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“A meditação zen budista ajuda a agir em relação à depressão”

Em entrevista, Monja Coen fala sobre como a prática da meditação pode ser útil para a saúde mental

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 17 jan 2020, 14h24 - Publicado em 10 out 2017, 22h26

“Eu já tive depressão. Muita gente já teve e tem, é uma doença comum”. Monja Coen, um dos principais nomes do budismo brasileiro, não tem problema nenhum para unir sua experiência de vida com a mensagem que passa pelo budismo. E foi justamente assim que nasceu seu novo livro, “O Sofrimento É Opcional – Como o Zen Budismo Pode Ajudar a Lidar com a Depressão” (Bella Editora). “Me convidaram para escrevê-lo. Topei, li muitos livros, conversei com muitos especialistas e escrevi”, conta.

A pesquisa e as entrevistas têm a ver com uma parte do passado da Monja. Antes de decidir se dedicar integralmente à religião, Cláudia Dias Baptista de Sousa (seu nome de batismo) foi repórter de um jornal diário de São Paulo por três anos. Naquela época, já era mãe de Fábia, que teve aos 17 anos – ela havia casado com o pai da garota aos 14.

Também naquele tempo houve excesso com álcool, tentativa de suicídio, acidente feio de moto. Para dar um tempo na loucura que estava a vida, saiu do jornal e foi para Londres para estudar inglês. Chegando lá, se envolveu com um pessoal que curtia LSD e haxixe e achou boa a ideia de ir com o namorado vender LSD na Suécia. Eles obviamente foram presos ao entrar no país escandinavo, e então Cláudia teve seu primeiro contato com a meditação: nos quase seis meses em que ficou presa, descobriu o poder do “om” (o mantra).

Voltou ao Brasil, se aproximou dos primos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, dos Mutantes, e passou a conviver mais com o pessoal do rock. Assim conheceu um membro da equipe de Alice Cooper e resolveu viver com ele nos EUA. Foi roadie de Cooper e de David Bowie. Quando o casamento acabou, fez um retiro espiritual de uma semana em Los Angeles e, fascinada, resolveu virar monja. A essa altura, ela estava com 36 anos de idade.

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Monja Coen: há 34 anos, ela decidiu largar a vida de excessos e se dedicar integralmente ao budismo (Divulgação/Divulgação)

Hoje, 34 anos depois, Monja Coen ajuda pessoas que procuram no budismo um caminho para lidar melhor com os problemas do cotidiano e da saúde mental. Em seu templo, em São Paulo, passa adiante os preceitos da meditação zen budista. Ela conversou com o MdeMulher sobre como a prática da meditação ajuda a agir em relação à depressão.

O princípio de seu livro é que a meditação pode ajudar quem tem depressão. De que forma?

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A primeira coisa para uma pessoa poder se tratar quando está com depressão é perceber o que está acontecendo com ela. Quando ela consegue ter a consciência do que está passando, a meditação zen budista ajuda a agir em relação à depressão. Não a reagir: a agir. A lidar com o estado de letargia que a depressão traz.

Como funciona na prática?

A meditação envolve um ritual com muitos detalhes. Tem a posição certa para sentar, posicionar os pés, as mãos, a coluna. É preciso desenvolver uma percepção muito grande, e isso pode ser levado para a vida, para o dia a dia de quem está com depressão. Naquele dia em que a pessoa não quer sair da cama, ela inicia um ritual de meditar e então sair da cama em direção ao banheiro. No banheiro, um ritual de escovar os dentes e lavar o rosto, e assim por diante. O estado depressivo pode estar lá, mas vai ficando cada vez mais no plano de fundo. A atenção que a prática exige ajuda a elaborar métodos para agir contra a depressão nos pequenos detalhes.

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Qual é a dica para começar a meditar em casa?

Prestar atenção ao corpo: primeiro, sentar com uma postura correta, com alongamento da coluna, pernas cruzadas. Repetir três vezes um exercício de respiração com inspiração passiva pelo nariz e expiração ativa pela boca. Em seguida, posicionar a língua no céu da boca e fazer a respiração consciente, pelo nariz, prestando atenção no ar que entra e que sai, nos movimentos do corpo. Neste ponto, já começou a meditação.

O que é diferente quando a meditação zen budista é guiada?

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A gente treina a pessoa a ver como os outros são, como a vida é, a não fantasiar. A despertar para a realidade que a cerca, porque isso evitará frustrações. As frustrações que levam à depressão são causadas principalmente por expectativas que colocamos nas situações que vivemos. Quando elas não se concretizam, pode vir um sentimento de que tudo é cinza, nada vale a pena. Mas é o contrário: a cada desilusão, estamos mais próximos da verdade. É importante essa pessoa entender que precisa estar ativa no mundo, precisa agir.

Em seu novo livro, Monja Coen explica a relação entre a meditação zen budista e o tratamento da depressão (Bella Editora/Divulgação)

O zen budismo pratica uma meditação pé no chão, então.

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Muito. O zen é uma mística realista. O que está acontecendo ao redor? Como está a saúde física, mental e social? Estou bem? Temos que compreender que a dor existe, mas o sofrimento é opcional. Quem alimenta sentimentos de ódio, raiva e vingança sofre, porque nem consegue respirar direito. Temos que treinar e praticar a compaixão, nos libertar do que já passou. Ter a consciência do próprio corpo e da respiração, de como conduzimos nossas vidas. Tudo isso durante a meditação.

Além dos rituais do dia a dia que deixam a depressão no plano de fundo, é possível afastar a depressão conscientemente pelo zen budismo?

Sem dúvida! A percepção de si também envolve analisarmos os aspectos do dia a dia que podem interagir com a depressão. É importante notar como está se alimentando, a que está assistindo na TV. Quem está com depressão não deve ficar vendo séries e filmes tristes, porque isso piora o quadro. Eu mesma comecei a ficar mal e tristonha quando estava pesquisando para o livro, tratando demais do assunto. Até Buda teve depressão e foi buscar respostas na ioga e na meditação. Precisamos sempre criar situações que impeçam que nos afundemos. Tudo está conectado.

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