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Vale a pena falar sobre anorexia e bulimia em filmes e séries?

Estrelado por Lily Collins, “To the Bone” mostra como é viver com e tratar a anorexia; especialistas têm ressalvas quanto a esse tipo de produção

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 20 jan 2020, 10h21 - Publicado em 14 jul 2017, 21h50

A atriz Lily Collins sofreu de anorexia e bulimia na adolescência e passou por todas as etapas necessárias de um tratamento multidisciplinar para se curar. Ellen, sua personagem de “To the Bone” – que em português ganhou o título “O Mínimo para Viver” –, filme da Netflix que estreou nesta sexta-feira (14), é anoréxica e, depois de sofrer silenciosamente todos os problemas que a doença traz, é submetida a um tratamento em uma clínica não muito convencional. Seu médico, William Beckham, é vivido por Keanu Reeves.

Esta não é a primeira vez que a ficção trata de transtornos alimentares, obviamente.

Em “Glee”, Marley Rose (Melissa Benoist) desenvolveu bulimia e chegou a fazer o coral ser desclassificado, porque desmaiou de fraqueza durante uma apresentação. As novelas brasileiras também já entraram no assunto: em “Páginas da Vida”, a bailarina Giselle (Pérola Faria) sofreu de anorexia e de bulimia, e em “Rebelde”, Carla (Mel Fronckowiak) era bulímica.

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Mas será que vale a pena falar sobre transtornos alimentares como anorexia e bulimia em obras de ficção? Contar essas histórias gera mais conscientização ou sugestiona as pessoas? E ainda: quais os cuidados que devem ser tomados ao abordar esse tema?

Abertura para o debate sobre transtornos alimentares

A princípio, não é de todo ruim abordar os transtornos alimentares em filmes, séries e novelas. “Eles quebram estigmas e preconceitos”, diz Sabrina Gonzalez, psicóloga e psicoterapeuta, especialista em psicologia clínica com foco em transtornos alimentares e obesidade. “Também são bons para acabar com aquela impressão de que quem sofre dos transtornos é uma ‘coitadinha’, uma ‘vítima’, porque não é disso que essas pessoas precisam”.

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Monica Vianna, psicóloga e pesquisadora do CETTAO – Centro de Estudo e Tratamento de Transtornos Alimentares e Obesidade da Santa Casa de Misericórdia do Rio e autora do livro “Da Geladeira ao Divã – A Psicanálise da Compulsão Alimentar”, inicialmente também vê com bons olhos a questão. “O primeiro pensamento é que é bom abrir o assunto para o debate. A anorexia é uma doença psiquiátrica que pode matar, fala-se pouco sobre ela”, afirma, para logo fazer uma ressalva: “Mas, na verdade, o efeito real é mais negativo do que positivo”.

(Netflix/Divulgação)

Estímulo em vez de prevenção

De acordo com Monica, pesquisas e a análise clínica indicam que, depois de um tempo da aparição de personagens com transtornos alimentares na TV ou no cinema, começam a surgir nos consultórios casos de pacientes que desenvolveram os mesmos problemas, e por causa do que viram na ficção. “Em vez de prevenir, os filmes, as novelas e as séries acabam estimulando. Muitas pessoas veem a personagem lidando com aquilo, se espelham, e copiam”, conta.

Sabrina explica que isso ocorre porque são problemas psiquiátricos: “Quem tem predisposição a transtornos alimentares é mais vulnerável, tem o ego e a autoestima frágeis, dificuldade para se expressar e identidade fugaz. Isso quer dizer que essa espectadora tem mais chances de se identificar com a atriz, achar o máximo, não refletir e partir para a imitação”.

Trocando em miúdos, por melhor que seja a intenção dos roteiristas e diretores, por mais que as atrizes façam laboratórios e tenham acompanhamento médico para viver as personagens (Lily Collins fez emagrecimento assistido para dar veracidade às mudanças no corpo de Ellen), a forma como isso é recebido do outro lado da tela tende a ser prejudicial justamente para o público que gostariam que enxergasse a história como um alerta. “Não há como eles preverem a forma como o trabalho será absorvido, especialmente quando a pessoa só precisa de um gatilho para desenvolver tudo isso”, observa Sabrina.

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E para quem já teve ou está tratando um transtorno alimentar?

Assistir a um filme como “To the Bone” pode ser mero entretenimento ou o suficiente para uma recaída de quem já teve anorexia ou bulimia.

“Tudo depende do estágio em que ela estiver em relação à doença”, afirma Monica. “Se ela já passou pelo tratamento completo e não teve remissões, é mais provável que faça uma leitura distanciada da história. Mas se ela ainda tiver uma relação disfuncional com a comida e não tiver trabalhado isso completamente, pode ser que uma história como essa mexa com ela e ela retroceda”.

Sabrina complementa que estar em tratamento não significa compreender pelo que está passando, e aí também mora um perigo. “Ao ver o filme, a paciente pode ter uma recaída”, alerta. Nesse caso, a psicóloga recomenda que os profissionais envolvidos no tratamento acompanhem as impressões sobre a história, conversem sobre os impactos que ela possa ter sentido.

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Um outro público pode se beneficiar de um filme sobre anorexia

Embora não sejam o público-alvo desse tipo de produção, mães, pais e professores são quem mais pode se beneficiar deles, graças à riqueza de detalhes da construção das personagens. É o que nota Monica: “Muitas vezes, quem está ao redor da pessoa com transtorno alimentar não tem ideia dos sinais que possam indicar que ela precisa de ajuda. Depois de ver um filme, eles podem identificar comportamentos e trejeitos que denunciem a anorexia e a bulimia”.

Prevenção de transtornos alimentares

No roteiro de filmes, séries ou novelas, a melhor maneira de pelo menos tentar passar a mensagem de que transtornos alimentares são prejudiciais à saúde e de que se deve lutar contra eles é pesando a mão mesmo. “Tem que mostrar a parte negativa de forma impactante, deixar claro que aquilo causa uma fraqueza física real, mesmo que a própria personagem não perceba isso”, opina Sabrina.

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Monica é da opinião de que a prevenção a doenças como a anorexia e a bulimia precisa, além de uma abordagem multidisciplinar para cuidar do físico e do mental, tocar no sociocultural, falando principalmente sobre positividade do corpo. “As pessoas precisam ver cada vez mais a diversidade dos corpos, entender a funcionalidade do corpo e que não precisam ser magras para ser felizes. Cada vez mais, deve-se valorizar a relação saudável com a alimentação e com todos os formatos de corpos”, finaliza.

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