim, um bolo de cérebro! É isso que os jovens estão comendo hoje em dia. Eu sabia que minha filha ia amar a surpresa. E, além dessa beleza peculiar, o bolo tava extraordinário a @brunanieblepatisserie fez um ganache de chocolate que minha nossa senhora do doce: não dava pra parar de comer! Obrigada, @brunanieblepatisserie ❤️deu pra sentir o carinho com que esse bolo foi feito a cada mordida. Com toda certeza o cérebro mais gostoso que já comi na vida! 🎂 🧠 #bdayemilly #bolosdecorados

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Entretanto, a prática nem sempre é fácil como a teoria prevê. Além de ter apanhado durante a infância, Vaneza ouviu constantemente da mãe que ela deveria engolir o choro em situações difíceis. Ainda que essas atitudes soem controversas atualmente, a atriz explica como elas são resquícios da escravidão no Brasil.

A gente tem um histórico em que nossos antepassados não se permitiam ter uma relação de afeto e carinho por alguém que poderia ser vendido a qualquer momento”. 

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Uma saída que Vaneza encontrou para esse conflito nas diretrizes da educação foi tentar enxergar a maternidade como uma verdadeira troca entre uma pessoa cheia de experiências e outra que está aprendendo a viver. “Tem horas que eu olho e falo assim: ‘será que filho é essa coisa de posse mesmo?’. Porque tem horas que eu olho e vejo que eu tenho uma parceirona. Uma parceira que eu viro e falo: ‘olha, hoje eu vou fazer o almoço, então, você vai lavar a louça’. […] Ela é minha filha, claro, eu estou aqui, vou defendê-la, acho que tem o instinto de mãe que é impossível de sair. Mas a cada dia que passa eu fico pensando que eu só estou ensinando um ser humano a viver. Uma mulher a viver”.

A educação sexual também é uma preocupação de Vaneza como mãe. Além de falar sobre prevenção, a atriz também faz questão de ensinar à filha que é ela quem deve decidir as experiências que quer ter – seja com homens ou mulheres. Vaneza acredita que é dessa forma que Emily conseguirá ter tudo bem resolvido dentro dela e, com isso, sofrer menos com o julgamento das pessoas. 

Filho também ensina!

Mesmo com a tarefa árdua de ensinar, a atriz também tem compreendido as circunstâncias de uma forma diferente com a filha. “O principal que eu tenho aprendido é relembrar como eu comecei a ver o mundo para além da casa dos meus pais, para além do mundo que a minha família colocava de fato”, enfatiza Vaneza ao comparar que descobriu como andar de metrô apenas aos 18 anos, enquanto Emily já sabe fazer isso perfeitamente aos 13. 

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Feministas feias Obrigada @w.eliodorio vc e sua equipe foram maravilhosos #blackwoman #blackpeople

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Uma educação diferente da qual recebeu

Entre tantos ensinamentos que a atriz busca passar para Emily, o principal deles é a educação emocional. Com essa preocupação, o foco dela é mostrar para a filha que as emoções não são ruins, mesmo quando elas envolvem choro, frustração e até mesmo raiva.

O que eu tento com a minha filha é [dizer] que ela poder chorar, sabe? Já teve situações dela ficar muito triste e eu, tipo, ‘Ok, agora a gente vai ficar aqui só chorando por causa disso’. E depois a gente senta e conversa e, às vezes, ela mesma passa a refletir”. 

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