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Eletrochoques: eles voltaram, mas não como antigamente. Entenda

A técnica é a chamada eletroconvulsoterapia, praticada em ambiente hospitalar e com anestesia. Conheça antes de julgar.

Por Daniella Grinbergas
Atualizado em 15 jan 2020, 22h53 - Publicado em 7 mar 2019, 15h18

Não tem jeito, é só falar em eletrochoque pra gente se assustar, lembrar de tortura e negar veementemente a prática. Mas é preciso refletir sobre isso! “A palavra eletrochoque é carregada de preconceito e estigma, mas a técnica se aperfeiçoou e salva vidas”, afirma Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL), diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

A prática mudou muito, assim como a denominação, que usaremos nesta matéria: eletroconvulsoterapia (ECT).

Para começar, vale dizer que tudo é muito bem estudado e regulamentado. A ECT tem resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que determina em quais casos pode ser aplicada, a forma e o local.

“O procedimento é feito em sala cirúrgica, com anestesia e medicação específica que não permite memórias do momento da aplicação”, garante Mario Louzã, médico psiquiatra, doutor em medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha, e membro do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

E vale deixar claro que a ECT dificilmente será a primeira opção terapêutica, a não ser que haja um histórico de tentativa de suicídio. “Isso porque os antidepressivos levam de duas a quatro semanas, até oito, para fazer efeito, enquanto a ECT tem efeito muito rápido. Assim, se assegura a vida do paciente”, esclarece o diretor da ABP.

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Como é aplicada hoje?

A ECT é feita com anestesia e só pode ser realizada em ambiente hospitalar, seguindo um protocolo específico que garante a segurança do paciente. Há também o acompanhamento com monitoramento com eletrocardiograma e eletroencefalograma.

“O paciente se interna em jejum, recebe anestesia e uma analgesia. A medicação impede manifestações musculares da convulsão provocada pela descarga elétrica, ou seja, não há risco do paciente se machucar. A convulsão (que é a eficácia do tratamento) é notada apenas no monitor”, afirma o dr. Mario.

Todo o procedimento, desde a chegada do paciente até a liberação, dura em média 30 minutos. Se tudo correr bem, ele volta pra casa no mesmo dia e pode retomar suas atividades normalmente.

A periodicidade do tratamento é avaliada individualmente, levando em consideração o histórico do paciente e o diagnóstico, mas geralmente a ECT é prescrita entre uma e três vezes por semana, dependendo do quadro. Depois, ele continua medicado e deve seguir com seu acompanhamento médico.

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ECT tem base científica? Funciona mesmo?

Diversos estudos têm sido feitos pelo mundo, a maioria apontando para os benefícios. “Uma pesquisa rápida no PubMed (banco de dados de publicações científicas médicas) com o termo “electroconvulsive therapy” fornece 14.840 artigos científicos”, aponta o dr. Moacyr Alexandro Rosa fundador e diretor do Instituto de Psiquiatria Avançada em Neuroestimulação (IPAN).

O que os estudos comprovam é que a ECT ajuda a regular a liberação dos neurotransmissores responsáveis pela transmissão de impulsos de informações de um neurônio para o outro. “Seu resultado químico é muito similar ao proporcionado pelos antidepressivos, porém com resultados muito mais rápidos e efetividade muito maior”, garante o diretor da ABP.

O dr. Moacyr, que aplica a técnica, comenta sobre pacientes que estavam internados em estado gravíssimo, com alimentação por sonda, mas que com algumas sessões de ECT voltaram à vida normal. “Também temos casos de pacientes que tentaram suicídio dias seguidos, com duas ou três tentativas por dia, e na segunda sessão de ECT já não tinham mais pensamentos suicidas”, completa o dr. Mario.

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Quando é indicada?

Principalmente em casos de depressão grave, que pode culminar em suicídio, e esquizofrenias graves e não responsivas, e quadros psiquiátricos que não respondem aos medicamentos.

Para se ter uma ideia da segurança do tratamento, ele é indicado até para mulheres grávidas, já que é uma alternativa ao uso de medicamentos que poderiam fazer mal à saúde do bebê.

 

Por que caiu em desuso e voltou?

A técnica era largamente usada antes do surgimento das medicações, portanto, caiu em desuso com a chegada dos antidepressivos e os antipsicóticos.

“As drogas surgiram como uma solução menos impressionante (como era a ECT antigamente) para os transtornos mentais. Contudo, as limitações das medicações também foram a principal causa do retorno da ECT. Casos que não melhoraram, excesso de efeitos colaterais e demora para fazer efeito são exemplos de limitações. Nestas situações a ECT é superior”, indica o dr. Moacyr.

 

Quem faz?

O maior centro de referência de ETC do país é o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IPQ /HC-FMUSP). E há outros institutos especializados autorizados, como o IPAN.

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“Há uma regulamentação do Conselho Federal de Medicina que especifica tudo: como deve ser montada a sala, a obrigatoriedade da presença de um anestesista, do psiquiatra, da aparelhagem para intervenções de urgência… Essas mudanças trouxeram a ECT para uma posição importante no tratamento de alguns casos psiquiátricos”, aponta o dr. Mario.

 

Traumas da história

Infelizmente, a história não foi justa com a ECT. Sabemos que os eletrochoques foram usados sem nenhum critério, de forma punitiva, como tortura ou mesmo em manicômios desprovidos de cautela. “A ideia de choques na cabeça também assombra o imaginário popular, apesar da medicina realizar procedimentos mais invasivos”, aponta o dr. Moacyr.

Mas a realidade da terapia hoje é completamente diferente da forma como foi usada. “A luta que vemos hoje contra a ECT é ideológica e não científica”, defende o dr. Mario.

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Polêmica atual

Em fevereiro deste ano, o governo brasileiro começou a estudar uma proposta de financiamento para compra de equipamentos para implementar o tratamento de eletroconvulsoterapia pelo SUS, mas isso gerou uma série de discussões. Não pela eficácia do tratamento, mas pela possibilidade de despreparo do nosso sistema de saúde para o uso dessa técnica. Até o momento, o governo ainda está estudando a compra dos equipamentos.

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