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Era Síndrome do Pânico, mas pensei que fosse um encosto

Precisei passar por um psiquiatra para entender que eu não estava sendo perseguida por um espírito do mal

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 03h31 - Publicado em 15 mar 2010, 21h00

As crises se tornaram frequentes. Eu chorava e perguntava a Deus por que aquilo estava acontecendo comigo
Foto: arquivo pessoal

Eu me sentia possuída. Parecia que um espírito sugava a minha mente e arrancava todas as minhas energias. Ele queria me dominar! Eu lutava para que ele não entrasse no meu corpo. Se ele me vencesse, eu viraria um monstro. Meu corpo sentia a luta. E vinham ondas de calor, o coração disparava forte, eu perdia o fôlego de tão sufocada. Era como se alguém me estrangulasse. Eu tremia inteira. E doía, doía tudo, principalmente a cabeça. Aquilo era um encosto, eu sabia!

Meu primo achava que eu era médium e tentava a todo custo me levar para a umbanda. ”Você precisa se abrir para a religião”, ele dizia. E quanto mais eu o ouvia, mais apavorada ficava. Chegava a suar frio… Eu tinha medo, muito medo de mexer com tudo isso. Desde criança tenho pavor de espíritos. Lá pelos 7 anos vi pessoas em transe durante um ritual umbandista e me apavorei. Nunca superei esse trauma.

Quando adolescente, estudei o kardecismo para tentar entender o mundo espiritual e perder o medo. Mas não adiantou. Até que em abril de 2004 esse medo começou a tomar conta do meu corpo e da minha cabeça. Eu achava que ia ficar louca ou morrer do coração.

Não tinha paz nem quando eu dormia. Nos pesadelos, era como se eu estivesse dentro da novela A Viagem, que passou em 1994 na Globo Eu não raciocinava. Passava a mão na chave de casa e saía correndo. Ficava andando sem direção até ”aquilo” passar. Minha família tinha que me procurar pelo bairro. Uma vez me encontraram no meio da rua. Gritaram para eu sair dali. Eu só respondia: ”Não encosta em mim!”. Eu poderia ter morrido, porque não via carro, ônibus, nada.

Tinha medo de estar possuída

Sofrendo, iniciei uma busca desesperada por ajuda. Pedi para um pastor evangélico rezar por mim e passei a frequentar uma igreja católica. Ao mesmo tempo, fui a médicos de diferentes especialidades. Toda hora eu achava que estava com uma doença diferente: labirintite, pressão alta, problema no coração etc. Os resultados dos exames eram sempre normais.

Os médicos diziam que o meu problema era emocional, mas eu rejeitava a ideia de estar com um transtorno psicológico. Naquela época eu achava que isso era o mesmo que estar louca. No fundo, eu realmente morria de medo de estar possuída e não abria o jogo com ninguém. Só de pensar nisso vinha uma nova crise. E depois, chorando, eu perguntava pra Deus: ”O que está acontecendo comigo? Quando voltarei a ter paz?”. 

Eu estava decidida a ser exorcizada

Só me sentia segura dentro de casa. Dormia com a TV ligada e com a porta do quarto aberta, porque a ideia de ficar sozinha, no silêncio, me assustava. Me afastei de amigos e familiares porque não queria dar explicações sobre o que eu estava sentindo. Aparecia nos aniversários de parentes por obrigação e me retirava o mais rápido possível. No banco onde eu trabalhava, fazia de tudo para me controlar ao máximo. Mas não deu.

Depois de um ano sofrendo, tive uma crise no trabalho. Fui levada para um hospital. De lá, telefonei para uma vizinha. Ela é psicóloga. Mas também é vidente. Falei para a Márcia que estava decidida a fazer um exorcismo, para tirar aquele encosto. Minha amiga, no entanto, foi lúcida. Ela me convenceu a procurar um psiquiatra e disse uma frase que nunca vou esquecer: ”É você quem controla a sua mente”.

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Fiquei aliviada quando o psiquiatra me deu o diagnóstico de Síndrome do Pânico. Ao entender a doença, me acalmei (leia no quadro acima as características principais das crises de pânico). Descobri que tudo aquilo que eu sentia tinha uma explicação, e que, se me tratasse, poderia ter uma vida normal, sem crises, sem fantasmas. 

Demissão trouxe pesadelo de volta

Fiz tudo o que o médico mandou durante um ano e meio de tratamento. Achei que estava curada quando abandonei os remédios e a terapia. Mas não é assim que a doença funciona. É preciso controlar a Síndrome do Pânico a vida toda.

Em maio do ano passado, fui demitida do trabalho e voltei a ter crises. Na pior delas, perdi o ar e senti meu corpo pegando fogo do útero até a boca. No mesmo dia, voltei para o consultório médico. Recomecei a tomar remédios e melhorei. Ainda assim, hoje tenho em média uma crise a cada duas semanas. Entrei num grupo de apoio no Orkut formado por pessoas que sofrem da doença. A comunidade chama-se ”Síndrome do Pânico/Alvo da Moda” e é um espaço para compartilhar experiências.

Pode parecer triste o fato de eu ainda ter crises, mas é uma vitória aceitar a doença e cuidar dela como um caso de saúde. Hoje, quando tenho um episódio de pânico, consigo respirar fundo, alcançar o calmante na minha bolsa e me controlar em instantes. Também é uma conquista voltar para a psicoterapia, agora que tenho um novo emprego. Tudo tende a melhorar. Tenho esperança e agora uso minha fé para o meu bem.

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